terça-feira, 27 de outubro de 2015

Primavera



Eis eu aqui! Em meu porto
seguro. Preso. Eu mesmo!
Não movimento uma, única
palha. Estou confortável, e
isso basta. Para o dia de hoje!
Assim passam lá fora. Flores
perdem o brilho e o encanto.
Aves encontram nova aurora.
Eu na arte do desencontro
Meu conforto é assim, todos
sabem de menos de mim...
E as vezes me atrevo. Fugir
(Cair fora de mim mesmo!)
Vida minha, que tanto falo,
E tão pouco faço. Quero o ar,
quente de um largo abraço...
Contar pro mundo minhas alegrias
Enfrentar as minhas quimeras
E abrir a porta, em uma palavra
 E lhe recitar, uma Primavera!


(Iberê Martí)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Ao dia do poeta


Um abraço a quem
nunca se cansa,
apaixona se todos os dias 
e ainda canta.
Um abraço a quem
assina versos no lugar do nome,
e vive em estrofes...
Um abraço a quem
não é só gente!
Descreve sonhos
e não mente.
Um abraço a quem
entende a sintonia
e se faz poesia.


(J. Vaz)

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Borboleta


E devagar
A gente aprende
enxerga no outro,
Os encantamentos
Mais ocultos...
(Fingiam extintos!?)


É de vagar
A gente esquece
As horas que passam
O sorriso amanhece,
com sabor de poesia.
Estrela me resplandece


E de vagar
A gente encontra
Um olhar de magia.
Cílios de devaneio
Sonho ou fantasia...
Viagem transcendental!


É devagar
A gente se (re)conhece,
no oceano profundo
O espelho apetece.
A calma indubitável,
Alma de borboleta!



(Iberê Martí) 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Depois de cinzas

O céu entumecido ofusca
a pedreira morta. Minha visão!
Calor e fumaça, me embriago.
Nenhuma árvore plantada...



Lento o inferno foi implantado
na Terra. Montanhas em chamas.
Vidas secas. Devaneios e pessoas
correm. Fotografias assustadas!


As vozes videntes incomodam
(Mudos aos avisos necessários)
Os homens sérios lavam carros e,
Ignoram as mulheres e o amor.


O computador evitou o contato.
Dos poderosos com os pobres,
Fedorentos suores que erguem
- as muralhas e bastilhas de medo.



Meu último ato, terei eu coragem?
É isso que a vida quer, ousadia...
Calar silêncio, derradeira mensagem:
- sorte tens, que as cinzam não falam!




(Iberê Martí) 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Invencionática de Manoel



O menino cansou do mundo. Quis construir o seu mundo.
Resolveu se embrenhar na arte de invencionática.
Inventou primeiro, “que tudo que não inventasse é falso”.
Inventou o desestado das coisas e das causas. (Parafernálias ao deserto!)
Logo o ouro se tornou nome de praga. Dólar virou nome de mato.
Mercado capitalizou em circo. Palhaço foi pra bolsa de valor.
Petróleo virou xingamento. Latifúndio se cemitérializou.
Banco só existia nas praças. E tudo é de graça, até o amor.
As armas foram derretidas. E as tendas delas viraram escolas.
A espiritualidade rompeu-se da dor. E caridade virou adjetivo comum.
A violência foi erradica. A fome abolida. Alegria ganhou vida...
Analfabetismo prioridade, problema a ser tratado pela medicina.
(Com ignorãça não se brinca. Ignorãça não se é de brinquedo)
Alimento um direito sagrado. Educação tornou se compromisso de Estado.
O medo se desconfigurou. E valor das coisas passou a ser medido em sorrisos.
(As crianças, deste modo, se transformaram em professores!)
Ele foi caminhando e inventado. Inventando e caminhando...
Chegou ao absurdo, ao cumulo de transformar poeta em imperador.
(Este [poeta] de pronto recusou. Disse a ele, ilusão é antiliberdade).
Dizem que se aluou [o menino]. Foi morar em marte. Criou seu próprio universo.
“E aqueles que não conseguem ouvir a canção”, chamam ele de Andarilho!


(Iberê Martí)