sexta-feira, 30 de maio de 2014

Bucólicos


 

Entre braços e suas bocas

Voz de fonte, mão de berço

Estruturas tremidas, desbotadas

Vivas saudades de um terço

 

Prédios servem aos pássaros

Nas janelas brotam flores

Vidros derretem, luz sol

Carros sem gasolina ou cores

 

Nas ruas cheiro de orvalho

Asfaltos coberto de folhas

Placas com nomes antigos

Raízes refutam escolhas

 

A cidade ocupou o abandono

Fez floresta, ganhou vida

Livro antigo em páginas viradas

Rascunham novas avenidas!

 

(Iberê Martí)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Filho do sertão


 

O galo cantou

Não quis levantar

se jogou nos sonhos

esqueceu de acordar

 

Andredo homem de nome feio

Pele feia,olhar peculiar

Não têm muito o que alvejar

 

Talvez um casebre para chamar de lar

uma esposa que lhe tenha amor

dois filhos que com sorte

viverão o suficiente para aprender a andar

 

Personagens de uma sociedade hostil

 

Pátria amada Brasil!!

 

J.Vaz

terça-feira, 27 de maio de 2014

Volta, Andarilho!



Andarilho, que andava por aí
Onde está você, você sumiu

Não me diga que está sentado num sofá
Assistindo TV, com preguiça de andar
Andarilho, onde você está
Dormia em postos de gasolina
Em marquises, praças, qualquer lugar
Com seus passos calmos
Rodava o mundo inteiro
Andava de janeiro a janeiro
E quando se cansava,
Achava uma cachoeira pra repousar
Ou descansava num rio a beira mar
Andarilho, saudades do brilho
Que você carregava no olhar
Saudade da tua coragem
De sair, por aí, sem muita bagagem
Só o espírito de caminhar
Onde está você, andarilho
Você pode se perder por aí
Só não pode se perder dentro de mim
Saia, com seus cabelos desgrenhados
Suas roupas rasgadas, violão pendurado
Sua mochila nas costas, suas botas
E seus passos rumo ao nada
A cada cidade, cada estado, cada estrada
Rumo ao escuro, muro, duro, futuro
Rumo ao misterioso deus-dará
Andarilho, só não pare de andar

 
(Stéphano Diniz)

Bom mesmo


 

Bom mesmo é sonhar

Caminhar sobre mares e nuvens,

colher flores no céu e estrelas no mar

Se sentir um poeta só por portar caneta e papel,ou uma abelha por gostar de mel

 

Bom mesmo é sonhar

e ser livre para voar

voltar a ser criança,rolar na lama e

brincar de pega

 

Bom mesmo é sonhar

Sonhar e ter a inocência de imaginar,

que todo sentimento bom amor será,

que tudo uma hora vai se acertar

Que a felicidade será sempre plena

e que a música,a música nunca vá acabar

 

Bom mesmo seria talvez nunca despertar.

 

 

(J.Vaz)

Peço desculpas aos meus eus.




Me desculpe eu escritor
Deixei a pena de lado
A tinta secar
O papel se empoeirar
Larguei tudo na mesa
Embaixo dos classificados rabiscados

Me desculpe eu boêmio
O violão está guardado
As cifras inacabadas
As cordas desafinaram

Me desculpe moça da janela
Há tempos não passo pra deixar meu galanteio

Perdão dono do bar
Hoje ainda passo pra fazer jus ao meu nome na caderneta

Me desculpe eu andarilho
O couro da bota ressecou
O do pé afinou
Troquei a mochila pela maleta
Mas já vou destrocar
Na maleta não cabem meus sonhos

Falando nisso

Você, eu lunar
Hora de acordar
A tempestade está acabando
Temos muitos eus pra atender
Mas só depois de ver esse sol se pôr
 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Evasivo

 

Fui pro mato

Catar carrapato

Criar galinha

Viver sem contato

 

Fui pro campo

Pra ser pirilampo

Crescer como índio

Esquecer homem branco

 

Fui pra roça

Puxar carroça

Em estado menino

Caçar na palhoça

 

Fui pra selva

Dormir sob a relva

Pescar sereno

E catar erva

 

Fui pra paz

Pra ser capaz

Caminhar pelo mundo

Frio, seco e mordaz

 

(Iberê Martí)

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Das Inutilidades Concebidas (como diria Mário Quintana)


 


Este Deus que, as vezes

Não sei compreender.

Me armou de São Jorge,

Me constituiu de ilusão.

Ganhei cérebro, cabelos

Olhos, dentes, narinas

Braços, ouvidos mãos...

Tanta parafernálias carrego e,

Sem ter uma razão? Amigos

Pernas pra quem te quero.

Mas sempre troco os pés,

Pelo altar do Coração!

 

(Iberê Martí)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Monótona


 
 

Vida é veia aberta

Machucado, ferida inquieta

É água doce e deserta

Rio, rumo ao mar

 

Vida é fonte e foz

Solidão, silêncio e voz

É semente dispersa por nós

Embrião salgado e imaturo

 

Vida é lago escuro

Fruto cuspido e prematuro

É criança espiando pelo muro

Lodo de pântano embriagado

 

Vida é balde cheio e vazio

Gente sentindo calafrio

É quente derretendo o frio

Porto pra quem quer navegar

 

(Iberê Martí)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Um Sonho


 

Quando sonho, o sonho dos aflitos

Meu sonho é maior que o infinito

Meu sonho é sem tamanho,

Nunca cabe em manuscrito.

Meu sonho é sem pátria, porta janela

Meu sonho vive livre de tutela

Sem risco, sem sorte sem jogo

Sonho sem cerca, sem rico nem favela.

Meu sonho é correnteza, rio incerto

Meu sonho é viver um livro aberto

Atravessando pedras, velharias

Sonho fazer banzeiro no deserto.

Meu sonho é voo sem asa

Meu sonho é chama, é brasa

Pássaro que plaina sem vento

Sonho de nômade sem casa

Que mal chega e desatina

Pra um novo movimento!!!

 

(Iberê Martí)

domingo, 18 de maio de 2014

Uns versos


 

Começou simples quanto a origem do universo

Uma ideia abstrata tentando virar uns versos

A um passo do outro lado do mundo e não segui

Foi a eternidade de um segundo que eu não vi

Ou talvez a beleza da medusa que me petrificou

Considerada tão horrorosa quanto Brigite Bardot

Foi tão difícil como descobrir o mundo da fantasia

Tão inexato quanto a matemática ou geometria

Ou tão decepcionante ver que ele não existia

Foi tudo tão real quanto um sonho maravilhoso

Tudo doeu tanto que no fundo foi até prazeroso

Recente, assim como a história de Abel e Caim

E terminou como uma estória que não tem fim

 

(Stéphano Diniz)

Contratempo


 



O contratempo contrapôs a contraprova. Provei nada, ninguém. Nem o gosto da gruta se abriu para mim. Fruto do pecado, fruto do mar e do sal. Eis o que consome o pequeno e vasto universo que circunda a nossa volta. Eis o sol arrependido de um outro nascimento. Eis o nosso sistema vagando pela galáxia, em busca de novas utopias. Eis eu impertérrito, imperfeito e (des)contento. Todos vagamos na mesma órbita lunar, fazendo contraponto para antimatéria. Nossos sonhos, nossas ilusões, nossa rebeldia. Pra tudo que um dia virou pó de estrelas. Pra todas as estelares que contemplam a Gravidade em sua gravitação funcional. Sombras do acaso, mensagens abstratas dos tempos e da história. Teu coração gagueja como copa de árvore. Teu estômago leito imita raízes. Quando teu gosto terá alguma probabilidade de abandono? Quando teu trono se compreenderá como húmus? Quando serei eu um outro?   Eu gostaria de rastejar minhas palavras ao vento com a simplicidade cujo efeito é há vida. Mas quão complexa pode ser a ideia de um ser humano, envolvido numa teia de infinitos outros sonhos.


 

(Iberê Martí)

sábado, 17 de maio de 2014

Vinte Sete


 

Vida difícil, difícil vida

Tantos tentos, tento tanto

Com meus olhos, desencanto

Tudo é tão normal, e real

Agora, e sempre... aurora

A carne é para o carnaval

O vinho é pra esquecer

A lucidez pra enlouquecer

O sangue pra beber...

Bêbados e insanos, vampiros

Caminhos. Janelas, portas

Postes na rua iluminada

A escuridão na calçada

A sombra no escuro...

A vida é um muro,

Pichado à grafite.

Eu, que tenho respirado

E sequer sei se existe

Uma outra encruzilhada,

Uma bela, outra amada

Algum motivo pra existir?

Nada faz sentido, mais

Meu coração nem pula, mais

Nenhuma novidade satisfaz,

Estou velho ao fugir,

Dos vinte e sete...e,

No último segundo

Traga um gole,

Acenda um cigarro

Se espelhe na fumaça

E volte pra casa!

 

(Iberê Martí)

Castigada pelo Sol


 

Quando eu era novo, eu olhava

Para os agricultores, os pedreiros

Os roceiros, os lixeiros, carteiros

Os via com aquela pele ressecada

O rosto cansado, a pele judiada

A pele castigada pelo sol

Hoje eu os vejo diferentemente

Eles carregam o Brasil nas costas

Carregam um brio verdadeiro

Com a vossa força de trabalho

Possuem a força dos mais fracos

São filhos do povo brasileiro

Hoje eu já tenho pena

Dos que tem a pele macia

Os herdeiros, os marajás

Com sua pele lisa e bela

Mas castigada pela sombra!

 

(Stéphano Diniz)

Saravá, Poetizas!


 

Vinda da charmosa Cidade de Goiás

Cora Coralina, formosa por seu saber

Que de tanto sonhar, tanto escrever

Para o sudeste, de um amor foi atrás

Mulher que sonha, que ri e que chora

Saravá Cora!

 

Uma grande mulher, carioca da gema

De raro talento, começou desde cedo

Aos dezoito anos, sem nenhum medo

Publicou seu primeiro livro de poemas

Com garra criou sozinha suas três filhas

Saravá Cecília!

 

Lúdica, católica, uma escritora mineira

Apenas isso não define Adélia Prado

Para o Mundo, mostrou seu outro lado

De mulher forte na literatura brasileira

De poesia atemporal, que não fica velha

Saravá Adélia

 

Clarice Lispector, de berço ucraniano

Escolheu o Brasil como a sua nação

Com tantos lugares para um coração

Dizia ter o coração pernambucano

Tida como bruxa por sair da mesmice

Saravá Clarice

 

Saravá Clarice, Adélia, Cecília, Cora

Como são belas todas suas poesias

Saravá Zélias, Nísias, Lygias e Marias

Alegrem essa nação que hoje chora

Mulheres mães, santas e feiticeiras

Saravá, Poetizas Brasileiras!

 

(Stéphano Diniz)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Cruel Vida


 

A vida é um tanto cruel

Não só por seus lances bruscos

Mas quando é sutil

Quando nos mata aos poucos

Quando nos corrói

A cada dia que passa

A vida me torna mais durão

Mais carrancudo, super-homem

Mais bravo, mais malandro

Mais ou menos gente

Eu insisto em não aceitar

Sabendo que vou perecer

E me agarro às artes, poesia

A vida vai matando a cada dia

Quem não vê a passagem do tempo

 

(Stéphano Diniz)

Garoto Francisco


 

Pra escrever esse cordel

Peço bastante inspiração

Ao Santo São Benedito

Santo negro de tradição

Com um legado bonito

Sujeito de bom coração

 

Vou contar essa estória

No aniversário da abolição

Foi no dia treze de maio

Que acabou a escravidão

E a estória desse garoto

Merece virar uma canção

 

Batizado como Francisco

Falava português e latim

Criado por missionários

Para ao sistema dizer sim

Mas não sabia que um dia

Ao sistema poria um fim

 

Não conheceu seus pais

Foi concebido num terreiro

Era de origem africana

Era um negro verdadeiro

Era escravo, mas era livre

Era filho do povo brasileiro

 

Um dia, no meio de uma missa

Francisco teve uma revelação

Deveria lutar por seu povo

Contra mosquete, bala, canhão

Resgataria a sua honra

Foi essa a sua visão

 

Ele chamou o padre

E disse, “Estou indo embora”

Já tenho dezoito anos

Acho que chegou a hora

De lutar pelo meu povo

Que está morrendo agora”

 

O padre lhe desejou sorte

Na sua luta no agreste

E ao lhe chamar de Francisco

Francisco respondeu inconteste

Meu nome, padre, é Zumbi!

Disse em latim, Alea jacta est!

 

O resto vocês já sabem

Zumbi foi para os Palmares

Governar lá um quilombo

Viver entre os seus pares

Lutar pela sua liberdade

Com seu povo aos milhares

 

Zumbi entrou pra história

Mesmo um dia vencido

Simboliza a liberdade

De um povo desvalido

Um povo negro, povo livre

Que tem um herói merecido

 

(Stéphano Diniz)