Eu
tô com saudade da minha terra
Conversar
coisas simples sobre monte e a serra
De
caminhar pelo diversificado cerrado
E
(re)descobrir as curvas do rio dourado
Eu
tô com saudade é das pescarias
Dos frutos do mato, e das profecias
Com
vontade de retomar a infância
Que
persiste na vasta lembrança
Eu
tô com saudade da inocência do campo
Dos
papos com os matutos e os pirilampos
Dormir
na rede dos ensinamentos divinos
Correr
pelas ruas como bobo, menino
Eu
tô com uma saudade da madrugada
Da
minha gente e da mulher amada
Moças
que conversem sobre fantasias
Que
gostem simplesmente de cantar alegria
Eu
tô com saudade dos frutos do varjão
Saudade
do mitos, pata de onça no chão
Tamanduá
dando bandeira no meio do sertão
Bicho-preguiça
e do apertado aperto de mão
Eu tô
com saudade é de conversa sadia
Convencer
jatobá quanto a sabedoria
Molhar
o pequi, secar murici
Catar
a castanha, fazer suco de buriti
Eu
tô com saudade é da cantoria
Na
relva molhada cantar a cotia
Saudade
do tempo sem saber o destino
Fazer
da encruzilhada o meu maior ensino
Eu tô
com saudade é do Araguaia
Da água
doce, da lua na praia
De tecer
cordas com fibras de poaia
Caçar
ariranha e armar a tocaia
Eu
tô com saudade é da vasta inocência
Do povo
da terra e sua vivência
Da
chácara renascida que tudo produz
É do
conhecimento que nos conduz
Eu
tô com saudade das histórias do garimpo
Do
futebol sem gramado, sob o cascalho limpo
Saudade
do povo que foi oprimido
Ser
apenas mais um, mas um esquecido
Eu
tô com saudade é da valentia
Do
espinho de tucum, da soberania
Do
leite de mangaba, depurativo inharé
Viajar
sob as águas como o mureré
Eu
tô com saudade é das amizades
Estou
com saudade sentir irmandade
De
fazer da vida um passeio interno
Da
Vida que um dia foi prazer eterno
Eu
tô com uma saudade danada é da minha Terra,
Natal
e materna!
(Iberê
Martí)