sexta-feira, 30 de novembro de 2012



De fundo um azul infinito
Imaginação ecoa um grito
Ondas emitindo vibração (difusas pelos ventos).
Neblinas em delírios de nuvens
Nas sombras, implodindo liberdade e sons.
Meu coração foi pulsando alegria
Alegando “alforria” - esse meu coração.
Frente o espelho um retrato, único
de Lua... refletindo a luz e,
expandindo em espiral
Formando um anel radiante,
uma Aurora Boreal!

(Iberê Martí)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012



Lá vem ela sinuosa
Exuberante  Lua Cheia
Abraça o céu que embeleza
Frondante esperança semeia
Entre voltas e voltas
No horizonte ponteia
Vem com álibi conciso
Arremata a ceia
Traz o vento indeciso
Corações em sua teia
Se escondendo do mundo
Correndo o monte margeia
Ecoa, vibra nas sombras e,
ilumina a feia.
Clamas quem chamas,
e vagarosamente incendeia
Dispersa tumulto
Multidões em aldeias
Caminha em silêncio
Autista desencadeia
Um mar frio de angustias
Solidão que rodeia
A esperança, o sucesso
Descompassa e apeia
Olho já nem acompanha
A loucura na veia.
Risca o espaço em brasas
Pulsando em centeia
Nem veio, já vai...
Em seus círculos de sereia
Vou desenhar vestes e versos
Antes da maré que floreia
Guardar na lembrança,
ou escrever na areia
Tua ausência é um tédio
Misteriosa Lua Cheia!

(Iberê Martí)

domingo, 18 de novembro de 2012



Talvez em Minas
Eu encontre a poesia
Alegorias e desconhecidas presenças
Encantados espíritos de suas crenças
Duendes templários
vasto mundo imaginário
Fadas em doses, em cachaças, de fantasias
este sol que irradia...
possibilidades a cada amanhecer

Talvez em Minas
Eu reconheça a rebeldia
Dentes roendo a corda, a tirania
Desses morros tortuosos
Sinuosas cantorias
Descrevendo os horizontes
Ouro verde nestes montes
Paz em silêncio suprimindo
Os pesares que vêm vindo
e que se vão...

Talvez em Minas
Eu descanse em braço aberto
maneirismos de caboclo esperto
Amizades brotam sem terno
deleitam doces-de-leite materno
E queijos que minam, na terra
em fontes no canto da serra
Os gostos nas identidades e traços
dos diversos saberes, digitais e abraços
E cada palma, labuta, suada com o seu facão
Marca calejada na mão
A manejar as amarras, as Embiras...

Talvez em Minas
Eu me torne mineiro eminente
Nos versos espontâneos, em um repente
No trilho das línguas analíticas
Trem avança as divisas geopolíticas
Ventre acolhedor de gente toda
e toda gente
“Sei lá, sô”, nem sei se, “capaz”:
Mineiro; talvez Mineiro, Meio-mineiro
Conceitos, definições? Explique Milton Nascimento
Importa, minas, em Minas
É andar e viver por aqui!

(Iberê Martí)


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Das mudanças




Mudar é um desencontro
É reencontrar a naftalina e seu sublime perfume, e
a poeira nos cantos das gavetas
Rever as fotos, os livros
- aquela dedicatória que um dia foi para sempre-
É sentir saudade dos discos que se doa a caridade.
Mudar é descobrir o quanto mudou a si, e
Outros!
Pegar novamente aquela Bandeira
- que um dia fez seu coração vibrar -
Vestir aquela Camiseta, e suas frases de “ordem”
- inocente, jovem e livre.
Mudar é estar antes do passado
E a frente do futuro
Reencontrar aquelas boas e más lembranças
E estar em vários caminhos, em tantos lugares
Reinventar o presente, em sonhos que revivem
Rejuvelhecer...
As possibilidades:
Que passaram a nossa frente
(despercebidas, incontidas possibilidades)
Mudar é um grande vazio
Cheio de caixas e malas, e lençóis improvisados
Encontrar no abrigo novo aquela Rosa Vermelha
Desejando bom dia
- em seus simples detalhes de flor!
Valorar cada espinho que trouxe até aqui...
Certo que de todos os caminhos,
o meu caminho...
Eu mesmo escolhi!

(Iberê Martí)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Siriema




Siriema, minha pequena
Eu escrevi um poema
Em tupi...
Nem sei se lhe escutei
mas, cego há vi e me encanta
No canto de seu silêncio, 
nó garganta.
Flecha de seu sustenido, tom
estabilidade de suas penas.
Pernas,
tortas, armadas em arcos.
Estes versos eu canto e planto...
Encontro, na paz de seu pranto
teu semblante sublime.
Miscigenada mistura de poesia
e rebeldia...
És um singelo poema,
pequena topete -
em tupi “nhandu”, Siriema!

(Iberê Martí)

terça-feira, 6 de novembro de 2012



Doce liberdade
Cicuta que me consome
Tenho sede sinto fome e,
faço em outra rebeldia.
Desligo, e mudo, mudo a sintonia.
Vejo a luz de um novo dia
Ondas sonham em variáveis sincronias
Ouço outras tantas cantorias.
Humanidade composta húmus
Desperta, retira a coberta
Desconecta o umbigo,
que lhe rendia
Em seus “cala-frios”!

(Iberê Martí)

domingo, 4 de novembro de 2012


Antes, olhava para a palavra“Amor”
E surgiam imagens.
Fotos amarelas, castanhas, e até caramelo
Pretas e Brancas, destoantes cores
Imagens divinas, em peles estranhas
Em formas sutis, em curvas esplêndidas
Imagens em sombras, espúrias sem brilho
Cílios vestidos em fardas.
Olhava e retinha
Sentia os vazios
- andam, nas bocas, que à pronunciam!

(Iberê Martí)



                                                                   
                                                       João Santana



A sabedoria popular sempre acerta. E acertou de cheio nesse sentido: de poeta e louco, todo mundo tem um pouco. Sim, mas as pessoas tem medo de serem poetas. Não dão a mínima para as loucuras que passeiam em suas mentes. Guardam consigo mesmas, quer dizer, matam-nas dentro de si. Não anotam. Eu não canso de falar que as ideias mais brilhantes são aquelas mais esquisitas, as mais loucas que nos passam pela cabeça. Mas, as pessoas não têm noção do poder que elas têm... Os poetas e as pessoas famosas sabem. Num prefácio escrito por Michele Sato, li isso: “todas as pessoas famosas conservam sempre seu lado humilde, talvez por que são conhecedoras de que neste mundo, coisas simples são importantes à complexidade da vida”.
Os poetas, esses meninos-do-além brincam com nossas fantasias. E, felizes são eles, que deixam registrados seus versos para eternidade. São caçadores de rãs. De lanternas acesas lá estão eles à procura, nos lugares inúteis e insignificantes que todos desprezam. Lá encontram o que almejam. E aí saciam e se fartam.
Manoel de Barros, poeta do lixo, é quem vai confirmar minha doidice: “tudo o que é bom para lixo, é bom pra poesia”. Fazer poesia é tarefa boba, Adélia Prado chega a dizer que “fazer poema é fácil, mas é preciso garimpar de um cargueiro de livros, um livro, um só, ou de um poema um verso, um só retenha o clarão, o som da língua divina”.
Alguém me disse um dia que, todo poeta é meio “bêbado”. Discordo. Eles vêem as coisas na sua pureza, tal como são. As pessoas “normais”, deturpam-nas. Existe o “ver” de “enxergar” e o “ver” de “sentir”. Os olhos apenas enxergam. O coração sente. A retina do poeta está no coração. O poeta não se embebeda apenas com álcool. Ficar bêbado de álcool parece-me desconfortável. Eu, por ser encantado por cosias belas e simples, embebedo-me da vida, e movido por minha embriaguez, desejo beber os mares e suas profundezas e se tivesse tamanhos braços, queria abraçar o mundo inteiro.
O poeta é um vendedor de estrelas. Imagino que eles não pensam em escrever uma poesia, eles apenas juntam as palavras. Fotografam a realidade. O poeta não tem o mérito da palavra. É apenas um mero tecelão. O que para eles deve ser difícil é colocar pernas nas palavras para pessoas viajarem léguas de distância. Mas, ainda penso que  não seja tão difícil quanto colocar nelas um paladar para as pessoas lerem e sentirem o gosto ausente. Mas, continuo achando que mais difícil do que o paladar, talvez seja colocar nas palavras um rosto para que alguém descuidado deixe escapar uma lágrima ou um sorriso. Insisto. O mais difícil de tudo, deve ser colocar nas palavras um coração para fazer sentir dor sem precisar de armas para ferir. Vou mais longe: bem mais difícil do que colocar um coração é possível que seja colocar nas palavras um ouvido para silenciar diante do sentimento de alguém e apenas ouvir.
De tudo isso, a tarefa mais árdua do poeta deve ser tirar a fechadura das palavras e não se importar em ser roubado, pois o poeta não vive por si só; somente assim, despojado de tudo, ele pode despedir-se das palavras, pois, escrever é para ele deixar um pedaço de si nas letras. Desprendido, prefere fixar morada nos lábio ou no coração de quem sente que a poesia bateu a porta.
Assim, quando mais velhos se tornam, mais novas são as palavras. E, quando mais novas elas se tornam, menor é o tempo de criança deles para com elas brincarem e fazer delas um brinquedo para fazer feliz alguém.
Que pena essa curta vida! Deveriam viver mil e um anos para nos fazer sonhar mais....

(in: Recortes: Fragmentos do cotidiano. Instituto Mão Dupla)

sábado, 3 de novembro de 2012





Beei...
De saudades roubei,
o sorriso de uma criança
Aquele gosto de infância
Aditivo, mel nativo.
Beei...
Ei, eu sei... que encontrei
Esperança segue o fio
Firme, coroa de rei!
Beei...
O seu sorriso que emprestei
Devolvo quando, nem sei
Mas se peguei
Devolverei
Beei, o seu risinho
meu sobrinho:
“RaulBeei”!


(Iberê Martí)



Sabiá sábio passarinho,
construindo seu ninho.
De graveto em gravetinho
tece teias sólidas de carinho:
feito destreza, sem espinhos
Certo aguarda, é sábio esperar
- outros possíveis caminhos!
Sabiá, Sábio passarinho
Vai cantando, assobiando
e inventando seu cantinho!


(Iberê Martí)