Venho através
deste texto discordar totalmente das tuas idéias, propagadas em seu texto
intitulado “Coisas Sobrenaturais”.
Talvez em sua
terra natal as lendas já tenham caído no esquecimento. As estórias francesas,
que se misturam à história francesa, é recheada de casos – verídicos ou não –
sobre cavaleiros, castelos, reis e reinos de glória, napoleões, camponeses,
Asterix, revoluções. Não creio que teu povo tenha esquecido disso. Creio que
você, este ser assexuado, composto apenas pelo lado racional de um ser, tenha
se perdido demais nos fatores causa/conseqüência, explicações para tudo, forma
científica de ver as coisas, vamos logo montar experimentações e avaliar
hipóteses... enfim, a academia (universidade) te fez perder toda a
sensibilidade para lidar com aquilo que não vem de revistas científicas.
Todas as vezes
que olho para a lua, cheia, branca, linda e mística, nascendo atrás das
montanhas e iluminando meus caminhos nas noites escuras, vejo a luta eterna
entre o grande cavaleiro São Jorge, contra o temível Dragão. Se você disser que
é impossível, lá não tem atmosfera, o homem já foi lá e andou naquele solo, eu
digo que é mentira. E afirmo isso com a certeza que você nunca olhou pra Lua
Cheia. Não como se deve.
Toda vez que eu
reparo em uma planta vejo como é incrível que, sabe-se lá porque, uma semente
foi parar ali; de uma coisa tão pequena, apenas com ar, água e um pouco de
coisas da terra, ela pode se tornar em tão bela e grande árvore. Grande o
suficiente para servir de repouso para os pássaros, que devolvem a gentileza
com o mais belo canto.
Todas as vezes
que vejo um rodamoinho levantando poeira no terreiro, na roça, sei bem o que é.
Preparo já minha garrafa, com cruz na rolha... você não entenderia. Para você, a mula sem cabeça, que solta fogo
pelas ventas, é um paradoxo. O boto que você vê nadando em um rio é diferente
do que eu vejo. E se você não acredita
em duendes, gnomos, fadas e principalmente discos voadores e seres
extraterrestres, é óbvio que você nunca esteve em São Thomé das Letras.
E se você não
viveu nada disso e acha que perdeu a infância, peça a São Longuinho para
encontrá-la.
Você nunca
entenderá, pois é apenas o lado mais racional daquele ser que vos escreve. Você
saltou para uma realidade tão imaginária quanto a dos sacis, fadas, ET’s e
seres da floresta. Jamille, você saltou da minha mente num momento em que a
sociedade cobra uma inteligência hipócrita, dos falsos sábios. Você veio a
corrigir racionalmente estes desvios numa época tão obscura e falso-iluminada.
Você é grande e necessária. Mas alto lá! Não desafie a imaginação do povo
brasileiro, contrariando aquele que te criou e que te mantém. Você escreve
pelas mãos dele, e a ele deve respeito. Não afronte o lado mais infantil,
encantado e místico de teu próprio criador. A criatura não vai engolir o
criador.
Uma poesia
daquele mesmo teu amigo que conhece o mundo caminhando por ele:
Sei que você é
doutora, mas largue a calculadora,o que aprendeu estava errado
Observe bem cada
planta, onde o pássaro canta, pensa no seu passado
Verdadeira
Semente, nem crente nem descrente, porque é assim que deve ser
Olha o milagre
da candeia, na rocha que se semeia, sem ninguém pra semear
Cresce no sol e
no vento, real ou só pensamento, ninguém pra imaginar
Olha a
tartaruga, bicho indefeso só casco e ruga, porém uma vida milenar
Se você não for
caipira, a floresta chama o curupira, para te dar uma lição
A não duvidar do
nosso Brasil, coisas reais que o povo viu, da nossa imaginação
O poder do nosso
folclore, para que nosso povo não chore, diante da desilusão
O saci existe e
é real, se você não tem vara de pau, a garrafa com a rolha exata
Verá o mundo em
preto e branco, mais triste e mais franco, de terno e gravata
Mas esse mundo
de alegria, esta ilha da fantasia, também pode ter você
(Stéphano Diniz)