quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Travessia


É a andança, o destempero
Um vespeiro de intemperanças
Das Ignorãças de Manuel
Ou Riobaldo e seu chapéu
Que no sertão, não se cansa
Da alma que não sacia
E que nos mostrou a real
Não está no começo ou no final
A real está na Travessia!

A alma é uma labareda
As estradas do meu sertão
Que cortam pelas veredas
Chegam no meu coração
Os olhos se enchem d'água
Ao ver mundo e paisagens
E descansar nas paragens
Nas viagens, numa canção
É povo, é cultura e arte
Que faz bem e que vicia
Não faz mal, faz é parte
Do caminho, da Travessia


(Stéphano Diniz)

Muralhas e Musgos





O senso comum me mumificou a pensar com noção de pedra.
(Entre fendas e escombros de ideias, musgos dão início a criação)
Essa vida se traduz há um repeteco, em diferentes escalas.
Em choque me gestaram resíduo. Eu sobrevivo em devaneios...
Minha maior grandeza é ter vício por virtudes degeneradas,
O tempo não será capaz de arrancar: de meus olhos, as origens;
de meu peito, as mazelas; de memórias, cicatrizes sob as cinzas...
Desconstruir âmagos é devir de Alma séria. Ideia é muralha de pedra!
Tudo hegemônico é falso e vazio. Se me querem coisa; serei verbo. 

(Iberê Martí) 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O canto da Cigarra



Chuva que vem repentina e bate na gente de alegria
Chuva que esparrama pelas ruas folhas, galhos e flor
Chuva entumece janelas de vidro, e abriga o silêncio
Chuva que umedece a alma, e nos embriaga de tédio
Chuva amiga, por ti os meus pássaros gorjeiam bossa!
Chuva que toma as árvores de encanto, e faz vida sorrir
Chuva que breca os homens; encharca as avenidas
Chuva monótona enfurecida, que transborda bueiros e ruas
Chuva que carrega o progresso pro seu lugar, pra lama
Chuva que para o tempo, e joga a rotina na disritmia!
Chuva tu é castigo? Doce pecado, reluzente esperança
Chuva é fonte e foz. Perfuma a terra e essas vidas secas
Chuva de cândida beleza. Rebelde, que representa a força
Chuva que é semente e espinho, disso tudo que há, Natureza...


Iberê Martí 

A Marcha das Margaridas


Margarida, flor do meu sertão
Que um dia, sem me avisar
Repentinamente resolveu brotar
Na terra fértil do meu coração


Margarida flor resolvida a lutar
Margarida repleta de rebeldia
Margarida ousada que um dia
O latifúndio tentou arrancar


O capital enterrou a Margarida
Margarida que desafiou o bando
E que escolheu morrer lutando
que morrer de fome, amarga vida


Hoje marcham belas margaridas
Margaridas buscando dignidade
Margaridas, mulheres de verdade
Flores lutam contra herbicidas


Margaridas velhas ou crianças
Margaridas brancas e negras
Pardas, vermelhas e amarelas
Margarida verde de esperança!


(Stéphano Diniz Ridolfi)

Pernas pra que te Quero


Que saudade da liberdade
Pernas pra que te quero
Pisar no pé da namorada
Dançando ao som do bolero

Poder nadar num rio ou mar
Escalar pelos picos e serras
Em sinuosas trilhas caminhar
Pedalar em estradas de terra


Chutar a bola, fazer o gol
Trocar as pernas, bebedeira
Saltar pelas pedras dos rios
Pular nas quedas, cachoeira


Dar um passo para o nada
Ir em direção ao indefinido
Andar nas nuvens do céu
Tropeçar nos astros distraído


Subir as escadas do paraíso
Pois o limite é o firmamento
Quero andar por aí sem juízo
Poder sonhar em movimento


(Stéphano Diniz Ridolfi)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Lá no Fundo da Alma



Lá no fundo da alma de cada pessoa existe
Um baú com sentimentos que nos contradiz
Coisas que nos deixa triste
Ou que nos faz feliz

Lá no fundo há mistério, também há segredo
Lá no fundo há terror, nostalgia e melancolia
Mas nem tudo é só medo
Lá também há poesia

Lá no fundo há saudade, também há lembrança
De um tempo que se passou e não mais voltará
Lá no fundo há uma criança
Que ainda continua lá

Lá no fundo há o universo, e o planeta Terra
Lá no fundo há um canalha, também um amigo
Lá no fundo há uma guerra
Que eu travo comigo

Lá no fundo há vazio, e também muita gente
Lá no fundo há veneno, mas também há licor
À primeira vista é indiferente
Mas debaixo de tudo é amor


(Stéphano Diniz) 

Vazio

Vazio é coisa que germina, de dentro de peito de gente. E que o tempo não leva.
Vazio é silêncio, sem fim, e voz sem eco, sem volta! É saudade impregnada na alma.
Os nossos vazios são preenchidos com fugas. Foge se pro bar, pro rio, pro futebol...
Vazio é lacuna sem concerto. Remendo sem cola. Vazio é como paixão, inexplicável.
Durante a vida inteira a gente coleciona vazios. Uns de decepção, outros de alegria.
Se vazio é cova. Se aterra sobra um vácuo, e o tempo desmorona. Traz pra baixo...
Vazio é buraco sem fundo. Copo sem água. Queimadura sem pele. É calor no frio.
Vazio é o que fica, que nasce, cresce, floresce, e não frutifica. Vazio é sol de deserto.
Vazio é o que vai e volta. Ponta, aponta. Ponteia. É Nó, garganta. O Vazio é sólido, é concreto!


(Iberê Martí) 

Cirurgia estética



Teu reflexo 
reflete
aquilo que não o é
Tua silhueta foi lapidada
pela mão terceira
E o dinheiro
bem pago
transfeiriu-se
de carteira.
A vitrine da loja
ludibria o freguês,
iludido 
pelo apertar robusto
e o desejo do gozo
de quando em vez




(Lucas Amâncio)

Raciocinando



Parei no meio da encruzilhada,
olhando pros quatro cantos do mundo.
Sem medo de capeta, sem medo de estrada
Só um coração vagabundo,
à prova de chuva de águas passadas
e sem relógio pra contar os segundos.


Quero me embrenhar no mato,
gastando só a sola do sapato.
Vento forte rasgando feito canivete
Me perder a norte-sul ou a leste-oeste.
Sentir o gosto seco da poeira
misturado com saliva pela boca inteira


Vou fingir lucidez em cada gole de vinho
pois isso não requer esforço mínimo.
Deixar o nariz apontar o caminho
e a cabeça, da alma, perder o domínio
Entender que não fui feito pra ter ninho
que a liberdade é maior que o raciocínio




(Lucas Amâncio)

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Se eu choro

Se eu choro? É que a vida é boa
Cada lágrima cai, liberta uma alegria.
Mas também choro por coisa atoa
Saudade, tristeza, dor paixão ou agonia.
Eu sei que choro! Como qualquer pessoa
Pra esquecer, solidão. Por gente vazia
Tem um choro tremido, que meu peito ecoa
Na garganta inquieta, aguda rebeldia!
Utopia é choro. Igual palavra que garoa,
Molha e liberta algema, sonho e fantasia...
Pra cada choro, eu teço, um pecado.
E pra cada pecado, cometo uma poesia.


(Iberê Martí) 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Praças



Povoar
Povo
Ar
Povo(ar)
Povoarte
Povo
Ar
Te
Povo ar te
Povo Arte
Arte é povo...
Ar é povo
Ar novo é povo


(A velha
Estrutura
Oxida)

Povoar...
Respira?
Transpira?

Pô, voar!!!


(Iberê Martí)

Vida



Tu, tão breve!
Leve. Um mais
surto fulminante.
Parte ao meio...
O sono amigo?
Tranquila, repousa.
E pousa noutra,
Nova primavera.
Que está via é,
por demais curta

- pra tristeza pequena!

(Iberê Martí) 

Simplicidade



Não se compra, na esquina!
Nem se troca; é sem valor.
Quem pouco precisa, é rico.
Nosso saldo final, é o amor.

A gente se encontra na feira
na rua, na lua, banco de praça
Quem sem, vive só, sozinho!
Privilegio vem, e é de graça.

Se tem muito, nada divulga.
Pouco fala, nem necessita
Ato é palavra, pisa descalço
Oh, vida bela, simples e bonita

Não desejar mais, que se precisa!
Trilhar caminho de humildade.
Plantar flores; cativar um ninho.

Amigos do peito, isto é felicidade!


(Iberê Martí)

Devaneio



Vamos (des)cobrir,
A magia de meu povo.
Vamos ajuntar voz,
de brasileiros
(E recitar cheio orgulho!)
Vamos sonhar um, dois três...
Sonho grande!
E revelar pro mundo
inteiro... a nossa
ImagiNação!
Que nesta terra tem,
Pandeiro
Terreiro
E Conhecimento...
Aqui é fonte de vitalidade
e vai brotar gente rebelde,
- pra todo canto que se olhe -
criatividade e fantasia!
Não vamos pedir alforria
Nem leis de compensação.
Vamos juntos é pra escola
construir a nossa Vocação!



(Iberê Martí) 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Por um mundo



Com menos malas e mais mochilões
Com menos formigas e mais cigarras
Com menos gritarias e mais guitarras
Com menos lamentos e mais violões

Com menos preconceito e mais tesão
Com menos caretice e mais alegria
Com menos babaquice e mais poesia
Com menos tolice e mais compreensão 

Com menos cabeça e mais coração
Com menos teorias e mais estórias
Com menos nostalgia e mais memória
Com menos "não" e mais "por que não?"


(Stéphano Diniz)