Existe gente que reclama a falta de tudo,
Consumo, Tempo, Opinião.
Minha felicidade é um latifúndio,
Sou fazendeiro sem nenhum palmo de chão
Também não tenho palavras aos tolos
Minha escada não alcança, o muro dos ouvidos
(Maior que todas as barreiras, escutar)
Minha única fronteira é viver a Transgressão,
Transgredir o óbvio, transgredir o ópio, transgredir de
geração...
O normal, o natural, o banal, o formal, transgredir há Ilusão.
Não pretendo confirmar, afirmar, provar, comprovar, está
certo...
(Têm tantas coisas inúteis que a gente passa a vida inteira
tentando decifrar.)
Meu erro é apenas ver, e me contento em contemplar
O canto das aves, a fuligem da cana, o céu cinza de agosto
O desgosto dos que nada têm.
O pôr do sol, o nascer da lua (de dia)
O esconderijo do tatu, a astúcia do gato, o companheirismo do
cão.
Realmente, tenho que afirmar (novamente?) que não tenho
palavras aos tolos.
Mas pra meretrizes minha alma é eterna,
Pra Siriema, pra Estrela, pra Dalva...
Meu peito é o infinito de uma constelação,
que mal cabe dentro de si
Estreito como uma galáxia.
Profundo igual buraco negro...
Tenho tido muito percalços na vida,
Tenho fugido de mim mesmo por eras
Mas não tenho compromisso com nenhuma primavera.
O que faz um homem avançar, continuar, prosseguir
É o Desafio do movimento, obscuro e incerto...
O impossível, o imponderável, inalcançável, imaginável, inadmissível...
O desafio aflora semelhante um lançar se pra fora, da ilha
deserta que lhe habita,
O hábito mórbido, a monotonia, as coisa prontas, os inventos
acabados
O vento parado, a água do lago, a imensidão do mar, o azul
do céu...
Tenho pouco, quase nada me compreendido
Este talvez o último desejo que me resta,
Conquistar a ambição dos Andarilhos
Nos trilhos do início que não tem fim,
é palavra se fez verbo e o verbo tornou-se carne!
(Iberê Martí)