Qual a diferença entre o certo e errado? Esse
foi a primeira grande pergunta que me surgiu, logo, que entrei na Universidade.
Será que todos os valores estão invertidos e meus heróis também são seres
humanos de carne, osso e pecado? Sempre que se egressa no Ensino superior, e o
inegável sentimento de superioridade. Sentimento que vai se desfazendo com o
tempo, o mesmo tempo que passa, e passa, e passa, e cresce a descrença,
surgindo à certeza que existe uma incrível força que impede que as coisas
aconteçam. Uma “burrocracia” que engesse, literalmente, o serviço público.
Da mesma forma que, surgiu esse sentimento que
as coisas não deixam de acontecer por acaso. Veio à militância no Movimento
Estudantil, muitas vezes criticado, muitas vezes humilhado, muitas vezes
desacreditado, muitas vezes ofendido, muitas vezes motivo de ‘piadas’, muitas
vezes... Mas, existe algo maior, algo que faz continuar e persistir mesmo sabendo
que muitas vezes a luta pode ser é em vã.
A principal característica do Movimento
Estudantil é o inegável caráter de Movimento social, intrinsicamente ligado ao
seu dever de defender dos direitos das maiorias, representativamente
minoritárias. E apenas uma diferença, e talvez a mais cruéis delas, ser um
Movimento social cíclico, as pessoas militam por quatro, cinco anos, alguns
menos, outros mais, mas por um período de tempo inegavelmente curto. E passasse
mais tempo, desse curto tempo, tentando entender o processo, do que lutando
efetivamente para que as coisas aconteçam. E quando começa a ‘sacar’ as regras
do jogo, você esta fora, e vêm outros repetir o mesmo processo. As velhas
novidades?
Este é um fato inegável, assim como é inegável
que existem forças que utilizam dessa suposta inocência para que realmente as
coisas não aconteçam. A palavra que aprendi nesse contexto Universitário, e que
com certeza mais me abalou, foi: O Corporativismo. E com são corporativos dos
segmentos caninamente servidores do capital e de sua vertente de desmobilização
social... E o segmento, é o ‘Meu Segmento’? Como
se os verdadeiros benéficos não fossem de todos. Pense em todos unidos em prol
do melhor, como seria? É mais fácil (o controle), mas é melhor dividir/segmentar?
Não fosse os poucos Estudantes que se envolvem
realmente com a Universidade, seria uma ditadura legalizada, cheia de palavras
bonitas em seus princípios, meios e fins. Essa mesma observação pode ser
utilizadas para tantas outras ‘coisas’ públicas, os três poderes, por exemplo.
Mas que na prática é o contrário dos princípios que deve ter. A democracia nas
Universidades, e no Brasil, tem um objetivo claro e especifico de legalizar o
processo (ditatorial) no papel. Na realidade, as coisas são bem diferentes do
que afirmam ser.
E assim será, inclusive amparado pelas Leis,
como exemplo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que garante ao Segmento Docente
no máximo 70% de participação nos Conselhos e Colegiados da Universidade. O
problema é que o máximo previsto em Lei se torna mínimo. E segue o
corporativismo.
É justamente nesse ponto que surge o novo
enfoque de luta do Movimento Estudantil, direitos conquistados por militantes
no passado, sob sacrifício inclusive vidas. O Movimento Estudantil do passado,
que lutou pelas Diretas já; que lutou pelo fora Collor, não acabou como dizem
por aí.
Ao contrario, agora, ele ganha nova força e
motivação: a Luta pela Democracia de fato; a luta pela utilização correta e
coletiva do que é público, em defesa do Ensino público, gratuito, laico de
qualidade, que ofereça o ensino, a pesquisa e a extensão de forma
indissociável. A luta do Movimento Estudantil hoje é para que os direitos
conquistados no passado tomem vida também fora do papel e se tornem realidade.
E é justamente pelo caráter de Movimente
Social, que surge a obrigação do Movimento Estudantil questionar a forma- na
prática- que são o ensino, a pesquisa e a extensão na Universidade. Afinal, é
uma instituição que tem caráter de pública, financiada por dinheiro da
sociedade, que deve ser respeitada, como toda ‘coisa’ pública (e por que não
respeitamos que é público, da mesma forma e maneira que a ‘coisa’ privada?).
Até que ponto que ponto a Universidade abre as portas à sociedade? Talvez
importuno, mas como saber o que pesquisar se não conhecemos os anseios e
desejos da população? Como é possível a extensão-transmitir conhecimentos úteis
à sociedade-sem a comunicação?
A Universidade dentro do processo de construção
da democracia se perde (ou se encontra) em várias lacunas, tanto internas
quanto externas. Que surgem desde o corporativismo até mesmo o medo de não
cumprir com sua função, o medo de se auto-avaliar e de ser avaliado. E isso,
faz com que Governos- de forma oportuna-
não obedeçam a nossa Carta Magna, e apliquem os 10% do PIB na educação,
em investimento no futuro, na “criação” e difusão do saber. Passo
fundamental ao processo de transformação, do surgimento de uma sociedade
igualitária e justa. Mas, se não conseguimos difundir, estender e/ou comunicar,
como podemos cobrar mais investimentos? Conhecemos nossa importância, mas é o
povo, a população?
Talvez com mais perguntas e questionamentos que
respostas, talvez com mais dúvidas que afirmações, talvez democrático que
autoritário, finalizo este texto com uma proposição - sendo este um dever se
considero o Movimento Estudantil verdadeiramente com caráter de movimento
social.
Que a sociedade cobre da Universidade o seu
papel. Que mais que cobranças, que a sociedade se envolva - participando das
decisões, dando sugestões, contribuído com o desenvolvimento acima de tudo
vivenciando a Universidade.
Se quisermos democracia, muito além de
cobranças, devemos nos envolver e participar do processo de conquista! A
Universidade do universo, somente cumprirá com seu papel, quando romper as
barreiras e conseguir envolver a sociedade em seu processo de construção.
Talvez transformar o Brasil e suas ‘unimultiplicidades’ em uma grande academia. E não é? A Universidade somente será
democrática: quando rompermos esses muros invisíveis que existem- que
refletindo um pouco com um olhar mais atento, nem tão invisíveis assim! O
Brasil somente será democrático: quando for “O governo do povo, pelo povo e para o povo”. E a Universidade tem o
dever de contribuir ‘significativamente’ com a luta de seu povo.
(Iberê Martí)