sábado, 23 de fevereiro de 2013



Porta aberta, entrada certa e que convém (esfera parada).
Porta fechada, melindrosa malvada (janela macabra).
Porta cega, porta torta, porta marcada.
Porto sem porta. Porta de rio, sem estrada.
Mundo sem portas ou encruzilhadas; sem fronteiras. Sem nada,
nadando em sonhos e ideias – (re)volução silenciosa, calada!

(Iberê Martí)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A terra dos sem história




Andar afastado do mundo, em um universo paralelo as engrenagens pós-modernas é algo realmente fascinante. Fascina estar distante de tudo que tão somente se repete e se repete. Mas hoje, a quarta-feira de cinzas foi antecipada. Não. Nem que seja “arroz-de-festa”. Não. Não que importância tenha o carnaval e no que o mercado o transformou. Não. Não que importe o enredo de uma escola de samba, quanto (ou muito menos), qual escola vai ser campeã. Muito menos importância persiste em minha consciência sobre essas divisões geopolíticas. No entanto, o “fato” em si, da história misteriosamente ocultada é algo há se pensar. Por que escondem a história de um povo?
Ainda de manhã, no alvoroço da comunicação de nossa época: já se registrava incontentos com o desfile da escola de samba mangueira e sua grande homenageada Cuiabá. Curiosidade logo invadiu o peito, e até o samba enredo foi buscar um maior entendimento. Logo de frente com aquelas palavras soltas, de um lugar abstrato: que homenagem é está há um povo: onde o povo homenageado não se encontra? Estranho escrever sobre tal assunto. Primeiramente por que não sou mato-grossense de nascença. Entretanto, meus primeiros passos foram ali. Aprendi a respeitar e cultuar este estado, e sua história (de antiga) invasão.
Os seus índios resistentes; seus caboclos destemidos; seu jeito diferente culturalmente de pensar e agir. Foi na escola agrícola no auge de meus catorze anos que encontrei com a cultura cuiabana. Logo me encantei com esse povo que chama mãe de “mamãe”, e pai de “papai”. Com essa língua rebelde, com seus passos leves de quem conhece a força temida do sol. Foi neste período que descobri que peixe é “pexe”. Que maxixe tem por todo canto espinho. Que cuia quando cai na água faz “bá”.
            Foi com esse povo ressabiado e matuto que aprendi que de coxo se faz também viola. Que antes de tudo e qualquer coisa é uma história de resistência, de luta, de peleja sertaneja. Do caboclo que vive isolado em seu sertão de águas imudáveis por determinada estação do ano. É mesmo afastado do contato direto com a midiática cruel e sedenta, logo que obtive notícia da homenagem a essa gente, fiquei de prontidão esperando conhecer novas histórias deste povo. Ledo engano. Plena insólita ilusão.  Este povo, essa gente, esta cultura, esta resistência não pertencem aos “donos de tudo”. (Aos fabricantes primários e primatas deste sonho de nação). Não que importe com esse egoísmo patriótico por cidade, estado, nação. Mas pelo fato de saber plenamente que quando se quer aniquilar uma cultura comece pela ideia. Elimine a ideia e imaginação, as crenças e que sobra de um povo? Muito pouco ou quase nada: que nos expliquem os ciganos.
            Tristonho mesmo é o “fato” que novidade alguma existe neste novo (nem tão novo), “ato”, ação atitude. Quantos povos aniquilados, dizimados e marginalizados aqui mesmo nas Américas (no coração central do planeta, como dizia o enredo do samba). Extrapole isto há outros continentes, outros povos. É que haja muita imaginação. Fato que os donos destas planícies no presente têm vergonha da cultura deste povo. Amam muito mais o ocidente, seu modelo civilizatório copiado do passado e portanto super desenvolvido. Têm repudio a esse palavreado misto de diversas origens e dos seus fluidos sons que se originam nas múltiplas variações de X e CH. De tudo isso que realmente importa? Se tu não consome o produto do mercado?
            O dia foi triste não por ver a escola que carreguei no coração durante a infância se entregar a tamanho desaprumo ao confundir, misturar e desvalorizar a memória e cultura de um povo. Uma escola de Chico, de Jamelão (este se contorcendo no céu). Não. Este foi fato de menos. Pouco importa se vendido. Pouco importa, ou muito menos o dinheiro público "investido" – iria para qualquer outra autopsia burguesa mesmo. É muito menos importa os vencedores do tempo atual. Pensam, acreditam que mataram as escolas de samba, que compraram e venderam a nossa história. Fingem saber de tudo e um pouco mais. Sabem todos esses de nada e um pouco menos. Por que a cultura da escola, e a escola a instituição há de permanecer: sobreviver a qualquer devaneio dos seres humanos do presente. Pouco menos importa com os “donos de tudo” a Viola-de-coxo e o “Pexe com maxixe no Coxipó da ponte”.
             Nada disto importa. No futuro envergonhado estão os seres humanos que conduzem o presente e as múltiplas facetas do senhor mercado. Foram infelizes – prefiro acreditar. Lá adiante, há história e a cultura do povo será cruel. Por que dinheiro compra a história que os livros contam. Mas jamais vão calar o sentimento de um povo. Viva a estação primeira de mangueira; viva a cultura cuiabana. O resto, o resto é mera ganância: dos que se acham donos do fio! Pois é o povo o Carpinteiro da história de um Universo sem fronteiras; onde um povo sonhador e labutador canta: - vote primo; deixe de moage: tchá mãe!


                                                                          (Iberê Martí)


De todas as incertezas,
Incertas
Desta vida, neste Pranto
Canto incerto, canto de cigarra
a Chuva (atrai sua incerteza)
de formiga!
Canta. Não
Canta, cigarra
Afaga a formiga, que cata
- sem canto!
Pirilampos seguem incertos a vagar,
Vaga-lumes nucleares
(Lucíferas em suas enzimas)
Certos
De tudo.
Quanta certeza se tem na incerteza de garça
há plainar
Se o voo é certo, como certo o ovo e, há
Gravidade (gravitacional de Saturno)
- em todas as Certezas - incertas!

(Iberê Martí)

domingo, 10 de fevereiro de 2013



Se encontrasse escondido crepúsculo um
sorriso
Se riscasse o céu no meio do dia há,
Lua
Se coubesse na palma da mão
um destino
Se perdesse a alvorada em um “Bem-ti-vi”
bem te quer
Se procurasse nos dedos as metragens infinitas do
mar
Se oceano guardasse em suas profundezas as estrelas
cadentes.
Se pintasse as cores das tinturas novamente em outros
conceitos
Se caminhasse sobre pluma incandescente feito,
aves
Se chorasse o delírio seco nos olhos sem brio
esperança
Se na frente de um lago impossível,
há sorte
Se a vida não tornasse as pessoas
ácidas
Se o mel delirasse em perguntas ácidas
- pra vida.
Se permitisse que o som se esvai, ao espaço em um continuum 
ad eternum
(se, Se fosse si, e Si fosse se...)
Sonhos e ideias fabricas de,
Liberdade!

(Iberê Martí)


O Velho cultiva,
Irriga diariamente seu jardim
Despeja gotas minuciosas de inocência
consciente.
Gotículas de orvalho,
em razões contidas em sentidos
Inteligível...
(esse velho, pensamento)
Sem rancor, sem solidão
Admitindo, é possível:
pureza sem maldade
(tão simples é a verdade)
Desconceituando conceitos,
preceitos
(contradições?)
O Velho diariamente pratica,
(pacificamente)
Revolução silenciosa
- dos vivos!
O Velho não mais cultiva:
medo da morte!

(Julián Pierre-Henry)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013



Este Mundo Grande que eu estou lhe mostrar
Cabe em minhas mãos
Vamos conquistá-lo pra gente brincar

O sol que nasce a cada manhã
Vem pra nos dizer
Que este Mundo Grande é de toda gente
E é preciso viver

Uniremos a nossa força
E iremos à luta
Apanhar a fruta
Que está pra se comer.

(Valdo da Silva)

domingo, 3 de fevereiro de 2013






Eram olhos Pequenos. Aproximando-se e, lançando as mais sublimes distâncias... (os Pequenos carregam desmedidas incertezas). Em seus calinhos pequenos. Os Pequenos em seus ninhos, viajando em seus sonhos – de pequenos! Quantos sonhos têm os Pequenos? Em seus gigantes pensamentos. Quantos comportamentos condicionados, os Pequenos tiveram de aprender ao sentir – dor. Há os pequenos. Estes que permitem as coisas “pequenas”. Dos homens. Devorando tão pequeninos sonhos. Quantas oportunidades pequenas (poderiam mudar um trilho, um trem, um abismo, um destino... Pequeno). Quantas pequenas potenciais perdidas? Desperdiçadas: ali naquele canto - naquela pequena margem (aquela pequena marginal). Pequenos que somos. Ficamos sem nada de pequeno fazer. São Pequenos e escondidos seus gestos. Vivem as margens da maré, de tão pequenos que são. (De querer tão pequeno). Seus sonhos. Sonham os Pequenos. Com tinta, giz-de-ceira, papel – pequenina Atenção! Qualquer invenção criativa que emerge faz logo tinta em um riacho, o giz-de-ceira que escreve no futuro, e o papel faz-se em bola para voar como os pássaros. Qual o papel destes pequenos neste conto de fadas? Que vendem na televisão. (Contos pequenos. Tão pequenos os que contam, e cortam: o caminho). É o Pequeno incontido, nos sorrisos indestemidos. Valentes os Pequenos. Tão Pequenos passos de capoeira. Berimbau. Oxalá! É Pequena a resistência, na pequenina carência.  Fronteiras sociais indevidas que os segmentam o Pequeno de um abraço, um cafuné. Ou, pequenininha diversão. Quantos coraçõezinhos pequenos: ali? Quantas vontades pequeninas: ali? Quantos pequenos sonhos e grandes ideias reprimidas pela ganância pequena? Aqui Pequenos, nunca sejam pequenos. Lá no chile que se entende, que há única pequena verdade: aprender com os Pequenos como se deve sorrir. Vocês pequenos que inventam o céu verde, que adicionam mais cores ao arco-íris.  Fazem do infinito o azul. Se os adultos são chatos (pequenininho o monótono mundinho deles).  Já os Pequenos são o que nos restou, desta pequena Esperança!

(Iberê Martí)