terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Soneto do Poeta Apaixonado

Soneto do Poeta Apaixonado (versão I)

O poeta estava lá no canto, quieto
Escrevendo seus versos do dia a dia
Mas eis que você chegou muito perto
E o interrompeu a primeira poesia

Teu sorriso deixou o poeta mudo
Teu cheiro deixou o poeta cego
Teu olhar estraçalhou o escudo
Do que ainda lhe restava do ego

Pobre poeta, agora teu escravo
Seus versos agora tem destino
E o destino do poeta é o teu

Mas não o deixe triste ou bravo
Entregue-se logo a esse menino
Ele lhe dará as estrelas do céu


Soneto do Pobre Poeta Apaixonado (versão II)

O poeta estava lá no canto, quieto
Escrevendo seus versos do dia a dia
Mas eis que você chegou muito perto
E o interrompeu a primeira poesia

Teu sorriso deixou o poeta mudo
Teu olhar deixou o poeta cego
Teu cheiro estraçalhou o escudo
Do que ainda lhe restava do ego

Pobre poeta, teu prisioneiro
Agora, escrevendo algemado
Alguns versos presos a ti

O poeta delira com teu cheiro
E ele se alegra, mesmo calado
A cada vez que você sorri


(Stéphano Diniz)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Força, Belchior!


Jovem repentista nas feiras de Sobral
Filho do sertão, da pobreza e da seca
Apenas um artista cearense que peca
Por não ser um ser apenas normal
Já nos mostrou que vivemos como nossos pais
Já nos cortou a carne com esse canto torto
Já foi latino americano sem dinheiro no bolso
Lembrou que a velha roupa não nos serve mais
E quando encontraste o motivo da partida
Uma parte do povo não compreendeu
Mas tua atitude tem todo apoio meu
Vá, Belchior! Vá seguir tua vida!
Se foi assim que encontrou o teu caminho
Quem sou eu pra te dizer que não
Quem sou eu pra te dizer onde nasce o sol     
Pois se é lá que mora o teu coração           
                                    


(Stéphano Diniz)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Tangará


Ave pluma de sete cores
Cores de todos os cantos
Vozes de todos os acordes
Asas sublimes encantos

Por um dia me concedeste vida
Meus ouvidos aos seus olhos, apreço
- Relâmpagos horizonte riscam nuvens –
Meus pensamentos em seus “adereços”

Viagem sem endereçamento certo
Um menino perdido no espaço
Astronauta flutuando na lua
Sonha o Poeta querendo um abraço

Nem que puseste no tempo uma pedra
Arrancaria da geografia à distância
Deixaria tudo (des)construído outra vez
Pra grudar na imagem de tua lembrança

Que sufoca
Peito
Neste tempo
Líquido...
É Voraz!


(Iberê Martí)

Jogo da vida


Nesta vida de divisas
O Jogo é inocente
O vencedor é sempre o último a
Perder.
E o perdedor é apenas o primeiro
Desiludido.
E quem ganha não jogou!
Eu por exemplo,
Só me Materializo quando escrevo
Todo o resto é Abstrato.
Embora ambos os conceitos
Relativos


(Iberê Martí)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Calos calados


Estes calos que minhas mãos comportam
Mal cabem nos calos de meu ventre,
São seus os olhos; enxergam meus calos?
São tantos os calos, calas
- calada à caminhar.
Por um trilho calejado
Cansado o peito, Só
Transborda em qualquer direção.

Nunca tive dom pra cético
Andei desprovida de certezas.
A vida sempre pediu algo mais
Implorei certas vezes aconchego
(Com medo de calada caminhar.)
Só, caminhar...
Por um horizonte de descobertas.
Os calados que constroem de tudo
- que se doam e se doem -
Mal (re)conhecem eles seus calos,
Poucos ouvem o silêncio dos calos
E caminham... calejados do caminhar.


Eu caminho desprovida de armaduras
Acredito nesta armadilha,
Quantas minas escondidas por estas terras?
(De água e de fogo; de vida e de morte; de pão e de fome!)
É sobre o perigo que caminhamos
Pisando nos calos do mundo.
Os calos das pedras, os calos das aves, os calos das árvores,
Calos da terra que machucam e que margeiam
(Ferida viva, vira casca grossa.)

Em silêncio escuto a pedra a cair no fundo do poço,
Nas batidas do meu coração que ponteia
(des)compassado
E sinto o cheiro das flores que plantei e
Me rodeiam. Cercadas de calas.
E ouço baixinho, o resmungar esperançoso
O soluço de todos os castros.


(Maria de Fadas)

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Triste início


Planejara primeiro ter
para depois ser, mas nunca foi.
O tempo se passou e até o
que tinha se foi.
Iludira-se com a perspectiva
 do futuro que nunca chegou.
Arrependeu-se, mas o tempo
não mais voltou.
 Foi embora e até mesmo sem
despedida se pôs.

Enriqueceu, comprou, mas
nessa vida nunca amou.
Até que o tempo, seu corpo
enfim definhou,
Pedira chance, mas sem
resposta ficou.
Morreu e sem vida vivida para
si destinou.
Um homem de posses sem
história se foi.

Se foi sem nunca ter sido e
tudo que tinha restou,
Não deixou ao menos
lembranças ou cartas de
amor.
Em sua lápide o vento
tristemente gravou,
Aqui jaz um homem que nunca
em gente se tornou.


(Joana Cajazeiro)

O Silêncio De Minh ‘alma


Este silêncio que se debruça
Em Minh ‘alma
Indivíduo indivisível de um todo.
Tão simples é a verdade,
Fronte nossos olhos.
Oh, Silêncio que acalenta e,
Liberta
Espiar por uma janela, um suspiro e a descoberta
Tudo agora é novo,
Renovado e revogado.
Não resta nem um lampejo de ontem
E o amanhã são apenas conjecturas.
(Nem importa o mais, o maior, o caminhar.)
No silêncio ao ouvir minha respiração
Ofegante
Ludibriando o equilíbrio pêndulo que me compusera,
                        [compõe o peito dos poetas.]
Perdido me encontro,
Assim como pondera.
Linear cintilante e singelo no olhar de uma Bela
Que candura Minh ‘alma,
Afaga um profundo silêncio.
Assim trepidam os agudos
Tímpanos a contestar
Aconchego.
O grito exorbitante,
Na prisão de meus olhos que vasculham
Em silêncio, resplandecer!


(Iberê Martí)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Olhar razoável


As coisas necessitam ser vistas modo razoável
- afinal são coisas, e nada mais –
Porém fundamental olhar de serpente
E um profundo sentimento canino. Atento as feições.
Pois do fetiche Dos Tempos, e seus açambarcadores
(Já reconhecemos suas prosas.)
Minha maneira olhar razoável permite, por exemplo,
Avistar uma ave no céu e dizer, um passarinho!
Me permite mais, me permite ir além
Olhar uma árvore e repetir, uma árvore
Me possibilita ver um poste, e exclamar
[aos sete ventos, olha o poste]
São tantas coisas que meu olhar razoável observa e absorve.
Entretanto um olhar razoável também tem estômago de ema,
Nestas horas que contemplo um catador-de-latinha
- recolhendo a subvivencia do meu lixo –
E logo meus olhos deduzem: como eu sou humano!


(Iberê Martí)

sábado, 11 de janeiro de 2014

Quando eu crescer


Ontem eu ganhei um presente
Um livro com formato de borracha
Espelhei não no formato, mas grudei na função
- Me inspirei nas disfunções -
E descobri que crescemos para virar pau-seco
Foi quando de repente apaguei tudo
E escrevi no muro: o senhor não é mais muro!
De ontem em diante é uma crianças transfigurada em borboleta
Terás asas e implodira o invisível
Terás garras e abraçará o impossível
Terás olhos para reverter o imprevisível
Terás ouvidos para entender o incompreensível
Terás mente de criança para pau-seco não apropriar-se de ti
Serás o muro da liberdade!!


(Iberê Martí)

O que é a Poesia?


A poesia é mais que palavras
Juntas, dispostas em versos
Mais que apenas a fala da alma
Mais que o tamanho do universo

O poeta sente cada novo amor
De uma forma nunca vista antes
Grita um silêncio ensurdecedor
Declamado em versos delirantes

Sente saudade, dor, alegria
Vontade de viajar, de viver
Sente o mar, o vento, o dia
Diz o que tem vontade de dizer

A poesia é resposta improvisada
Das coisas que o poeta sente
É a beleza interna externada
Num mix de razão e inconsciente

Intenso exagero e indecência
É a eternidade em um segundo
A poesia é apenas consequência
De uma forma de se ver o mundo


(Stéphano Diniz)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Ilha


A Esfera e a Esfinge
Qual delas é mais voraz?
De dentro da ilha tudo é
Perfeito
(Milhões, sonhos e planos em teoria.)
Do lado de fora tudo é
Desfeito...
O ser humano aflito em agonia.
Agonizando de dentro do peito:
Se a espécie é a mesma,
E o resto é só
 Fantasia!


(Iberê Martí)

Dúvida e Sabedoria


Eu entendo o mundo
Cada vez menos.
Uma confusão
Que foge a minha
Razão
Mas acredito, sozinho,
que estou no
caminho.
Um dia chego na
dúvida
Suprema e total.
Esse especial dia
Será o início da sabedoria
Afinal, para
respostas corretas
É preciso perguntas
Precisas
Para a sabedoria
Um dia, basta a
dúvida


(Stéphano Diniz)

domingo, 5 de janeiro de 2014

FOTOGRAFIAS DE PAPEL


Sinto falta das fotografias de papel,
Poucas fotos dos momentos, 
Que então eram preenchidos,
Por lembranças e imaginação...

Como era bom rir daquela cara feia,
Ou da barriguinha saliente,
Como era bom ver a gente como gente, 
E não somente perfeitos como modelos...

Hoje tiram-se centenas de fotos, 
Todas escolhidas criteriosamente, 
Pelo mais belo sorriso e olhar,
Essas dizem pouco de nossa realidade humana...

Agora não há mais espaço para as invenções da mente,
Que lembra pelos olhos da emoção,
Redimensionando tamanhos e belezas,
Como o tamanho do peixe descrito pelo pescador!

(JOANA CAJAZEIRO)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ira da chuva


As crianças correm pela casa
Sem nada (nadica de nada), nadinha temer
Chuva chega, e as crianças param
- seus afazeres, suas correrias, sua rebeldia.
(Eu gosto de ver a Chuva, afirma convicto.)
Hora de contemplar água cair,
        [e o vento leva as gotas há variadas direções.]
Como as crianças enxergam o mundo (paira no ar).
A idade, com o tempo Cegá!


(Iberê Martí)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

SURPRESAS SURPREENDENTES


Eis que a vida, 
de repente surpreende,
movimenta corpo e mente, 
revira tudo novamente,
improvisando um presente,
nova sorte evidente, 
para enfim se desvirar! 

(JOANA CAJAZEIRO)

Mundo torto descabido


Terá algum dia cabimento algum? Que me caiba, num quadrado. Pois o mundo têm asas e ainda é quadrado. Você consegue observar os cantos do mundo quadrado? São quatro cantos intransponíveis, em ângulos retos, delimitados pelo compasso do arquiteto ou carpinteiro que tudo fez e que tudo faz. Onipresente, onipotente, onindecente. Assim é o mundo dos seres humanos, nem menos nem maior. Quadrado. Fechado. Trancado. Espremido. Engomado. Flagelado. Amaldiçoado. Quadrado. Cuspido. O mundo é assim: você consegue ver? Me convenceram. O Tempo existe. Assim como assistem os que pisam antes dele (o tempo), outros pisam ao seu redor. Outros pisam a sua frente. Quantos outros pisam em cima? Mas que tempo descabido. Predam seu inventor, torto. Torturado. Mundo velho mal amado. Proíbem os amantes, proliferam os capetas. Matam os poetas, liberam os cometas. Aniquilam os sonhadores, enlouquecem os caretas. Minam os andarilhos, oferendam os loucupletadores. Amaldiçoam os vagabundos e condecoram os blasfemadores. Mundo torto. Mundo sarjeta. Mundo rouco. Mundo zureta. Assim são, meus passos por este planeta. Quando chego já foi, quando me conformo já passou. Quando me inquieto me procuro. Quando espero obtenho. Quando paro. Mundo parado. Mundo cafona. Mundo largado. Mundo diploma, mundo irado. Mundo sem jeito, mundo desajuizado. Mundo contente, mundinho quadrado. Não quero tomar café! Obrigado não temo o destino. Grato o futuro me espera. Na esquina redonda, a tabula e os cavaleiros quadrados. Mundo tonto, mundo malvado. Mundo sujeito adjetivado. Muito conceito, pouco pecado. Mundo preconceito. Mundo ignorante, ignorado. Mundo sapiens, mundo fechado. Esfera, cometa, labirinto. Mundinho casado. Mundo mente, mundo mimado. Mundo sente, mundinho atrofiado. Mundo indecente, mundo reformado. Mundo serpente, mundinho inocentado. Mundo inocente, mundo dominado. Mundo carente, muitos coitados. Cabimento mundo. Mudo descabido. Fala muito. Pouco ouvido. Reclamo muito, mas quando chove. E da terra brota então o legume. E da serra desce mais que chorume. E a guerra tem o odor de perfume. Mundo sangue. Mundo sangrento. Mundo louco mundo tormento. Muito pouco, cabimento. Descabido mundo, mundo marrento. Mundo surdo, mundo nojento. Mundo sujo, mundo cinzento. Mundo voraz, mundinho avarento. Mundo tosco globalizado. Mundo sério é diversificado. Mundo que não julga, mundo que não é julgado. Mundo maluco, mundo pirado. Mundo cafona, mundo miscigenado. Mundo medíocre, mundo homogeneizado. Mundo pequeno, mundo alienado. Admirável, venerável mundo novo. Mundo é que tenho. Que me falta, que me sobra. Mundo transborda. Mundo, que mudo, um dia aprenderei a conviver dentro de ti!


(Iberê Martí)