quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Os ensinamentos e o orvalho

Hoje pousou em mim o orvalho de outra possibilidade
Um destes pássaros que nos rodeiam a ensinar, diariamente
Nada aconteceu diferente, entretanto igualmente único
Tudo que acontece, em minúcias e detalhes

Por instante me esqueci do passado
É iniciei a certeza de um novo caminho, incerto
- pra terminar amanhã, hoje ou ontem -
Ao fim o recomeço, uma nova casa, um novo adereço
Endereçado pra vida, que acumula e evapora
Leve voa pra outro desafio infinito, as experiências
Foi a primeira vez que avistei a cena orvalho transmutar em ave
Anjo-da-guarda molhado em pura inocência!

(Iberê Martí)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O passado de um pássaro


Ontem pousou em meu ombro o sorriso de um pássaro
Senti o sussurro dos anjos ao pé do ouvido
Observei pássaros que plainam voos transeunte
Vestígio dos tempos, companheiros dos poetas
Pássaro intuição perspicaz: mensageiro ou quimera
Rearranje as penas em outras maneiras Andarilho
Desvendar que olhos camuflam, panorama óbvio
Afinco vigorado em pupilas miragem, improviso
Quem não era, quem nunca foi, nunca será

Entenderão??? Criaturas...
Pássaro alvura transcendental ao poeta
Poetas estádios engaiolados de Pássaros, prisioneiros
Os pássaros são Poetas que livres de sonhos criaram asas!

(Iberê Martí)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Eita Lua


Eita lua menina
Eita lua que faz trova
Eita lua que ilumina
Eita lua que faz cova
É a lua dos brilhantes

Eita lua que castiga
Eita lua fascinante
Eita lua que instiga´
Eita lua que é Minguante
É a lua dos pensantes

Eita lua que respira
Eita lua que é rede
Eita lua que inspira
Eita lua que tem sede
É a lua, Lua Nova

Eita lua que ascende
Eita lua de rapina
Eita lua que entende
Eita lua que fascina
É a lua, Lua Crescente

Eita lua viajante
Eita lua que incendeia
Eita lua que é distante

Eita lua, Lua Cheia
É a lua dos amantes

Eita lua por sol
Eita lua peregrina
Eita lua anzol
Eita lua que ensina
É a casa da rotina

(Iberê Martí)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pernas de Andarilho


Pernas de andarilho
Paixão de cancioneiro
Asas de passarinho
Coração de caminhoneiro
Que passa dia inteiro
Andando pelos caminhos

Escrito num pergaminho
Ou escrito nas estrelas
Que devo seguir sozinho
Pelas estradas mais belas
Ou olhando pelas janelas
Um gigante ou um moinho

Velejando num barco a vela
Em busca de novo horizonte
Terra a vista, pare a caravela
Emerge um inédito monte
Como que um artista defronte
Concluindo a arte numa tela
Ou como a canção da sereia
Presa no infinito oceano
Que busca nos grãos de areia
A liberdade de um cigano
Que por desejo ou desengano
Pelo mundo sua vida vagueia



(Stéphano Diniz Ridolfi)

Fotoalquimia


Alquimistas perturbados
Pétalas e flores
Senescência
Primavera aproxima
Seriema rosa desavisada
Reclama o vazio que é o amor
Um poeta desnorteado
Dentro do peito
Amargurado
A resposta pousou,
Uma mariposa
Partiu, levantou voo
Pra ancorar outro
Silêncio!


(Iberê Martí)

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Quiescentes Perseidas


Repousa os nervos
Batem
Veias
Secreta
Peçonha

Quietos ouvidos
O suspiro
Assusta
Goela
Ruído ausente

Quiescente em paz
Harmonia
Honrosa
Acompanha
O Silêncio

Dormência latente
Astros
Conceituam
Sigiloso
Óbice primor

Perseidas,
Paleio maior, que o infinito!


(Iberê Martí)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Tagarela

Estava tagarela dos ouvidos
Feito cheiro de
Pequi
Estava pedindo ao silêncio
Uma dose pro ouvido,
Ouvir
Estava mulambo de tímpano
Impregna zombaria
Apaguei a luz

Zefini!


(Iberê Martí)

domingo, 11 de agosto de 2013

Alcalóides


Alcalinas substâncias heterocíclicas
Pragmaticamente nitrogenadas
Em anéis de dentro e fora
Máquina mortífera, castigo dos deuses
Suas ideias deliram em potências e bases semelhantes
Trivalente em elétrons livres
Aminoácido e em outras rotas,
Pseudo metabólicas
Ópio divino, cafeína
Estimula o central sistema nervoso
Óxidos e sais sólidos brancos
Em meios ácidos, alucina
Morfina, cocaína, cicuta
Amargo gole, teu gosto: oh, Sócrates
Sintetiza em partes, migram toda planta
E distribui, oferecendo vantagens
Defesa, proteção, reserva e captura
A luz ultra violeta equilíbrio iônico
Analgésico da vida e anestésico de culturas!


(Iberê Martí)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sonhos


Sonhos seres incômodos que invadem o nosso descanso
Atravancando nosso sono com suas fantasias e delírios
Tenho suspeito muito tempo, intrometidos
Que nos provocam com suas perguntas e histórias inacabadas.
Um vez, menino ainda, percebi que os sonhos fazem parte a Novidade
Ou, as vezes, reflexo nossos medos e temores...
Quantos sonharam com áreas do conhecimento a pouco exploradas?
Uma vez mesmo, em sonhos, estive fronte a moléculas e partículas fotoquímicas,
[ainda desconhecidas... flutuei em ligações simples e duplas]
Conversando com alcaloides, flavonoides, taninos e resinas resignadas
Estruturas oxidavam meu universo paralelo como nunca antes visto
És que havia descoberto a fabuloso mundo das partículas interplanetárias
Que nos compõem, essencialmente em óleos sólidos radiativos
Foi num susto, um breve relato que conversei com hidrogênio
[presente no peito, fundo]
Tinha sonhado com uma moça de vista, vestida calafrios
A Moça, mesmo a distância invadiu meus sonhos misteriosamente
Como nunca antes nas terras dos sonhos meus: desbravadora de mares?
Ela apareceu muda no silêncio, pois jamais ouvi sua voz...
[mas estava ali precisamente, Mística: quase bruxa]
Cavalgando passos imprecisos, e vislumbrada com sorrisos simbólicos
Eu como cético em marquise, participava fora,
Do lado avesso, meu próprio Sonho...
Quando acordei, sonâmbulo profundo tomou conta minha alma
És que o sonho havia relatado luz ao que meus olhos fizeram cego
Havia a oportunidade conhecer uma moça diferente, realmente
É escapuliu as minhas mãos, como todos os sonhos, inacabados
Evadiu pra embernar no infinito ares, embrenhar outros, Sonhos!!!


(Iberê Martí)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Receio Olhar


Existe latente em minha alma um receio horrendo
Ao Objeto que olham, os olhos burgueses. Quando capturam...
Nenhum adjetivo suplementa esse olhar por cima
O nariz empinado, o peito estufado, a garganta arredia
A careta face suprema em soberbia. Tudo sabem eles!
Tudo sabem, podem e, um pouco mais...

Prefiro caminhar com olhar das lesmas, dos vermes, vírus e fungos
Dos microrganismos que compõe a Vida em silêncio
E constroem a terra. Sem guerras, livre de arrogância
Prefiro o olhar das crianças, da leveza na infância
Fronte a eterna (re)descoberta. E nossos Sentidos ocultos...!!!


(Iberê Martí)

domingo, 4 de agosto de 2013

Wuá


Nativos em cárcere
Privados da Vida
A ganância mundana
Está fera temida
Ouvidos distintos
Assimilam o perigo
E em desespero
Procuram abrigo
Por certo abraçam
O próprio castigo
Existe a mata e não mata
Mata só, só mata
Vagueia no dialeto
Em impérios menos,
ROMÂNTICOS!


(Iberê Martí)

A Intuição: o Menino e o Poeta

As crianças são criaturas livres para o âmago da descoberta. Ao passinho de seus caminhos vão refazendo a lógica orbital do “conhecimento” adulto. Aquilo que trancafiamos em conceitos e valoramos ao mensurar os primórdios da moral. Mas os pequenos, as crianças, agem de forma simples e sutil. Não carregam eles, ainda, o peso da história, e do acumulo histórico fruto da sociedade. As crianças, livre dessas parafernálias agem apenas por instinto. Sorriem por instinto. Choram por instinto. Sonham por instinto. É acreditem amigos, mesmo livres de asas voam por instinto. Deve ser por este motivo, que um poeta - em determinado espaço e determinado tempo - teria dito: são as Crianças as verdadeiras percussoras do Futuro.

Eu mesmo, certa vez, conheci um menino. Na real, não conheci, (re)encontrei. Havia perdido ele a muito tempo, pro Tempo, nas convenções mundo a fora. Acreditem amigos, esse menino sem perceber, agia e sonhava como se o impossível fosse apenas uma palavra, e jamais uma impossibilidade. Acreditava o menino, que poderia criar um dialeto próprio e inventar seres que o praticavam. Acreditava que poderia atravessar o centro da terra com as mãos. Acreditava que atrás do infinito, do céu, era onde os anjos moravam ou talvez se escondessem. Acreditava que as nuvens eram feitas de algodão-doce, e que a neve é quando as nuvens caem adocicando a secura do chão. Certa vez mesmo, ao conhecer o teatro de fantoches acreditou piamente que havia descoberto o segredo dos pássaros. Eram eles, os pássaros, guiados por linhas controladas por um homem carismático e sorridente que se escondia atrás do azul.  

Acreditem amigos, esse menino era mesmo sonhador. Ele era capaz de criar seu universo perfeito, bastava lhe oferecer uma lata de óleo (naquele tempo óleo era armazenado em metal), um pedaço de madeira moldado, um chinelo velho, pedaços de arame e alguns pregos/arrestas, e pronto: havia reinventado o carro. Com um pedaço de papel e linha construía um lagarto semelhante a uma pipa, que logo riscava o colorido do céu.  Era até mesmo caçador de pirilampos. A noite o que incendiava suas ideias eram os vagalumes. Acreditava o menino, e acreditem amigos, pasmem, que os vagalumes carregavam intrínsecos em si o segredo da Luz. É o menino, como os vagalumes, também queria ter iluminação própria.

O menino era muito supersticioso, todo mês de junho, antes mesmo de saber de fotoperíodos e de estimuladores hormonais, rezava pra São Pedro trazer a chuva do caju. E sonhava e tentou por várias vezes construir uma casa na árvore, no pé-de-caju. Acreditava que ali, nas alturas das árvores, estaria mais perto do divino e dos pássaros. Isso sem falar no pião que que ele fazia rodopiar no ar, enfrentando a gravidade ao encontro de sua pequenina mão. O mundo estava ali girando sob a ótica de seu pequenino controle. É assim ele imaginava a terra girando em torno do sol, como um pião constituído entre as leis da gravidade e da física.

É sempre que ouvia nas aulas de geografia que o mundo não para de girar, logo pensava: “dizem que o mundo gira, eu nunca vi ele girando, mas acredito que seja verdade”. É sonhava um dia ir até a lua pra observar a terra girar, acompanhado de São Jorge, obviamente, e seu cavalo e sua lança. É foi acreditando, acreditando, e acreditem amigos. O menino se perdeu no absurdo da descoberta, dos sonhos das utopias. Tempo cruel. Um ator trágico que elimina as possibilidades, que caminha junto ao infinito do nada. E o instinto, a Intuição que elimina com os anos e as horas.

Hoje o menino perambula atônico por uma carcaça morta e mórbida: monótona. Uma carcaça frugívora e careta, e acreditem amigos, Carente. Uma carcaça que mal suporta seu peso, sua solidão e o Além. Uma carcaça que acredita inteligente, e que credita e confia que é a Inteligência a percussora do Futuro. Hora bolas! Exclama dentro do peito o menino. Como assim? Foi a inteligência que fez o homem construir o avião, mas foi o intuito (a intuição) que fez o primeiro pássaro alçar a possibilidade de plainar voo entre os átomos gasosos dos ares.  Foi a inteligência que fez o homem inventar a escrita, mas foi a intuição de caçador que fez observar as pegadas dos bichos e só depois, muito depois então, tentou institivamente gravar e eternizar a memória, as lembranças, os aprendizados nas rochas das cavernas.

É muito mais amigos, pensem como o nosso amigo menino. Foi a inteligência que fez o homem construir o automóvel, mas foi o intuito ao ver pedras redondas rolando sobre montanhas que fez imaginar um dia a roda. Assim como foram os cangurus que levaram a acreditar que seria possível bolsas e sacolas, e demais formas de armazenamento móvel. É foram os castores que ensinaram a fazer barragens, diques. É foram os passaram que espiraram o homem a cantar.

É foi o barulho e os círculos formados no contato de pedras na água que ensinaram sobre a gravidade e sobre o controle instintivo das melodias. Foram as corujas e as cobras que ensinaram sobre as camuflagens, as espreitas e as guerras. É foram as abelhas as percussoras dos açucares. Bem como o menino tem quase certeza que foram os felinos que ensinaram as mulheres as suas defesas, e os caninos que ensinaram os humanos quanto a lealdade. É foram as formigas que cultivaram a arte das construções, inspirando a sociedade, as organizações sistemáticas e os abrigos.

A razão e a lembrança nós aprendemos com os elefantes. É foram os cavalos que nos ensinaram a enxergar além, com o olhar de crianças. Que diante a solidão constroem amigos imaginários. Que diante a tristeza constroem seus próprios brinquedos. Que diante da impossibilidade criam logo o impossível imprevisível. É que fronte a Tudo nadam junto ao Nada. Pelo bel prazer, puro e inocente do Instinto, da Intuição. É assim como os meninos são os poetas. Que diante da realidade camuflam-se na Utopia! É isso amigos, por mais que o peso do Tempo e da memória nos imponha o poder da inteligência, da razão, da racionalidade. Não existe pra onde fugir, sempre serão as Crianças e os Poetas os percussores intuitivos da enteléquia dos dias e das noites. Intuição é a Arte de carregar os olhos sob o Além no vasto infinito!



(Iberê Martí)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

VIDA Chico


Ela só procura por grana
Eu nem penso mais no Sucesso
Ela diz: você se engana
Eu digo adeus ao progresso
Despido progresso

Ela é fascinada em drama
Eu procuro a calmaria
Ela engendra a sua trama
Eu troco a noite e o dia
Noite confunde o dia

Ela é louca por uma tragédia
Eu praticando o acaso
Ela leva a sério a comédia
Eu faço um sério descaso
As forças do atraso

Ela se indigna com novela
Eu pretérito fico na minha
Ela divide tudo em parcela
Eu gasto tudo na rinha
Perco na rinha

Ela quer carro importado
Eu penso em pescaria
Ela ama ir ao mercado
Eu em brincar poesia
Brindar poesia

Ela compra tudo que é moda
Eu ando todo relento
Ela come tanto que é soda
Eu viajo em pensamento
Pluma em pensamento

Ela gosta de aparecer chique
Eu prefiro o encantamento
Ela compra marca em butique
Eu prefiro o bar fedorento
Lar fedorento

Ela só valora a estética
Eu procuro por Ideais
Ela nem sabe de ética
Eu observo semelhantes e iguais
Todos iguais

Ela joga a escada invisível
Eu continuo a fazer amigos
Ela no labirinto impossível
Eu encontro o refúgio um abrigo
Onde estou me abrigo

Ela ama a tecnologia
Eu venero o meu passado
Ela esconde há hipocrisia
Eu festejo o feriado
Oh meu feriado

Ela diz que a boca é rica
Eu procuro ela na favela
Ela diz que nunca fica
Eu perto de gente banguela
Povo cinderela

Ela anda toda maquiada
Eu não gosto de academia
Ela pensa saúde bombada
Eu prefiro a livraria
Sinto a enteléquia

Ela é doce e refinada
Eu me assusto com alquimia
Ela tem o corpo malhada
Eu penso tudo em harmonia
Mente/corpo harmonia

Ela conversa em inglês
Eu nem sei do meu portuga
Ela masca amargos clichês
Eu prefiro a verdade e a fuga
Honesta fuga

Ela só conversa coisa seria
Eu prefiro a rebeldia
Ela nem sabe da antimatéria
Eu deliro com a profecia
Lírica sabedoria

Ela sabe dos juros do banco
Eu mergulho em cantoria
Ela sabe a especulação do tamanco
Eu pseudo dou garantia
Blasfêmia e economia

Ela curti um papo careta
Eu sobrevoo outras dimensões
Ela desconhece os planetas
Eu convivo outras constelações
Galáxias livres nações

Ela tem na bolsa valores
Eu no bolso nenhum vintém
Ela coloca espinho em flores
Eu suspiro o néctar do além
Transpiro o Além

Ela é apegada no Medo
Eu consumo a rebeldia
Ela não conhece o segredo
Eu no trilho da valentia
Livre de covardia

Ela controla os planos futuros
Eu desapegado de ilusões
Ela cultiva a alma no escuro
Eu cultuo outros corações
Pulsar imensidões

Ela acha que é super moderna
Eu sei que é tudo antigo
Ela está presa a uma caverna
Eu fugindo deste vil castigo
A Luz do perigo

Ela anda toda assustada
Eu devaneio com um sorriso
Ela desconhece madrugada
Eu cato o paraíso
Abraço o improviso

Vocês pensam Ela mulher
Mas meu grito é para a Vida
Não vou ser como um qualquer
Vou amar minha Amante querida
Oh VIDA querida
Oh Vida ferida
Oh Dama temida...
Nesta via aguerrida!


(Iberê Martí)