sábado, 29 de março de 2014

Navalha

 

O que corta mais que Navalha

é palavra de poeta.

Em falas lentas,

compassadas e

 pontiagudas.

Arrancando,

não de fora pra dentro,

mas de dentro pra fora

Esfacelando o viés destes conceitos mórbidos.

Lançando ao espaço

certezas

prontas e absolutas,

absurdas

Mastigando gota à gota,

em conta gotas,

rimas improvisadas

Brindando o sorriso,

da mulher amada

 – ao ledo lado do engano.

(Escrava sem termo aos desavisos da vida. Meretriz hora rapariga)

 

O que corta mais,

palavra navalha em boca de poeta

 E amando o fracasso,

o tonto,

o louco,

o santo

e o palhaço

Conforto é o encontro com outra mentira sincera

Digital,

analógica

ou quântica.

Petroquímica?

(Quanta idiotice? Excitação mental. Egocêntrica)

Conta me outra mentira diária.

Pague a conta e vamos embora

Contra mania cultura macabra.

Conforto da alma,

chama acesa

E o travesseiro,

maldito e culpado,

não me deixa dormir.

Na cama.

De cama.

Em coma.

Maldito Pedante.

Sorte que estou errado.

 Sou omisso,

É indireta minha culpa

Seguindo a voz dos iluminados

que estão sempre certos

 

O que corta mais palavra de poeta é navalha de diamante,

Dinamite.

Implosão transcendental

Banquete dos que perambulam,

Mortos

Brindando (ao brincar)

Com esse jogo infantil e,

Cômico nas palavras mortas,

Dos Vivos!

 

(Iberê Martí)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Elogio da Loucura II


 

Antes mesmo de subir a serra

Eu queria mudar a direção do vento

Sem aprender o som daquela terra

Eu já clamava por um novo alento

 

Antes de falar de "Cantigas Menores"

Eu já previa o meu maior desalento

Procurei vasculhar pelos arredores

As sombras de todo mal e tormento

 

Eu previsível, me atinha aos maiores

Aos riscos da guerra, e seus firmamentos

Na bastilha, a batalha e ricos horrores

Fazia da palavra os meus (dez)mandamentos

 

Deus me ilumina como ilumina as crianças

Venda das viseiras de meus olhos a usura

Retire ou aparte de meu peito a ganância

E mantenha em pulsos firmes à Loucura...

 

Em simples sonhos que transbordem Esperança!

 

  

(Iberê Martí)

Lágrimas


 


Caem elas

Gota à gota,

(em conta gotas)

Perfazem face.

Escorrem elas,

Escorregam

E saltam...

Saltitam.

Despencam.

 

No desfiladeiro

- curto e raso –

Estreito,

De improviso,

se arremessam.

As veias abertas

Meu sangue,

Sujo.

Minhas decisões,

Egoístas enredam

 

Longe D’ELA

Correnteza,

Levam elas

A foz, ao rio

Ao Mar,

Evaporam.

Ao céu.

Ao leu,

O acaso

 

Driblam  mãos,

(as minhas)

Mesquinhas, mesquinharias

Do Destino,

Em justa justiça

Não. Me dó,

Julgamentos.

Perco elas,

O pulso pulsa.

O coração para.

 

Fogem elas

Deste abismo,

Colossal

Que todos invocam,

E rogam ...

Oh, VIDA!

(Iberê Martí)

sábado, 22 de março de 2014

Elogio a Loucura I


 


Por quantas vezes evitei o êxito

E em mentiras sinceras, desviei

As curvas, oceanos e lábios salgados

Sustentam meu alicerce, areia

 

Por quantas loucuras, procurei

Abdicar dos desejos possessos da vida

Processos entre poços e abismos profundos

Profanas noites cultivam meu abandono

 

Não sou dono, nem rei

Verdade alguma disse

Mentira nenhuma contei

 

Mas que me aprumo em palavra

Destas que a boca invocam silêncio

Ao som outra vibrante Loucura

 

(Iberê Martí)

quarta-feira, 19 de março de 2014

Jongo


 


Na briga de enxada

Camponês trabalha e canta

Brilham os olhos da amada

O patrão, incomodado, se levanta

Ferramentas batem no ar,

E encontram se compassadas.


O sertanejo trabalha,

com o seu coração

Tem o que puxa a cantiga

E não deixa parado ...

Mas ele que anima

Pra dar seguimento ao roçado


Este é o jongo de roça,

ritmo que semeia plantação

Esse é o jogo do campesinato

Esta é a dança do sertão

Ao som do caxambu,

Faz a tarefa em mutirão


Os navios negreiros,

Não sangraram a alegria

Deste povo festeiro

Que no eito faz e ri

Festa, festa, trabalha e dança

Em um ritmo coletivo


Não tem suor neste pleito,

Que não seja por companheiros

Tenho muito despeito,
por quem trabalha e não canta ...

e deixa a vida sem jeito.

Garganta é o percursor, o sujeito


Que agora chamam de Samba!

(Iberê Martí)

EU, meu passo


 

Eu procurei vida inteira ser passarinho

Viver em paz, e construir sublime ninho

Pra conseguir o que vendem, segui protocolo

Pratiquei os rituais, crendo na beleza de Apolo

 

Nos imortais busquei, minha fonte de inspiração

Segui os normais, puros e bravos de coração

Em cada medida, detalhe e receita de bolo

Sem bola dividida, mesmo junto aos tolos

 

Foi assim que cresci e perdi juventude

Carrego como herança a falta de atitude

Olhos sem esperança, observando o normal

Quando era criança sonhava ser imortal

 

Hoje respiro o mundo e o vejo distante

Não tem graça o amigo, nem prazer a amante

O Tempo passou, eu fiquei no caminho

Já não tenho asas, não sou mais passarinho

 

(Iberê Martí)

Fale com Ele


 
 

Quantas vidas você precisa pra ser feliz

Quantas penitências vai ter que pagar

O que exatamente o livro sagrado diz

Você deve ser feliz, e respeitar, e amar

Por que tanto medo de um grande juiz

Se esse medo só te faz parar, e pagar

 

Fale com Ele, ouça a dele a própria voz

Suba numa montanha, sinta o vento

Veja o curso do rio, da nascente à foz

Relaxe, não sinta nada num momento

Agora O sinta, vivendo dentro de nós

Observe as serras, a terra, firmamento

 

Estique as mãos, até alongar a palma

Converse com seu corpo, você é capaz

Alongue-se nesse momento de calma

Afaste todo sentimento fugaz, mordaz

Perceba a alegria que paira na alma

E cultive o novo sentimento de Paz

 

Se já chamado de Osiris, também de Zeus

Já foi conhecido por Júpiter, ou de Jah

Para os índios, Tupã, para todos, um Deus

Ele é Oxalá, Iemanjá, Ele é Jeová, Ele é Alá,

Odin, Huracán, Natureza, Brâman, Erê

Ele é tudo, Ele é o nada, Ele sou eu e é você

 

 

(Stéphano Diniz)

terça-feira, 18 de março de 2014

Desmedida


 


O poema mais bonito

Ainda não foi descrito

A moça mais sincera

Bordará uma aquarela

Um jardim todinho em flor

Eu vestirei a armadura

Os vestes de um andarilho

Colocarei meu juízo em trilho

Na bastilha, armado de poemas

Pra declamar em qualquer lugar

Aonde o juízo há de deixar

Vou entrar sem permissão

Dentro de pedra e coração

Serei água contra a corrente

Confessório de delinquente

Medida de contestação!

 

(Iberê Martí)

Ouça voz da Liberdade

 
 



Um dia eu vou chutar de canela

Zagueiro na final em terra batida

Com a humildade eu farei tabela

Lançar pra fora essa ilusão desmedida

 

Meu coração não tem dom de empregado

Que pública, nem república, que nada

Meu espírito é funcionário sem patrão

E caminha sempre de alma renovada

 

Um dia eu convidar os meus amigos

E ela que escreve belos poemas

Pra viver uma vida de perigos

Nossas veias terão vivacidade de floema

 

Uma chaleira, um lençol aos quatro ventos

Cantar que deus não é mau ou vingador

Que o mundo não é feito de lamento

Mandar pra lua esta pose de doutor

 

Um dia vou dá lhe na riqueza de caneta

Por entre os créditos deste mundo de cartão

Partir pra praia, meu pobre casulo será rede

Matar a sede sem necessidade de padrão

 

Em resumo, mandar ao escambau o tal consumo

A simplicidade será minha fonte, e inspiração

Partir sem medo, sem caminho e sem rumo

Livre de rédeas, e dono do meu coração!

 

 

(Iberê Martí)

Simplicidade


  

Você diz que meu casaco é pior que tua jaqueta

Mas a diferença foi apenas o preço da etiqueta

A tua é mais cara, mas ambas são de algodão

Ambas protegem do frio e aposentam no verão

 

Você só come comida cara porque pode pagar

Não sabe o sabor da fruta que eu pego no pomar

Eu como o tomate e alface colhido na minha horta

Seu caviar te alimenta tanto quanto a minha torta

 

Você diz que teu vídeo game é de última geração

Mas vive preso com seu luxo atrás de um portão

Seu conforto vive preso na segurança das grades

A sua vida sempre foi menor que minha liberdade

 

 

(Stéphano Diniz)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Outdoor


 

Puseram, com muito dinheiro e suor

Um outdoor, com uma bela imagem

De uma montanha, com o por do sol

Uma linda foto, mas que bobagem

Eu quis ver o verdadeiro por do sol

Mas ele estava tampado pelo outdoor

 

(Stéphano Diniz)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Menor delinquente


 

Os homens e seus prédios

E seus tédios

Sua vilezas

E suas certezas.

Vãs,

Caminham

Olhando pro céu

Ignorando...

As estrelas são o passado

As estrelas são o passado

As estrelam já morreram

Enterrem. Enterrem

Oh, Deus misericordioso

Desenterre os homens,

Sete palmos e uma cova!

 

(Iberê Martí)

quarta-feira, 12 de março de 2014

A rede que balança sonhos


 

Da infância há lembranças que ficam

Vagas vazias, labirinto sem porta de entrada

Lembranças tolas, imagens singelas

Temo esquecer, como exemplo, dormir na rede no meio da floresta

Em noites molhadas, a água da chuva fazendo orquestra

Em conta gotas, das folhas das árvores despencando na relva

Pura e doce nostalgia - quase profana melodia.

No outro, de manhazinha. Purpurina de encanto e festa

Alvorada serena seca, com canto de orvalho no bico dos pássaros

Suas gargantas a toda a tona. Reinventando a tristeza da noite

Ah, quanta bobagem de lembrança abandonada.

Eu que nem me ouso esquecer. (Nem por um instante.)

E foi somente hoje que percebi o desmerecimento, minha indiferença

O quão o inútil é imprescindível, âmago fundamental

Hoje sei que a maior vantagem de dormir na rede,

É balançar sonhos em um enredo de criança!

 

(Iberê Martí)

Quimera


 

Não sou árvore de viajante, nem tenho raízes

Não planto estrelas. Viajo margeando cometas

As vezes cometo delitos, cavaleiro andante

Cavalheiro parado. A dama que me ama,

Se me entendesse em partes, me amaria?

Quanto amor desperdiçado, por brandos corações

Serpentes, estrelas, donzelas... alucinadas.

Só guardo água em peneiras. Não tenho posse.

Não faço pose. O tempo me esquece, em cada esquina

Sou sem juízo. Não tenho graal, nem carrego doutrinas

Sou livre aos avessos por ser. E as vezes sem querer,

Perdido me encontro. Como um tonto, embriago na rua

Minha casa é a lua, minha mãe e meu pai, minha face lavada.

Meu irmão eu perfaço no lixo. Sou graxa, sem graça

Lubrifico-me quando te amolo. Lima, laranja.

Tive uma granja quando criança. Vendi ovos pra caridade

Criei abelhas pra roubar mel. Fui nativo. Tive um fecha.

Meu cabelo cheio de mechas. Loiras castanhas.

Agora me acho um tanto sabido. Sou atrevido

Não tenho vontades. Sou um fidalgo diplomado.

Um mal amado. Um mal lavado. Um mal e meio

Um mal centeio. Um mal a menos. Um mal só, há mais ....

 

(Iberê Martí)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Viagens em versos

 

Vou escrever um livro

Um livro de autoajuda

Pro louco,

Pro líder,

Pra surda

Serei um escritor do presente

 

Vou escrever um poema

Um poema funesto

Pro homem macabro,

A mulher em incesto

Serei poeta...

Vagarei multidões

 

Vou escrever um gibi

Desenhar um gibi irônico

Cheio de armadilhas,

Certo, e por hora cômico

Serei um alimentador de vaidades

 

Vou escrever um jardim

Com metáforas e seus Sorrisos,

Serei um guardião de desavisos

E deste dia, em diante...

Escreverei sobre mim,

E as mensagens que florescem em você!

 

(Iberê Martí)