quarta-feira, 30 de abril de 2014

Meu querer


 

Meu querer

Te quer,

Tanto...

Que diacho,

Nem me acho.

Tampouco lhe,

Encontro.

Meu dizer

Minha voz,

Rouca e trêmula

Treme, treme, treme ...

A corda,

(acorda)

Garganta...

Arrebenta

Outro tom,

Outro dom

Um novo nascer...

Meu querer

Meu dizer

Meu viver

Meu (des)encontro!

 

(Iberê  Martí)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Das coisas inúteis que os homens inventam


 

Inventaram o patriotismo,

Para justificar despotismo

Inventaram a bandeira,

Pra encobrir a sujeira

Inventaram o hino,

Pra substituir o sino

Inventaram a identidade,

Pra marcar a maldade

Inventaram o partido,

Pro povo viver dividido

Inventaram a constituição,

Pra repreender o cidadão

Inventaram a gramática,

Pra engolir a didática

Inventaram o arame,

Pra isolar quem passa fome

Inventaram o gênero,

Pra matar o efêmero

Inventaram profissão,

Pra prender artesão

Inventaram o luxo,

Pra responder o lixo

Inventaram o civismo,

Pra adoçar o masoquismo

Inventaram a ciência,

Pra venerar a eloquência

Quem inventou o Abandono?

E Vive triste em seu trono...!!!

 
 

(Iberê Martí)

Nada Mudou


 

No dia em que eu nasci

Nada mudou

No dia em que eu andei

Nada mudou

No dia do meu primeiro beijo

Nada mudou

No dia do meu primeiro porre

Nada mudou

No dia em que eu saí de casa

Nada mudou

No dia em que entrei pra faculdade

Nada mudou

No dia em que eu me formei

Nada mudou

No dia em que eu arrumei emprego

Nada mudou

Nada muda em minha vida

Minha vida continua igual

Continua mudando

 

 

(Stéphano Diniz)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Lápide


 

Em minha Epígrafe,

Terá lugar, O Lamento?

Caberá só esplendor

Alegria ou tormento

 

Terei por vocação,

Muitos arrependidos

(Devotos e santos)

Amigos perdidos

 

No Espaço, no Tempo,

Se entram em contato

(Segunda-feira, madrugada)

Voo livre de contrato

 

Tenho Amizades assim,

Trem sem encruzilhada.

Plano de disco voador

Trilho sem fim, Vida Amada!
 
(Iberê Martí)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Pérolas


 

"Ostra feliz não faz pérola"

Rubem Alves quem contou

Mas pra que serve pérola?

- O menino argumentou!

 

Pérola é ouro, diamante, prata

Em si representa, elevado valor

Mas serve pra comer? Pra beber

- o menino, vírus areia, indagou.

 

Você não entende dos adultos.

Você não entende o preço do valor

Você é menino. Tem muito a aprender

- o homem adulto e sério, informou

 

Aprender comer ouro, pérola prata?

Aprender a dor que mata?

E o feito cascata? Disse o menino:

- Obrigado, já tenho o Amor!

 

(Iberê Martí)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Idealista


 

Não compro meu preço

Nem cobro trocados

Trocando em miúdos

Já ando calejado

 

Não sou parte, sou todo

Faço da vida aos avessos

Tenho meus compromissos

Por meus valores apreço

 

Não me entupa de informações

Procuro na Sabedoria

Na luz do conhecimento

Trilhar trilhos novos e dias

 

Não me cabem mandamentos

Meus pensamentos são teias

Tenho posicionamento

E minha ideia incendeia

 

Quando cortei o cabelo

Me chamaram de traidor

Amigo de feiticeiro

Amante do esplendor

 

Não carrego tatuagens

Nem personifico em tribos

Meus conceitos bobagens

E trato todos como amigos

 

Aos que blasfemam mudanças

Façam da palavra vossa prática

Aceite a solidão e o abandono

A dialética é diva, didática

 

No Meio, o fim é ferramenta

Toda atitude transforma

Sensibiliza a fome de outros

Na mesa de quem se reforma

 

Descalço, despido de alma

Acredito em outros argumentos

Dou créditos aos que sonham

E não faço opções por lamento

 

Não sou poeta, sou bobo

Meu ninho pássaro que canta

Tenho dúvidas e pesadelos

E a porta bate na garganta

 

Minha janela tem culturas

Casa sem paredes ou teto

Cultuo tantas maneiras

Neste planeta de arquitetos

 

Quando tráfego por pontes

Feito menino ou palhaço

Encontro outros horizontes

No calor de quantos abraços

 

Prezo tontas tolices

Acredito em meus inimigos

No vento sopro sandices

E no acaso me abrigo

 

Não controlo a história

Nem me rendo ao passado

Temos tanto há construir

O mel nem sempre é amargo

 

Não vago divisas ou cercas

A desobediência meu carma

Peito com peito arames

A Utopia é minha arma

 

Não tenho respostas

Busco pelas perguntas

Nem faço apostas

Tenho minhas permutas

 

Não vou dizer que sou feito

Nem duvidar que estou pronto

Tenho princípios de leito

E não me confesso pra santo

 

Aos que creem em magia

Entregam-se ao destino

Percorram outra alegoria

Engendrem novo desatino

 

Não sou careta, nem louco

Gosto de bruxas e ciganas

Nosso cordão umbilical

Fadas de quem se engana

 

Meu sorriso é tímido

Não vim aqui pra dizer

Meu amor pelos inválidos

Estes que validam meu ser

 

Há ideologia é pra beber

Na fonte das (r)evoluções

Meu coração vai querer

Amar com outros, Corações!

 

(Iberê Martí)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Josué de Castro


 

Nascido no Pernambuco

Terra dos canaviais

No meio de um povo matuto

Caracóis e manguezais

 

Josué nesta terra cresceu

Criado ao lado da fome

Josué não entendeu

O povo não tinha nome!

 

Depois foi pra capital

Estudar, tornar doutor

Nunca esqueceu do mal

Funestos olhos do trabalhador

 

Josué foi esposo e amante

Do Povo que o viu nascer

Para ele o mais importante

O Alimento, ter o que comer

 

Foi nessas terras tupiniquins

Que Malthus foi derrotado

Convocaram O Pasquim

Para os olhos do injustificado

 

Pois a fome não é natural

É um problema dos homens

O Poder abraça o banal

Seleciona os que mais consomem

 

Agora o mundo inteiro sabe

A miséria é social

Na terra que tudo cabe

A fome não é casual

 

Foi então presidente da FAO

Sua terra não (re)conhece.

Um homem e um Ideal

A História nunca esquece

 

Josué tua causa é eterna

Nossa luta tem codinome

Josué nossa casa materna

Ainda sofre o problema da fome

 

Por estes rios sem história

Diligentes da histeria

Burguesia sem memória

O Vento ecoa um Novo Dia

 

Aonde os desiguais

Tenha igualdade de condições

O Vento trás os sinais

O Tempo faz as revoluções!

 

 

(Iberê Martí)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pinturas e Telas


 

Já não me importam os escravos do tempo

Controlados pelos senhores do destino

Povo pobre coitado, que adora ser escravo

Não percebe, pois é escravo desde menino

 

Já não me interessa os profetas do passado

Ou os que só prometem riquezas no futuro

É mais importante a liberdade de um mendigo?

Ou o conforto de um castelo de altos muros?

 

Já não me importa saber onde é o paraíso

Nem se existe, se é uma coisa ou um lugar

Quem esta no paraíso não sabe onde está!

E quem procura o paraíso nunca vai chegar!

 

Já não me interessa ficar nessa mesmice

E não procuro a felicidade ou coisa parecida

Melhor levar vida de rei por um único dia?

Ou viver na classe média por toda a vida?

 

Me interessam livros antigos, novidades novas

Me interessam mulheres inteligentes e belas

Me importo com o povo, com o meio ambiente

Me importo mais com as pinturas que com as telas

 

(Stéphano Diniz)

Rebuscadas


 

Tenho uma infindável saudade dos livros,

que não li.

Sinto uma imensurável candura pelos amores,

que não conheci

Rogo uma estima infinita pelas sementes,

que não plantei

Rego os fungos que tomam conta dos frutos,

 que não colhi

Aguardo ansioso o âmago do futuro,

que não escolhi

 

Tenho bem mais que palavras presas na garganta,

[agarradas se gastam entre sentidos e sentimentos]

Entretanto não devolvo, nem em sonhos devolutos,

minha inocência.

Prezo bem mais as lembranças do Interior,

de minha infância... em minha mata

Quando ia catar fruto no cerrado, pescar lambari no rio

(E se deparava com onça, cobra, tamanduá, lobo-guará)

Ia eu e minhas amizades gratuitas,

Construídas ao acaso no futebol

 

A gente cortava varjão de bicicleta

Rio a gente atravessava de canoa

E se escondia pra “roubar” a ceva de dona raimunda

Mesmo com bornal carregado de peixe

(A gente tinha um sorriso pra peraltagem)

Todo aquele Sertão era meu,

Era seu, era nosso... “usucapio”, em latim

Terra não se prendia em registro de cartório

(Quem era o dono, do Abandono?)

Estas memórias guardei em um baú,

e lancei as chaves no mar.

Mas o Araguaia é rio?

Eu já não sou mais menino!

(Iberê Martí)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Possuía as curvas de um rio


 

Possuía as curvas de um rio

Cantava o canto de um sabiá

Emanava o encanto dos lírios

Viva o destino ao Deus-dará

 

Se adornava como uma cigana

Conchas, enfeites de missanga

Brincos, anéis, colar, bandana

Quadril coberto por uma canga

 

Pessoa que um dia o mar levou

Meus sonhos, pra longe se fora

Só a lembrança dela me restou

Minha dona, a musa inspiradora

 

(Stéphano Diniz)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Calcanhar

 

Meu calcanhar desprotegido

Vaga por vários lugares

Vazio em campos temidos

E amante dos luares

 

Meu calcanhar desprotegido

Caminha junto a corrente

Como o olhar surpreendido

Ante indiferença do indigente

 

Meu calcanhar desprotegido

Pouco é dono de minhas palavras

Quando o silêncio interrompido

Roubam o ouro de minha lavra

 

Meu calcanhar desprotegido

Mal sabe as visões de tândera

Por todo o tempo percorrido

Fez se velha, a Nova Era!

 

(Iberê Martí)

Criticidade


 
Falar é voz
Ouvir é vez
Dizer é foz
E a Fonte fez...
(Muda, no conforto de seu silêncio. No enredo de seu ruído pragmático.)
 
(Iberê Martí)

sábado, 12 de abril de 2014

O que fica


 

Na passagem pela terra

Nada fica, tudo sobra

Deixarei pra trás saudades

Amigos, lembranças, imagens

E nada mais...

 

Na passagem pela terra

Nada sobra, tudo fica

Deixarei pra trás argumentos

Piadas, sorrisos, lamentos

E nada mais...

 

Na passagem pela terra

Sobra fica, nada tudo

Deixarei pra trás cantoria

Alegorias, danças, alegrias

E nada mais...

 

Na passagem pela terra

Tudo nada, fica sobra

Deixarei pra trás a obra

Livros, infância, poesia

E nada mais...

 

Na passagem pela Vida

Na sobra do nada fica tudo

Deixarei pra trás despedidas

Amores, paixões que cativo

E nada, nada. Nada mais!!!

 

(Iberê Martí)