segunda-feira, 28 de julho de 2014

Me rebuscam


Me rebuscam a porta do ouvido ponderar

Aonde tanto orgulho, tanta razão, angustia e rancor...

Me levaram há caminhar sobre o Deserto.

Este seco, abismo interminável que contamina os olhos céticos

Prefiro delirar no orvalho escuro de cada manhã

E deitar a cabeça no travesso avesso das incertezas.

Não tenho nada pra dizer aos poucos que comunico

E por muito poucos suplico um dedinho mais de atenção.

Ao grilo, ao galo, as coisas improveis e inúteis da Vida.

Não sei por que o paraíso não se encontra vendível na esquina

Tampouco posso me comparar os chatos e charlatões.

Embora cada vez mais irresistível vontade de separar,

O eu provável de mim mesmo!

 

(Iberê Martí)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ou meu Azar


 

Hora sou um príncipe, hora um sapo

Aos olhos e bocas de outras que me veem

Eu continuo tropeçando em passos lentos,

Há caminhar...

 

Hora pertenço a nobreza, hora um plebeu

Depende o motivo situado na ocasião

Eu continuo mofando ao relento,

Há caminhar...

 

Hora me torno de diplomata, hora sou Baco

Cumplice eterno do amar e da razão

Eu continuo o exagero dos que sonham,

Há caminhar...

 

Hora eu uma fortaleza, hora em prantos

Faz parte do banquete, da fome, da mesa

Eu continuo demasiado vestígio humano,

Ou meu Azar!


(Iberê Martí)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Pele Flor


 

Nos olhos deles ganância

Nos meus olhos exagero

Nos olhos deles abismos

Nos meus olhos sorrisos

Nos olhos deles usura

Em meus olhos esperança

Nos olhos deles objetos

Nos meus olhos arquitetos

Nos olhos deles a prole

Nos meus olhos sentimento

Nos olhos deles vazio

Nos meus olhos Navio

Nos olhos deles certeza

Nos meus olhos descobertas

Nos olhos deles a ira

Nos meus olhos caipira

Nos olhos deles maldade

Nos meus olhos beleza

Nos olhos deles a mentira

Nos meus olhos de lira

Nos olhos deles sofrimento

Em meus olhos beleza

Nos olhos deles ferramentas

Nos meus olhos pimenta

Nos olhos deles tristeza

Nos meus olhos o futuro

Nos olhos deles conclaves

Nos meus olhos voam aves

 

Pássaro eu.

Eles, pedra!

 

(Iberê Martí)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Peito Poente


 

Vá Menina, permita me seu

Atravesse a ponte de woodstock

Se improvise em meu coração

Sou metade Poeta, metade Plebeu

 

Vá Menina, feito civil em avião

Voo inocente, apagando em chamas

Batalha bastilha paixão, frio é o poder

O poderio bélico de seus lábios

 

Vá, postule me seu enigma

Menina as palavras e virgulas

Me engendrar no seu descaso

E me ninar no teu descanso

 

Vá Menina, há Vida e vento

É sopro e também despedida

E encontro, suspiro sufoco

Ancora de mar em movimento

 

Vá, ponha me venda na razão

Menina brinque de coisa sincera

Me enfeitice os olhos teus

E depois me cuspa na lama

 

Vá Menina, me lance à sorte

O norte de minha indiferença

Sentencie anjos e libélulas

Ávidos desejos de ciganas

 

Vá, segure em minhas mãos,

Menina de olhos de Atenas

Deixe o cinema (re)produzir

Um filme emberno, inacabado...

 

(Iberê Martí)

De tardezinha


De tardezinha eu volto pra casa

Ando assistindo o sol se esconder

Ou a lua debruçada em minha janela

Tenho meus amigos os grilos,

Um cachorro, um gato, e outras escolhas

Converso de portas fechadas com meus juízos

Modelo meu cérebro em projetos e tratados sobre o Nada

Organizar livros na prateleira consome meu tempo, todo

Tenho um gasto exacerbado com parafusos, (os que me restam)

Lubrifiquei meu uatzap com neblina cibernética

As nuvens alimentam meu vício

Escolhi me entregar de vez ao Abandono

Poucas sombras de mim restam, e folhas!

 

(Iberê Martí)

A Corrida


 

Tenho dedicado a mim um Autoeducador

Pratico diária (mente) a ignorância própria

Os camelôs lambem sal no deserto.

É calor o exercício frio do conhecimento

Não jogue as informações na lata-de-lixo

Ou melhor, metade delas

- O sumo do bagaço da laranja -

O primeiro não basta olhar pro relógio

Na corrida o último observa horizontes,

Por sorte apreciou um beija-flor colher néctar

Viu a flor, arrancou Ela e feriu a rosa

Presenteou o coração de uma Bela

Conquistou seu prêmio, um Sorriso

Avistou o crepúsculo em lábios molhados

E o sol se pôs, suor pele e lágrimas!

 

(Iberê Martí)

sábado, 19 de julho de 2014

Ele saiu de casa cedo


Ele saiu de casa cedo

Menino de rio curva

Foi pra estrada aprender

Entendeu que nada sabia

E que há Vida é só fantasia

 

Cresceu lendo paulo coelho

Ajuda auto customizada

Explica tudo, explica Nada

Seu potencial consumidor

Formou, fez-se doutor

 

Comprou um carro pra bela

Queria fotografar um sorriso

Hipotecou seu coração

Avalizou poder de usura

E um agiota trouxe a cura

 

Viveu sozinho à dois

Contou pros colegas do bar

Qual o preço que paga o azar?

No custo embutido no luxo

E a Vida se fez em refluxo

 

Ele saiu de casa cedo!

 

(Iberê Martí)

A inoperância das Coisas


A inoperância das Coisas

Diante a velocidade das máquinas

Eu coisa. Eu máquina. Avulso Eu.

Caminho, me coisificando. E maquinando

Fugir da revolução química.

Deixar de óleo de máquina.

Sistema sem engrenagem

Relutante Sobrevivente!

 

(Iberê Martí)

terça-feira, 15 de julho de 2014

A Voar

 
 
Sim, era malandro, vagabundo
E Deus escreve em linhas tortas
Talvez eu seja apenas, no fundo
Um Idiota
 
Deu errado, por minha culpa
Machuquei você, jovem flor
Mas pra dar certo só faltava
O Amor
 
Talvez seja melhor me esquecer
Mas se você disser que foi em vão
Eu sou obrigado a te responder
Foi Não!
 
Nosso namoro foi tão lindo
Como no mundo da fantasia
Juntos, chorando ou rindo
De Alegria
 
Cada um com seu itinerário
Separados, vamos caminhar
Somos dois pássaros solitários
A Voar
 
(Sréphano Diniz)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Correria


 

No corre, corre

Do dia a dia

Eu me desmonto

Me refaço, e me reforço

Se fico tonto

Perco Tempo

Tenho um minuto,

Um gole pro santo.

 

Passo apresado,

Passo...

Atraso o ponteiro

Ajusto o relógio,

ao meu compasso

Largo, curto, rápido

Vagas lembranças

Imagens montadas

 

Cinema, fotografia

Shopping center,

Meu umbigo, consome

Eu me remonto em cachoeira

Na brisa que desce

No canto da água

E o Tempo esquece

Do passo apressado

 

Na face fechada,

Luta pela sobrevivência

Diária, salário, aluguel

O pão, a tv, “aipode”

“uatzap”... quem vai me dizer

O que está na moda

Eu não fui. Eu não vim

Eu não vou...

 

- E se perguntarem?

Eu não estou!

 

(Iberê Martí)

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Eu Nada!




Quando eu em mim nada, vagar vazio

Uma lâmina sem espada, olhar tardio

E me acostumar com esse absurdo mundo moderno

Correr pra algum lugar que escorregue desejos

De joelhos fronte ao altar do consumo, que me consome

 

Um produto efeito da máquina, engrenagem da fome

O meu estomago frio deseja mil auroras, nenhuma Aura

Boreal, materialista alvorada. A escada sobe em cada degrau

E no mais alto, quando tu chega, e nada vê. Você está só.

A caminhada é solitária nesta avenida.

Teu controle é, caminha e só

 

Transgredir o absoluto, para que o relativo se absolutize,

[nos tons, nas cores, na cordas do relativismo]

Existir sem nunca me encontrar, será minha sina...

Até que as pedras rolem em outros sons.

Nada que é exato me conforta

Nada que é inato me convém

O que seria tudo isso que gostaria de dizer, me esqueci

Meu corpo no último gole, no copo da esquina

Quase nada eu sei. E desconfio de quase tudo,

será real... ou nada sei. Eu nado...

Eu Nada!

 

(Iberê Martí)

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Eis que um sopro de vida


Eis que um sopro de vida

Penetrou minha alma

E convidou-me à liberdade

de poder me libertar...

 

Convidou-me a ser livre

das falsas seguranças,

e como pluma leve pairar

ao som que a cada dia o tempo tocar

 

(Joana Cajazeiro)

Ave, árvore


 

Pra que raízes fincadas,

Adaptadas ao chão

Se em meu pulmão,

O vento invade

Árvore não, Ave

 

Pra que medir anéis

Comprimentos e alturas

Se além das estruturas

O universo é seu altar

Árvore não, Ave

 

Pra que viver na sombra

Frutos, sementes e lenha

Se o fogo é só resenha

E tens pés pra caminhar

Árvore não, Ave

 

Pra que viver solitário

Vasto de ganhos e ninhos

Se é pouso de passarinho

A tua fonte é voar

Árvore não, Ave
 

Pra que casca morta

Amor petrificado de cerne

Se o floema pela epiderme

Vida é líber que flui,

Árvore não, AVE!

 

(Iberê Martí)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Embaraço


 

Se me perco em mil e uma,

Convicções irreversíveis

Fatídico ponto de bifurcação

Equilíbrio perdido, graças a Deus

 

Se fico sem chão, sem teto

A turbulência se manifesta

Em diversidade, beleza

Plena desordem viva

 

Se caminho na corda bamba

O caos não probabilístico

Há flecha do tempo apontada

Em dois gumes, imprevisíveis

 

Se quando se toca e reage

Outro vulcão adormecido

Tuas redes neurais instáveis,

Não lineares no espaço

 

Se encontra enquanto se perde

E se encanta com a riqueza

Metamorfoses químicas aleatórias

Fronte a criatividade da natureza

 

Se sente falta dos livros,

que esqueceu de ler

E dos poemas que deixou,

Escritos na teia das ideias

 

Se autua a criatividade

E se acomoda no normal

Explica pelos olhos alheios,

Tu visão é apenas moral

 

Se lhe conforta uma ciência

Pequena janela, e o universo?

Se auto organiza na entropia

O tempo passa, você padece

 

Se tua rede não germinou,

Tampouco sabe se morreu

Tua semente não perpetuou

A cabeça rola e então vê

 

“O EU é um outro”

 

(Iberê Martí)

terça-feira, 1 de julho de 2014

Eutopia

 

Na bússola de meu peito que corta,

Marca passo, descompassado

Meus passos, não deverás. Conto, jamais.

Refazenda, eu que nunca me refaço

Nunca que eu me faço em outro canto!

E sigo firme, moirão de moreira, espinho

não me arrependo, de meus em falsos.

Chão firme, descalço sob sol do sertão...

Rachaduras nos pés, pisando no solo seco

Há dor que corta mais que inocência?

Em meus calos, calejada mão peleja

Os punhos desolados, latejante punhal

Nervos tremidos de aço, latejando

Mas não pego em arma de fogo.

Minha chama arde é na pena e tinta,

que escorrega corta, mais profunda que navalha.

Um passo nega, um outro pisa

Mil razões desconhecidas, vida amarga

Boca seca, já cansada. Palavra falsa

Pseudo olhar que me encanta, em boca cega

Dentes singelos em boca flácida

Escorregam em superfície, rusga antiga.

Eu me dirijo novamente convencido,

Novo caminho, torto bando, manada

Efeito em minha pele, face cansada

Em passos leves, eu e meus moinhos

Soprando o vento, pergaminho triste

Eutopia, vou em frente alvorada

Até veemente, como pássaro, revoada!

 

(Iberê Martí)

A Novidade


 

Eu vim pra lhes contar uma novidade

Estamos na era das novidades velhas

Nada se inventa, mas redescobre o velho

Tudo isso graças à novidade: internet

O povo redescobre Chico Buarque

Músicas desconhecidas de Raul Seixas

Uma fita com sambas antigos de Cartola

Coisas antigas que ninguém conhecia

Redescobriram Paulo Leminski

Renasceu Adélia, Clarisse, Cora

Redescobriram o velho desconhecido

Será que seremos famosos em vida

Ou redescobertos após a morte? 

 

(Stéphano Diniz)