segunda-feira, 26 de março de 2012



Por Paulo Roberto Paulinho

Em plena calada da noite
Bem longe do pantanal
Ceifaram lhe os pensamentos
Em pleno Planalto Central
Dormia, e sonhava
Nos aconchegantes braços de Morfeu
Eram firmes os seus traços
Imaginava o céu somente seu
Tupã lhe chamou de forma desagradável
E às padrarias celestes lhe chamou
Num instante imaginável
Retumbar os tambores
Ecoando de forma nervosa
Emanando uma gama de amores
Na terra virgem e calorosa
Soldado da eterna vigia
Lamento de quem nunca testa
A luz da estrela guia
Que de brilho nada mais resta
Da canoa que nunca voltará
Da eterna viagem fútil
Que o tempo ainda mostrará
A verdadeira atitude sem brio
Mas... mesmo julgando os culpados
Justiça, nem mesmo com garra
Pois os pobres infantos resignados
Estavam vindo de sua homérica farra
Banquete em bandeja de prata
Se servindo da mais fina candura
Assim estavam os moços, antes da “assassinatura”
Hoje, morreram para os índios
Cavando suas próprias sepulturas
E sabendo não serem eternos lindos
Pois, terão, também queimaduras
Burgueses do Plano Piloto
Aqui jaz seus nomes também
E mesmo após o arroto
Serão filhos, netos, bisnetos, porém
Filhos da hipocrisia
Fartos de imaginação
Calamidade em pleno movimento
Num país sem calma, sem rumo
Sem uma linha de pensamento
Sem media, sem nível, sem prumo
Mundo mascado, cuspido
Esculpido já nas mortalhas
Lavado, alvejado, escorrido
E cercado pelos “pseudohomens” com medalhas
Por todos os poros e veias
Por todas fardas também
Iluminarem as tiras fajutas
Que vegetam aos olhes de ninguém

domingo, 25 de março de 2012



Brilha a lua... a lua brilha...
pisca, pisca, risca o céu.
E tudo para... estátua tua.
Nua face, ali, calada.
Feito peso de papel.

Pelo menos o tempo já não voa
Pois boa é a vida somente...
Que não é tão à toa.

Mas por outra toada,
Olhando por inúmeras lentes...
O que me adianta
O brilho no olho,
Se não me perco em cada vertente...?
Se grito calado...
Do lado de quem me ‘movimente’?

Lucas Guimarães Amâncio

sábado, 24 de março de 2012



O tempo para…
Suspira e contempla
A estrela a brilhar timidez.
A Lua Cheia mascarada de nuvens
Exibe-se exuberante.
Só, a estrela apega- apego?
Reduz o ego e seduz!
Bloqueia cinco sentidos e atos
Em seus sorrisos.
Olhar profundo...
De quem se pode confiar.
Estrela percebe?
O encanto em seu silêncio.
Pura imaginação, minha, apenas?
O tempo para...
O coração dispara
Pula como criança.
A consciência transpira
Aura ascende
Transcendendo positivismo.
Prisioneiro das circunstâncias?
O tempo para...
A admirar a estrela.


Iberê Martí

sexta-feira, 23 de março de 2012





                                                                                                                      Por Mário Paulo A. Hennrichs


Sentado num bar sozinho, ouvindo um som qualquer e com um copo de um bom e velho Domeq bem na sua frente.
Por que você está sentado sozinho?
Talvez...
Talvez o que?
Talvez eu queira ficar um pouco sozinho pra pensar na vida. 
Talvez eu quisesse tomar um conhaque sozinho.
Talvez eu esteja esperando ela descer o lance de escadas e vir perguntar a mesma coisa.
Talvez eu responda que estava lá talvez por mim. 
Talvez eu responda que estava lá porque tinha esperança de encontra-la naquela noite.
Talvez eu apenas dê uma risadinha sem graça e ofereça uma cadeira.
Talvez ela sente, talvez ela vá encontrar alguns amigos.
Talvez ela nunca chegue, talvez ela nem exista.
Talvez eu precise de um psicólogo.
Talvez eu seja um ‘sadomasoquista’ mental e nem saiba.
As vezes eu não sei realmente se estou me sentindo sozinho ou se eu quero me sentir sozinho.
As vezes não sei se eu conto desses problemas pra dividi-los e aliviar meu fardo ou se eu conto pra ganhar um pouco de pena e atenção.
Talvez seja um pouco de cada. 
Estou carente ou eu quero estar?
Ninguém gosta de ficar abatido, por isso eu nunca (quase nunca) pareço estar triste.
Queria ser um pensador, as vezes eu simplesmente não penso em nada, não questiono nada.
Malditas dúvidas, tento soluciona-las todo dia, mas não consigo, preciso ser questionado, posto a prova. Só assim para saber mesmo como agir.
Ficar filosofando não costuma ajudar em questões dessas. 
Quem é você?
Quem é você que fica ai escrevendo, achando que é um escritor dos anos 40 alcoólatra e fumante?
Quem é você que... que... raios, nem me perguntar quem eu sou esta sendo fácil.
Acho que realmente eu preciso de um psicólogo, talvez ele consiga fazer as perguntas que eu preciso.
Quanta confusão para uma noite e um drink
Talvez algumas feridas ainda estejam abertas. 
Na verdade uma só ferida. 
Talvez eu ainda não tenha me acostumado de a solteiro novamente.
Talvez seja só uma fase, e depois que eu repetir essas perguntas pra mim mesmo várias e várias vezes eu não encontre uma resposta, mas encontre a tranquilidade.
As noites podem até estar sendo um pouco difícil, mas pelo menos os dias estão melhores.
O céu mais azul que nunca, o ar está mais limpo. 
Claro que ainda existem pedras no caminho, mas nada que não de para passar por cima.
Os dias estão realmente bonitos. Olhando pela janela eu acabei de confirmar.
Um dia lindo, um almoço delicioso entre amigos daqui a pouco e um pouco de ócio a tarde.
Talvez eu seja apenas um chorão noturno. Como um bebê que precisa ser amamentado na madrugada.
Talvez seja isso, se for, é ate engraçado. Um bebe com 22 anos, que mora sozinho.
É engraçado mesmo.
Se bem que tem mais uma questão.
Talvez tudo isso que esta descrito nas linhas anteriores não seja nada mais que sentimentos humanos normais.
Talvez o que acho que deveria ser o normal, estar bem resolvido e feliz todo o tempo, de dia e de noite sem duvidas, não seja real.
Talvez eu seja um cara normal com sentimentos normais.
Talvez ninguém saiba ao certo quem é de verdade.
Talvez um dos sentidos de viver seja buscar a si mesmo.
Talvez se sentir sozinho seja um capítulo desse aprendizado.
Eu vou lidar com isso tudo e ver o que vai acontecer.
Acho que não preciso mais de um psicólogo.
Até a próxima.

quinta-feira, 22 de março de 2012



                                                                                                         Por Jamille Ravel  


Eis a questão. Qual a diferença entre o homem e o macaco? Qual a diferença entre o homem e o macaco? Qual a diferença entre o homem e o macaco?
Para os mais cristãos, a resposta é simples. O macaco é apenas mais um animal, dos tantos que Papai do Céu criou, e Noé gentilmente abrigou em uma arca. O homem é a imagem semelhança de Deus. E nós, mulheres, somos a imagem semelhança de uma costela de Deus.
Biólogos já diriam que a diferença entre homem e macaco seja ínfima, que vão além da combinação entre as quatro letras que formam os genes. Essa sutil combinação de letrinhas (que quase ninguém entende, apesar de ter decorado) é responsável por diferenças físicas entre as duas espécies, tais como postura ereta, mãos, mandíbula e laringe, dimorfismo sexual e principalmente o tamanho do cérebro.
A diferença é que nós temos capacidade de construir ferramentas, criar métodos de escrita, construir armas de destruição em massa, ter crenças, querer aproveitar a vida, ter sentimentos idiotas, etc. Se ensinarmos um macaco, ele pode escrever. Se ensinado, pode rezar, fazer exercícios de matemática e até construir um martelo ou machado. Mas a diferença básica é que ele precisa ser ensinado para construir um machado. Precisa que o ensinem a fazer exercícios de matemática, fumar charuto ou fazer malabarismo. A diferença mora na capacidade de o homem ter idéias e criá-las. Em libertar a mente, fazê-la funcionar como os animais não conseguem. Em inovar, criar novidades, ousar, libertar-se. Existem muitos macacos treinados entre nós. Acordam, trabalham, casam, vão à missa, acreditam no que lhes é dito, vêem jornal nacional, dormem. Apenas macacos treinados.
Vai uma poesia de um amigo sociólogo brasileiro que conheci no Mato Grosso, quando eu estudava os índios Enawenê Nauê.





No princípio, tudo era harmonia
Existia no mundo apenas animais
Girafas, macacos, marsupiais
Era a coisa mais linda que havia.

Não havia pensamento guerra ou luta
Todos seres vivos viviam em paz
Parecia tudo perfeito, mas
Era proibido colher uma fruta.

Eis que um macaco ignorou o perigou
Colheu, comeu a fruta proibida
Achava que não mudaria sua vida
Mas Deus lhe mandou um castigo.

Macaco explicou céu, sol, água e vento
Raciocinava tudo, sobre vida e a morte
Olhou seu igual, queria ser mais forte
Pois Deus castigou com poder do pensamento.







terça-feira, 20 de março de 2012

Mentes Invisíveis






Entre janelas fechadas...
As mentes abertas (ou aprisionadas?)...
No sistema.
Que globaliza sentimentos, cria valores...
Induzindo, julgando, condenado.
Satisfazendo à miséria...
Com mais e mais, miséria.
Notícias, só morte...a vida inexiste.
Resta a fé, esperança...
Esperança do tempo...que passa... e passa...
Mas, será que ‘Eles’ esperam?
O oxigênio acaba...
A ganância não tem fim.
As mãos revoltas, de punho vermelho...
Abrem janelas...e se transformam em estória...
Do que poderia ser...
O futuro, a justiça, a liberdade!
Maquiavélicas janelas moldadas...
Súditas ou sujas? Ricas ou pobres? Sujeito ou objeto?
Invisíveis, mas sempre presentes...
Mentes perversas. 

Iberê Martí

segunda-feira, 19 de março de 2012

O necessário



Não se apegue ao apego
Não apague o sossego
Não Padeça ao desespero
Não comece do começo.

Vire a vida pro teu lado
Viva a vida ao contrário
Faça parte do imaginário
Seja amigo e namorado.

Cultive o passado
O futuro, não obrigado.
Duvide sempre do vigário
Caso seja necessário.

Rafael Olivares  

domingo, 18 de março de 2012



Já passou da hora de aprender a tocar violão,
Não da pra fazer serenata sem som.
Já passou da hora de aprender a fazer poesia.
Não da mais pra alugar comedia romântica e copiar as falas.
Já passou da hora de aprender a escrever.
Se os poetas cobrassem direitos autorais você não poderia pagar.
Já passou da hora de aprender a amar.
Já passou da hora de parar de sonhar.
Já passou da hora de começar a fazer.
O que passou infelizmente não volta mais,
O que esta por vir felizmente ainda não chegou.
Tenho certeza que ela vem o mais rápido que pode.
Eu vou em direção a ela o mais rápido que eu posso.
Logo a gente se encontra.
Logo a gente se ama.




Mário Hennrichs

quinta-feira, 15 de março de 2012




Por Mário Paulo A. Hennrichs

Sentado numa mesa de plástico cercado de pessoas que não me conhecem, meu olhar cruza com um rosto conhecido. Além dessas pessoas e da conversa, que na verdade é um monólogo, meu corpo se torna um boneco, enquanto vejo um morro verde começar a se esconder atrás de um prédio, que tijolo a tijolo se torna a nova paisagem. Dentro de uma cabeça confusa  borbulham, crescem, evoluem e morrem- simultaneamente sentimentos e pensamentos. É um prazer totalmente novo descobrir que eu posso ser a fonte de tamanha inquietação.
            Me sinto burro e com um principio de cegueira ao perceber que paisagens das quais não usufrui o bastante estão sumindo atrás de prédios, paredes e outdoors. Ao mesmo tempo, encontrar uma janela nessas paredes, olhar o que existe depois de uma curva, que a alguns dias era simplesmente mais uma curva, alimenta diariamente uma curiosidade que é totalmente recente. Uma musica embalou o inicio de nova sede:

O VIAJANTE (Forfun)

É, o tempo é uma coisa relativa
Se hoje fosse ontem, amanhã seria hoje

De qualquer forma eu to tranquilo
Do jeito que tá que tá bom
Como dizia o síndico
Vai saber o que o gorila pensa

Pedi minhas contas, viajei e caí no mundão
Vou ver o mundo tendo o mundo como anfitrião

Florestas, rios, cidades e litorais
Pessoas, sentimentos, tradições e rituais
Colocarei meus pés em trilhas, pedras, manguezais
Fazendo o elo entre meus filhos e meus ancestrais
Serei sincero com o meu verdadeiro ser

Quero servir, quero ensinar, eu vim pra aprender

Me sinto em casa em qualquer lugar
Mas sou turista em todos
Sou viajante em qualquer lugar
Sou uma parte do todo

Num sonho eu era como o vento e podia voar

Voei pra ver as maravilhas de cada lugar
Dancei com os índios, mergulhei entre os corais
Troquei idéia com um coroa que era demais
Vi dreadlocks e confetes bailando no ar
E três amigas se abraçavam de se transbordar

Agradecido, aplaudi o pôr-do-sol
Por onde for terei seu fogo como o meu farol

...

Ê mundão, seu filho venceu o breu
Unifiquei meu corpo ao teu
E já não existe mais "eu"

              
               A maior de todas as descobertas foi a maior das motivações também. Lendo “On the Road” (Jack Keruac), eu tive vontade de pegar minha mochila e deixar tudo pra trás, viver a vida intensamente, aproveitar cada milímetro cúbico de ar- que carrega consigo um aroma diferente. Aproveitar o sabor da água do mundo inteiro.
               Mas não posso simplesmente juntar meus trapos e cair no mundo. O que posso é juntar minhas ideias e viajar pelo mundo. Minha mente proporciona a maior de todas as viagens, em um só dia consigo estar junto com Sal Paradise a Terry e o pequeno Johny colhendo algodão. Consigo passar pela verde planície do Condado, tomar um bom vinho com Hemingway passeando pela França. A ação deixo pra Mario Puzzo e seu poderoso chefão.
               Tem tanto ainda que não conheço, tanto que preciso rever. Uma vida só talvez não seja suficiente pra ver tudo, por isso preciso me apressar. Vou lendo pra me preparar, estudando pra garantir a partida, e imaginando pra alimentar a necessidade de pensar que parece me corroer.
               Empolgante. Só a assim pra definir o que eu espero pra amanhã. Com certeza alguma coisa vai acontecer, sempre acontece. Entre levantar e deitar tem espaço bastante pra fazer o mundo girar um milhão de vezes sob os meus pés, eu quero aproveitar cada centímetro dessa caminhada. É só prestar um pouco de atenção pra não perder nenhum detalhe. Ter um pouco de medo pra não perder a coragem. Um pouco de força pra não perder o animo e muita paciência pra não perder a razão.
               Espero poder dividir essa caminhada de uma mente viajante com muita gente, espero também e meus passos passados sirvam de lição e exemplo  pros meus passos futuros. Aprenderei a caminhar, e quando aprender, eu vou ensinar, então a estrada nunca morrerá.

terça-feira, 13 de março de 2012




Quero ouro, quero prata
Desta mata
Quero os vedes dos olhos da menina
Quero o riso das campinas
Deito e rolo
No colo do riacho
Correnteza abaixo
Descanso no gozo do remanso
Abraço da serra
Emprenhar a terra
Fruta madura
Rapadura meu amor
O beijo da flor
Vales e montes
O pingo da fonte
Arvoredos
Segredo do corpo dos amantes
Aves, passarinhos
Caminhos do sol
Vidas... 



Valdo da Silva

   Por do sol em SÃO TOMÉ DAS LETRAS 


                                                                (Foto: Lucas Guimarães Amâncio)

                                                   
                                                   Por Hugo Thamir rodrigues

Lembro-me de meu tempo de acadêmico
Aula, aula e aula. Depois,  o Bar.
Colegas diversos, de diversos cursos.
Colegas cultos, cultura geral.
O ambiente agradável...
Aprendi muito, muito mesmo:
Conhecimentos que jamais imaginava.
Em um banco, em uma cadeira, de um bar.
Desopilação total.
Conhecimento pelo prazer de conhecer.
O sentimento de se estar a vontade.
Tensão... nenhuma.
Nada de medos, nada de reprimendas.
Em uma mesa de bar se vigiava o mundo;
Resolvia os problemas do Brasil;
Em um banco, em uma mesa de bar.
Do futebol à literatura aprendia-se.
Aprendia-se sem dificuldades.
Em uma mesa de de bar nós sentimos à vontade.
Deixamos a mente vagar, fugimos do comum.
Uma mesa de bar: assim pretendo minha sala de aula.
Deixar os alunos a vontade.
Exteriorizar suas ideias mais íntimas.
Deixar fluir o gosto pela não imposição de ideais.
De normas castradoras; do temor.
Exibir conhecimento sim, impor terror nunca.
A sala de aula deve ser local de prazer.
Não de receios.
Em uma mesa de bar se aprende muito mais
Do que em uma tradicional sala de aula.

(Em Cáceres- MT)

sábado, 10 de março de 2012




O poema mais bonito
Ainda não foi escrito
Seu autor é desconhecido 
Morreu antes de haver nascido 
Foi declamado em praça pública 
Por um mudo 
Em homenagem aos surdos 
Um cego ao ver aquela cena 
Chorava que dava pena
Era o dia dos anormais 
Doentes físicos e mentais 
Paraplégicos e epiléticos 
Aplaudiam enérgicos 
Neuróticos e psicóticos
Vibravam eufóricos 
Cancerosos e leprosos 
Sentiam-se vitoriosos 
Lunáticos e neuropáticos 
Gritavam enfáticos 
Poetas e profetas, cabisbaixos 
Não entediam a mensagem 
O canto foi aos presídios e hospitais 
Alegavam os oprimidos 
E confundia os intelectuais 
Manetas escreviam a letra 
Em cadeiras de rodas e muletas 
Só um sonho 
Despertei pra loucura da vida real.


        Valdo da Silva
                                             (Foto: Rafael Olivares)

sexta-feira, 9 de março de 2012





Não, não foi surpresa o que Messi fez hoje. Apenas foi Messi. Foi apenas mais um jogo. Eu disse “apenas”? Como assim? Não, não é normal. Incrédulo, fico aqui, nessa cadeira, sozinho, revendo o seu comportamento e até esqueço os seus lances geniais. Messi tem algo a nos ensinar, uma mensagem enigmática nesses tempos de mudança, de ‘rEvolução’.
Messi é um jogador de futebol? Então tentam compará-lo com outros. Impossível! Jogador é quem joga, e ele não. Ele brinca, dança, se diverte, faz o que ama com paixão. E aí está a contradição, no ‘mercado’ do mundo, do futebol, é possível amar?
Encontrar adjetivos (coisas de tolos) é desnecessário, ineficaz, talvez diminuir a beleza ao nada, como já dizia Manoel de Barros. Os nomes, os adjetivos, apenas reduzem a essência do Ser. Não serei eu (criminoso?) de tal despautério.
Quero é compreender como consegue esconder ou ‘driblar’ a beleza (do mais belo gol) em um sorriso simples, em um abraço de gratidão aos companheiros. Gratidão? Devemos a ele, poder acompanhar cada detalhe de seus lances, em um mesmo tempo e espaço, “dês-graças” à tecnologia do mundo globalizado, a globalização.
E, mais majestoso do que seus lances, é sua concepção de disputa, de batalha. Messi não reduz o adversário. Ao contrário, engrandece, dignifica com a lealdade de herói. Talvez isso que incomode o mundo da competição. Não é humilhante perder de 5, 6 ou 7 se existe o respeito mútuo. E o que é respeito ao próximo se não o respeito próprio? O que é o esporte se não um lazer, diversão, alegria de viver. O que é a vida sem alegria?
Messi cospe no “pão e circo”, desafia o "sistema" sem pronunciar ou escrever uma única palavra. Seu olhar honesto tem um ar de Che. Abaixar a cabeça, evitar o confronto não é sinal de medo ou omissão. No momento oportuno, desviar o olhar é compaixão. Não devolver um pontapé, não revidar um xingamento, somente os fortes conseguem. Os que realmente acreditam em seu melhor.
    Messi devolve a arte ao futebol. E arte não tem pátria, gênero, credo, cor, religião...Arte é um bem universal. O mundo moderno já exemplificou que o meio é quem define o ser. Quem plantou essa semente foi Cruyff, com a preterida Filosofia, contrariando as Leis dos Reis da Economia. Não sejamos econômicos, a natureza requer uma visão holística. Messi não é maior, nem menor, é apenas um Sujeito, um Ser Humano, representante da unimultiplicidade, nesses tempos de “coisificação". E realmente, tem muitas coisas a nos ensinar.


(Escrito por Iberê Martí)
 (Foto: Reuters)





Ontem eu saí de casa e peguei estrada
Andando, ou fugindo da chuvarada
Da casa da praia pra casa da montanha
Saindo da casa, entrando na entranha
Para casa eu já vou

O teto da minha casa é o céu noturno
A rua da minha casa é a rua que eu durmo
Minha casa não é em nenhum castelo
O número da minha casa é do meu chinelo
Que já se arrebentou

  Uma vez numa dessas minhas andanças
Andando, lembrando das lembranças
Vi gente das estradas caminhando juntas
Curioso eu resolvi fazer umas perguntas
Onde é a casa do senhor?

O hippie mais velho virou pro meu lado
Apontou pra estrada sem estar desapontado
Ele me deu uma resposta curta e rasa
“A gente está sempre indo pra casa
Seja pra onde a gente for”


Stephano Diniz