sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Depois da Chuva


Quando estiver suficiente molhado.
Úmido lençol, travesseiro, colchão
E os pensamentos todos desalojados,
será feito o despejo em meu coração

Cortejo os defeitos de outros, com sorrisos
- na ignorância que ignoro os meus –
Coleciono lembranças do que é improviso
Coleto os desejos dos que são de deus

Mas quando a chuva passar, meu bem
Pra depois da seca, a cerca, e a sede clamar
O lábio confessa, não pertence a ninguém
E a marca do beijo, e o que resta é sonhar

E acordar com os raios ultravioleta do sol,
no calor da Época de aquecimento global.
Enxugar a garganta no canto de um rouxinol
Outra dose, um brinde ao mistério do casual


(Iberê Martí) 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Raiz e Vento


Estou entre a raiz e o vento
Entre o eterno e o momento
Eu passeio, eu transito
Eu necessito 

Entre zero e cem por cento
Entre conforto e movimento
Entre o adulto o e criança
A gente dança

Entre o chão e o firmamento
Há mais amor e sofrimento
Que nossa vã filosofia
Um dia imaginaria


(Stéphano Diniz) 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Pés proibidos de parar



Como seria se fossemos nômades por natureza?
Se a morte nos pegasse pela mão caso raízes surgissem dos nossos pés.
Proibidos pelos deuses de ficar mais de um ano no mesmo lugar.
Alguém ia querer acumular?
Mais mala, mais carga, mais cansaço.
Não ia se plantar sempre o mesmo grão.
Não brigaríamos por pedaços de chão.
Metal não teria valor.
Sandália, cavalo, carroça e chapéu sim.
Papel importante ia ser mapa.
A casa a gente ia carregar nas costas.
As fronteiras não fariam sentido.
Não mais guerras.
As universidades seriam tão itinerantes quanto circos.
Professores e palhaços realizariam suas missões primordiais, espalhar conhecimento e alegria.
Nossas pernas seriam fortes.
Nosso pulmão seria forte.
Nosso coração o mais forte de todos, porque com ele ficaria a carga da saudade.
A saudade que fica quando um companheiro segue por outra estrada na encruzilhada.
A memória seria afiada, apontando a agua fresca, relva macia e as surpresas do caminho.
No fim bastaria encostar, descalçar as sandálias e descansar.
E não restaria duvida que se viu tudo que era possível ver numa vida,
Toda estrada possível de ser caminhada,
Toda cachoeira,
Toda noite estrelada,
Todo sorriso e o choro de uma vida.
Sem essas dúvidas pra perturbar o sono poderíamos chegar na clareira do fim do caminho em paz e finalmente dormir eternamente.



(Mário Paulo A. Hennrichs)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Eu tenho feitiço

Eu tenho feitiço de sapo. Vivo vasculhando abóboras.
Amor é uma condição geopolítica. Só existe em hollywood.
Se peter pan fosse rei, eu seria o bobo da corte?
Amargo é o gosto que a língua faz questão de reconhecer.
Depois das 3h existem muitas ciderelas. (Depende apenas da dose)
Sozinho é quem consegue suportar a própria loucura!
Quintana disse que “o autoditada é o ignorante por conta própria”,
logo, altruísta é que perdeu o amor próprio.
O egoísmo é uma forma subversiva de negar sua espécie.
Buraco negro é um lugar em que o tempo não existe,
[ou também o espaço onde se fabrica há existência]
“Não pare na pista”, é o melhor conselho para um amigo
(Não haverá tempo para arrependimentos)
O carro era um gozo simbólico, até a invenção da pílula azul.
Arrependimento é uma palavra que só existe no futuro.
Saudade é uma forma seletiva e superficial de avaliar o passado.
O presente nada mais é que a comunicação entre analfabetos.
Não existe nada que abale mais a normalidade, que um diálogo entre loucos.
Maior que o infinito é a noite que desconhece o fim.
Na madrugada é quando as coisas são realmente sinceras.
Eu ando livre de pretensões, causando espanto nas ambições.
Susto é ouvir de seu melhor amigo. – Eu estou gravido!
Falar coisas idiotas é uma forma de autopromoção. Todos riem...
Ficar pasmo em absurdos? Recite um poema a um banqueiro!
Deixar pálida a poesia? Coloque a na boca de homens medianos.
Estou triste com a idade, não suporto meus ouvidos.
Manter a boca fechada, foi a melhor maneira que inventei de mentir.
Não gosto de mensurar QI, mas antes que a matemática caia em desuso.
Tudo é pecado e guleima, menos a poesia...
Até se embriagar de sede, até se empanturrar de fome!
O ócio no capitalismo é o tesão dos subversivos.
Meu contraponto é grão de areia, na ampulheta das utopias.
Vou escrever tudo que esqueci, antes que a tinta seque...
Ou que me esqueça, viver no óbvio é óbito e não vale a pena.

Me reinventar a cada instante é a melhor maneira que encontrei de me suportar.

(Iberê Martí)

O Casamento da Viúva


Já faz algum tempo que eu fugi de casa
Larguei tudo, tudo o que eu não tinha
Só pra ver de onde o vento vinha
Me aquecer do frio do vento, na brasa
Ou numa fogueira feita com palha
Agora não tenho nada, não tenho família
Deixei meu dinheiro, o conforto, a mobília
Trouxe comigo a minha velha navalha
Talvez para preparar um cigarro de palha
Ou se precisar, na fome, para ir a caça
Dizem que eu estava fugindo de mim
Não importa pra onde, não importa o fim
A gente está sempre indo pra casa

Mas eu ainda estava preso dentro de mim
Libertado, estava preso em minha liberdade
Larguei a mentira, mas não vi a verdade
Cheguei aqui, por que foi tudo assim
Pra saciar minha fome, até roubei pão
Pra saciar minha alma, até fui pra capela
Pra saciar o mundo, me prenderam num porão
Agora estou aqui, bem perto do fim
Falando contigo, que aliás nem existe
Vendo o quanto o meu corpo resiste
Pois preso ainda estou, dentro de mim

Invariavelmente, todo mundo vai morrer
Talvez eu merecesse melhor sorte
O imperador já decretou minha morte
Amanhã, logo após o amanhecer
Ainda sou muito jovem para morrer
Minha cabeça pendendo de lado
Não estou pronto, nem preparado
O povo vai a praça só pra me ver
Do crime ainda eu posso recorrer
Mas não vou apenas adiar meu destino
Pois todos, do mais velho ao mais menino
Invariavelmente, todo mundo vai morrer


(Stéphano Diniz) 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Rascunho do amar


 Porque eu escrevo textos
que ela nunca lerá...
Porque eu frequento botecos e lugares
onde ela nunca estará...
Porque eu me preocupo com as causas
que ela jamais se importará...
Porque eu tenho as ideias
que ela nunca entenderá...
Porque eu dormindo faço planos
que ela nunca saberá...
Porque eu grito canções na garganta
que ela nunca escutará...
Porque eu rabisco poemas em papeis
que nela nunca tocará...
Porque meu coração de tolo saltita,
em uma região geopolítica, que jamais existirá...

Porque o amor é latifúndio.
E o amar é criar “azas”,

e voar....

(Iberê Martí) 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Copacabana

Queria um dia,
lhe encontrar
em uma praia deserta
Esquecida em Copacabana
e estes teus sorrisos,
me tirar suspiros
remoendo está tua paz,
pra me causar espanto
pra que meus poemas,
e versos avulsos...
livres, voem voluntários

e lhe provoquem 
Encantos!

(Iberê Martí)

Caravelas


Uma construção de uma ponte que nunca acaba
Uma escada que nunca chega no ultimo andar
Sou duas pernas, mas só uma serve para andar
A queda de um precipício que não chega ao chão
Eu me sinto na entressafra da minha geração
Eu sou a porta que só leva ao caminho errado
Se fosse a margem de um rio, seria o outro lado
Onde há morte eu sou vida, se há vida eu sou nada
Onde há terra, sou água, se há casa eu sou estrada
Sou um explorador, eu sou Cristóvão Colombo,
Que logo depois de descobrir a América
De chegar em terra, em suas caravelas
Voltou ao seu navio, ergueu as velas
E foi descobrir outro lugar


(Stéphano Diniz)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Resenhas


Tenho várias ranhuras no peito,
mais dilacerantes que quimeras
Vinho tinto, sangue de espada,
derramados sobre a Aquarela

Rascunhos escondidos no baú,
contam angustias e as histórias
Tão minhas, quanto de ninguém
Farto banquete de memórias

Se chorei pra quem me ouviu,
minhas palavras esquecidas
bocas, lábios, penas e tintas
mortes e vidas envelhecidas

Tenho muito agora a contar,
a mercê do míope a reger
Caminho turvo e solitário
Almas que me querem beber

Se fracos os tolos, clemência
Se forte os tragos, perdão
Seja do mundo sua experiência
A voz na garganta do Coração


(Iberê Martí) 

Feliz ano velho


Ficou esquecida,
a superioridade
daquele humilde
que jamais venceu
E conquistou a vida...

Ah, os seus valores
guardou em um baú
aqueles velhos, antigos
retratos diplomáticos em
preto e branco na parede

Ensaiou ser feliz,
aprendeu de cultura
com o preto, com índio
com mendigo, com gari
com favelado, a mulher

Sorriu sem presente,
riu-se do trenó, papai
Aceitou com indiferença
Não faz diferença,
alguma os teus olhos

A tua boca maldita
e seus tribunais
suas tribunas, suas vestes
nada faz sentido
cadê teu sentimento?

Olhou pro mundo,
de dentro pra fora,
de fora pra dentro
Um olhar de ave
e voltou pra casa...

Deu feliz ano ao velho
Abraçou a Solidão
Teve com o Abandono
Entendeu tudo, e depois
Acordou com à Liberdade!


(Iberê Martí)

A loucura

A loucura é a sua terceira metade
É o motivo do coração bater mais forte
Loucura é viver à própria sorte
É viver num mundo encantado
Atravessar um perigoso rio a nado
Atravessar o país de carona
É pegar o ônibus errado
Só porque uma bela mulher entrou
É acordar de manhã gritando
É dormir, mas de cansaço
É viver sem tempo nem espaço
É tomar banho cantando
É namorar uma prostituta
É ser amigo de mendigo
É o ânimo do domingo
É viver de segunda a segunda
É não dormir cedo
É possuir asas
É não ter medo
De fugir de casa
É não ter limites
Saber que é livre
Tudo é possível
Tudo é pouco
Quando se é louco


(Stéphano Diniz)