quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um Desafio


 

Existe gente que reclama a falta de tudo,

Consumo, Tempo, Opinião.

Minha felicidade é um latifúndio,

Sou fazendeiro sem nenhum palmo de chão

Também não tenho palavras aos tolos

Minha escada não alcança, o muro dos ouvidos

(Maior que todas as barreiras, escutar)

Minha única fronteira é viver a Transgressão,

Transgredir o óbvio, transgredir o ópio, transgredir de geração...

O normal, o natural, o banal, o formal, transgredir há Ilusão.

Não pretendo confirmar, afirmar, provar, comprovar, está certo...

(Têm tantas coisas inúteis que a gente passa a vida inteira tentando decifrar.)

Meu erro é apenas ver, e me contento em contemplar

O canto das aves, a fuligem da cana, o céu cinza de agosto

O desgosto dos que nada têm.

O pôr do sol, o nascer da lua (de dia)

O esconderijo do tatu, a astúcia do gato, o companheirismo do cão.

Realmente, tenho que afirmar (novamente?) que não tenho palavras aos tolos.

Mas pra meretrizes minha alma é eterna,

Pra Siriema, pra Estrela, pra Dalva...

Meu peito é o infinito de uma constelação,

que mal cabe dentro de si

Estreito como uma galáxia.

Profundo igual buraco negro...

Tenho tido muito percalços na vida,

Tenho fugido de mim mesmo por eras

Mas não tenho compromisso com nenhuma primavera.

O que faz um homem avançar, continuar, prosseguir

É o Desafio do movimento, obscuro e incerto...

O impossível, o imponderável, inalcançável, imaginável, inadmissível...

O desafio aflora semelhante um lançar se pra fora, da ilha deserta que lhe habita,

O hábito mórbido, a monotonia, as coisa prontas, os inventos acabados

O vento parado, a água do lago, a imensidão do mar, o azul do céu...

Tenho pouco, quase nada me compreendido

Este talvez o último desejo que me resta,

Conquistar a ambição dos Andarilhos

Nos trilhos do início que não tem fim,

é palavra se fez verbo e o verbo tornou-se carne!

 

(Iberê Martí)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Sol Nascerá



Mesmo que andes por vales escuros
da morte, nunca temas a escuridão
Continue andando, que no futuro
A noite irá se transformar em dia
De todo teu medo, se fará alegria
Uma flor brotará no teu duro chão

Mesmo que acordes num dia errado
Numa manhã cinza de segunda feira
Levante-se, sem olhar para os lados
Erga a tua cabeça e siga em frente
O que hoje é apenas uma semente
Amanhã será a mais bela roseira

Mesmo que sua alma te atormente
E mergulhes no mar do desespero
Acalme-se, reflita, persista, aguente
Ouça o belo canto de um rouxinol
Abra a janela, veja o nascer do sol
E o sorrisos na cara de toda gente

 

(Stéphano Diniz)

domingo, 24 de agosto de 2014

De Agosto à desgosto

 

De Agosto à agosto

No pó da estrada

Na fuligem da cana

Sobre a terra cansada,

O homem reclama

Reza e chora há Vida

 

Lágrimas de sol à sol

Suor pele ressecada

Mãos riscos e marcas

Lida calejada do Povo

Vão emprenhando o chão

Benção e chuva pro divino

 

Seca de norte à norte

A morte bate na porta

Na boca rachada sorriso

Aviso de sorte renovada

Migrante segue o zunido,

O Vento de nova enseada

 

Esperança do dia à dia

Caminha leve, devagar

No altar fica a pressa

No balcão deixa a prece

Sabedoria do sertão,

Que se é preciso navegar

 

(Iberê Martí)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Menestrel




Eu fui um poeta dos antigos

Caminhei nas nuvens e vasto

Travei luta contra moinhos

E tenho o Vento como amigo

 

Passei ileso pela idade média

Coração enfermo, peito doente

Carente, cadente sem direção

Séria e trágica, evidente Comédia

 

Fui por tempos um trovador

Pelas estradas e pelos caminhos

Com pés rachados, dor e suor

Cantarolando as coisas do Amor

 

Hoje o aedo me devolveu o papel

Fui ao céu condecorar querubins

Meus olhos refletem dura realidade

Mas em sonhos, sou um Menestrel

 

(Iberê Martí)

domingo, 17 de agosto de 2014

Vida e Sabedoria


 
O que conhece da vida
Aquele que somente estudou
O CDF, a bunda a cadeira
Limpa o que com seu Papel?
No céu só há único doutor
 
O que conhece da vida
Aquele que somete estudou
Na carteira assinada, diária
Calos, mãos força Motriz
Energia pro inferno acumulou?
 
O que conhece da vida
Aquele que somente conquistou
A mulher, a vizinha, a empregada
Esposa do presidente, do amigo
Que é História se nunca contou?
 
O que conhece da vida
Aquele que somente multiplicou
Os bois, as terras, os inimigos
Dívidas, crime ou castigo
Justiça que (ele) comprou
 
O que conhece da vida
Aquele que somente reclamou
Do amor, da chuva, do sol
Da secura do Tempo,
Que indiferente continuou

O que conhece da vida
Aquele que somente sonhou
Com fazer leis, criar burocratas
Puxa-sacos, vampiros, aristocratas
E que dos cegos desdenhou?
 
O que conhece da vida
O homem que nunca chorou
Que contou mentiras na guerra
Confidenciou verdades na morte
E foi a Sorte o que lhe restou...
 
O que conhece há VIDA!!!
 
(Iberê Martí)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Sétimo Selo


 

Desejamos um abraço cândido e forte

Há voz da morte é nosso Sétimo Selo

A Vida não se compra vende na esquina,

Tanto faz se mais rico, mais puro ou belo

 

O troço vital mais certeiro é o Tempo

Se o vento bafeja na tua cara ampulheta

E o veredito final pode ser um falso lento

Só o Artista ouve os sons das trombetas

 

Uma partida, um mero jogo de xadrez

Um monólogo entre profetas ardilosos

Soldado e o medo, resignado na bastilha

Igual cura de câncer em estágio avançado

 

Há quem pertence a vez última da Sorte

Há quem dedico o meu último suspiro?

Não é lampejo, crime pecado, castigo

É o abandono inexplicável dos vivos

 

“Um susto, um sopro” antes do beijo fatal

Não é natal, nem carnaval ou dia santo

Talvez o Nada seja o tremido juízo final

É o Acaso o guardião deste latíbulo!!!

 

(Iberê Martí)

domingo, 10 de agosto de 2014

Alvorada


 

Eu gosto é da coisa largada

Da arte, do improviso, da vida

Da amorfa gasosa e fragmentada

Eu gosto é do calor das pessoas

Da meretriz, da amante, da louca

Da feia, banguela e mal falada

Eu gosto é da madrugada

Da noite sem norte, sem rumo

Do sonho e do exagero da amada

Eu gosto é da Conversa Afinada

Do sono sonoro do violão

E da incerteza da estrada

Lá onde o sol nasce e se põe

Como as ideias que residem

No caminho eterno, Alvorada!

 

(Iberê Martí)

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Des Cansar


 

Vou coletar frutos na mata

Quente úmido até grão germinar

Irrigar mudas, brotar árvores

Pro Progresso vir e derrubar

 

Vou (re)conquistar Afrodite

Construir uma oca na serra

Criar filhos, cultivar amigos

Pra Solidão um cadim afagar

 

Vou de dor pra aliviar um livro,

Outra afiada conversa de bar

Replicar conto, inventar história

Pra Memória não me deixar

 

Vou comemorar o perigo

Subir no altar do déspota

Plantar trabalho, colher azar

Até que encontre outro abrigo

 

E desta Vida (des)cansar!

 

(Iberê Martí)

domingo, 3 de agosto de 2014

Fotografia de parede


 

Ou se arremessa no espaço

Andar rente aos aviões

Igual fotografia antiga

Branca e preta, desbotada

 

A imagem na memória

O vazio sufoca o peito

Outra história inacabada

As variadas que coleciona

 

Os dados armazenados

Amontoado de quimeras

Dragões Sereias e feras

Alcaloides me protejam

 

Fronte a imagem do santo

Uma dose, outro bar, novo lar

Amigos, e descabidas paixões

E você olha no espelho e se vê

 

Semblante de fotografia,

Retrato de parede

- bigodes e vestidos -

 Em casa de vó!

 

(Iberê Martí)

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Os Delírios

 
E tu permanece por cima,
Na mesma pedra sentado
Lutando com seus moinhos
Inventando falsos abrigos
 
E tu permanece por baixo
Ouvindo as vozes do vento
Alimentando suas miopias
Teu universo de quimeras
 
E tu permanece inquieto
Lutando com seus dragões
Pisando em falso, e certos
Descompasso de aflição
 
E tu permanece pasmo e inato
Inverte a órbita ingrata do tempo
Enfrenta a vertente, que vê é real
Torna simples a realidade vivida
 
(Iberê Martí)