segunda-feira, 28 de outubro de 2013

AMIZADE


É simplicidade da fala,
É o carinho do colo,
É a sinceridade dos olhos,
É o amor sem migalhas.

Os anos se passam,
O corpo muda,
A mente se perde,
E, por vezes, se acha.

Mas há quem decida,
Não te deixar na caminhada,
Esse alguém se chama amigo,
Mas não se resume a essa palavra.

A amizade ultrapassa a poesia,
Não se decifra em códigos,
Não tem padrão de medida,
Não se resume a nada.

É amor decidido,
Constantemente renovado,
Sem ao menos haver um pedido,
Ou um contrato assinado.


(JOANA CAJAZEIRO)

CRISE EXISTENCIAL


O mundo é por demais barulhento...
Carros, buzinas, helicópteros, sirenes, 
ambulâncias, ônibus, telefone, ventilador, 
ar condicionado, celulares, teclas de computador, 
motores, pessoas,fotos, vídeos, fatos, notícias, 
crimes, violência, estupros, guerras, fome, doenças,...

Pra quê tanta matéria?
Miséria interior...
Pra quê tanta roupa?
O corpo é um só...
Pra quê tanta foto?
Os amigos são os mesmos...
Pra quê tanto luxo?
O prazer é igual....
Pra quê tanto, se te falta o essencial?


Questão interna,
Vazio em alma,
Redescoberta do ser,
Neblina social,
Ofuscar dos olhos,
Apagar da mente,
Reprodução de padrões,
Perda do que é real.

Os sonhos antes bonitos,
Se tornam materiais,
Não se vê almas,
Vê-se a parafernália social,
Balburdia interior,
Clama por ressignificação,
Retorno à vida interior,
Simples em material,
Completa em pessoas.


(JOANA CAJAZEIRO)

sábado, 26 de outubro de 2013

SOB CONTROLE


Minha loucura é racional,
Minha metamorfose é controlada.

Não me nego nenhum desejo,
Não me paraliso pelo medo,
Não aprendo com o passado,
Provo, arrisco, risco e erro.

Permito-me a minha máxima liberdade,
Até que a liberdade se torne minha prisão.

Sou poesia inacabada,
Sou criada e recriada,
Fruto do eu, meu mundo
Fruto dos outros, meus espelhos.

(JOANA CAJAZEIRO)

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Poetas da descoberta


O menino caminhava no fundo do oceano
Lá onde a luz não se encontra
Abrigo da escuridão e dos sedimentos milenares
O menino vasculhava restos do passado no mar
Foi andando adiante, fronte a produtos químicos
Inanimados, em um passado antigo e remoto
Onde Máquinas e biomoléculas formavam membranas
Células se compunham com êxito, e comungavam
Por algum fio existencial desconhecido
O menino desenhava complexidades
Auto-organizadas a produzir proteínas
E a vida trabalhava sem descanso
Construindo cálculos de probabilidades zero
Modelando as possibilidades do acaso e o que é nulo
O menino era guiado pela possibilidade
A possibilidade fazia o menino descobrir
Descobriu tanto e chegou a fundir sua cuca em poesia
E resolveu imaginar, este mundo foi feito por poetas
Pois o mistério, o enigma e a esfinge não servem aos céticos
E suas certezas ...
A linha tênue da enteléquia, fez o menino transmutar,
a Ciência em Poesia. Os cientistas poetas do horizonte
E das descobertas. Não podem carregar o medo de errar
Render ao sopro desejo de se entregar, e ao suspiro dos olhos
abrir!


(José Tamuya)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Matéria Viva


Todo vez que enxergo
o Mundo,
de dentro
Tapo os olhos
Recuso assistir
Montanhas que se modelam
Intempéries do Tempo
Água que não se contém
em forma alguma
Forma algo novo
Renova
És Matéria Viva

As batalhas perdidas
Por insetos, predadores e vigoras
O sol que irradia
A lua e a poesia
Tudo contempla
Complementa
Algo que falta
Reorganiza
(re)forma
Dissipa e aglutina
Gira mundo
És Matéria Viva

Travessia e horizonte
Caminho e sabedoria
Em silêncio sinto,
veias salgadas a pulsar por meu corpo
Herança do mar
E seus elementos
(O sódio, o potássio e o cálcio)
O ócio da era Cambriana
Latentes artérias
Pulsam contra a gravidade
Impulsionam
És Matéria Viva

Luta eterna
Chama, fogo e calor
Ar oxigena
(respirar por agora)
Transpiro
Pelos pés
“esponja venosa”
Salto em outro
paraíso
Perdido de mim mesmo, parado
Varizes me cerceiam
Matéria morta...

Em plena vida!


(José Tamuya)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

ME DÊ DESCANSO


Não digo nada,
não penso nada,
não sinto nada,
não há tempo...
Sou consumida para produzir
para que eu consuma,
para que os outros consumam,
 infindavelmente até a natureza acabar.

Produção de matéria,
extinção de vida,
reprodução interminável,
de tudo que não tem valor.

Era do descartável.
Descartam-se produtos,
descartam-se pessoas,
descartam-se sentimentos.

O amor é clichê,
eu sou clichê,
a vida é clichê,
ser não importa mais.

Só preciso de tempo,
de um descanso,
nesse mundo impiedoso,
com quem deseja viver mais do que ter.


(JOANA CAJAZEIRO)

Quando tudo passar


Quando tudo passar
E a gente avistar o sorrir
Alegria voltar
E o campo florir
Tudo que enfrentar
Tudo que sofri
Seja o quanto sonhar
Vida maior vou sentir
Beleza que há
Vou então descobrir
A maldade do mundo
Mesmo assim amanhecerei ao seu lado

Quando tudo passar
A gente voltar a cantar
Pássaro que brilhar
Borboleta seguir
A retidão de seus conceitos
Prova de suas palavras
Amargo gosto,
Pros incautos
Tudo será
Tudo permitir
Vamos encontrar, vamos resistir
E mesmo assim não direi tudo que compõe meu silêncio

Quando tudo passar
O mundo girar
Eu aprender a lutar
Por este velho caminhar
Por entre brasa e varjão
Meu coração vai saltar
Boca de outro coração
Tudo que ficará
Lembrança e vastidão
O calor de meu lar
Entardecer com o calor do sertão
Mesmo assim não sentirei tudo que poderia

Quanto tudo passar
Quando está febre baixar
Enfermidades, e a gente juntar
Os cacos pelo chão
Remontar as forças
Orgulho e solidão
Homem quando chora
Estremece, ilumina escuridão
E aprender a cantar
Uma nova canção
Este frio cessar, minhas veias abertas
E mesmo assim não agradecerei por tudo como deveria

Quando tudo passar
Vou reencontrar
Destino em algum lugar
A Vida terá um norte
Um caminho
Um sentido,
É um sentimento, único
O que será?
Amanhã voltará
O tempo, meus passos
Seus passos ao teu lugar
Mesmo assim suas pegadas serão eternas

Quando tudo passar
A semente germinar
O legume plantar
Sua aurora, nas curvas do rio Tapirapé
Há encantar
A janela de nosso lar
Eu aprender a falar
Falar de paixão
Inflama a garganta este triste
Ascender coração
Enquanto tudo passará, um dia
Eu só sei fazer poesia

Quando tudo passar ...


(Iberê Martí)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Oração do Viajante


Que o conforto de nossas casas não cortem as nossas asas
E que sejamos livres pra voar
Que a nossa poesia seja musicada, mas nunca ultrapassada
E que sejamos livres pra amar
Que o primeiro raio do sol nascente nos ilumine e nos oriente
E que sejamos livres pra voar
Que fique a boa saudade, mas não a nostalgia que invade
E que sejamos livres pra sonhar  
Que as nossas pernas cansadas não parem suas passadas
E sejamos livres pra caminhar
Que nossa mochila nas costas contenham nossas respostas
E sejamos livres pra questionar
E quando não restar mais nada, que eu continue na estrada
E que sejamos livres pra viajar

(Stéphano Diniz)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Pedida


Pediria da Vida
Nem menos, tampouco mais
Talvez caminhe em liberdade
Algum dia, o trilho
O trem que atravessa destino
Declama-se sorte, ávido
Como um aviso inesperado
- de boa noite, sinal de fumaça -
E o mundo continua à girar!

(Iberê Martí)

Outro dia qualquer


Buscarei explicações
mesmo remotas
Frases... em fases
Ardendo por dentro
A chama eterno do tempo
- corrói como ácido -
O lodo enodado
E vossos crepúsculos
Este sol que arde o dia
Inflama o asfalto
Grades, janelas, carros
Máquina viva engendrando
Movendo as engrenagens dos homens
Que consome auroras
Com fumaça, cinza e óleo diesel
Não lamento um instante
A oportunidade vencida
A guerra perdida
O clamor duvidoso
Ouça o canto da serpente
Aprisionada em seu labirinto
Solitária vida...
Guia, guerreira de vênus
Ou marte
No céu as estrelas
Improvisam luz ao espaço,
Passado
Metamorfoseiam borboletas
Nos hangares da boêmia
Arrotam soluços
Pombas leves mensageiras
É a gripe encontrou um remédio
Comprovado moralmente
Estes discípulos impuros
Correm da criação
Na parede o relógio
Enferrujado, já não
Serve
Virou lembrança, algoz
Desperdício, incômodo é
Esquecer as palavras,
Garganta a fora
Veladas pelo silêncio
Da noite e seus
Fantasmas!


(Iberê Martí)

A um pássaro da liberdade


Meu pescoço não respira...
O vento inventado
o ar me tira...
Meu rosto no espelho
Eu acho tão engraçado
Quem é agora
Um boneco fantasiado?

O bem-te-vi, na arapuca, caiu
Trocou o voo pelos grãos que conseguiu
O bem-te-vi, na arapuca, caiu
Trocou a liberdade pelo comodismo que pediu

A pele se repele em alergia
Roupa de festa
No dia-a-dia
Minha consciência testa
A minha mentira...
Quem caiu do cavalo
Em plena montaria?

O sabiá perdeu o equilíbrio
Trocou o galho pelo concreto do edifício
O sabiá perdeu o equilíbrio
Trocou toda uma vida por falsos princípios

Na boca, um gosto vazio
A minha voz entalada
Nenhum canto, nenhum pio...
Já não vivo estrada
Em meu caminho, não assobio
Quem cala consente
Perde a voz devido ao frio...

O pardal foi atingido, engaiolado
Trocou o ninho por um nó apertado
O pardal foi atingido, engaiolado
Trocou sua natureza por poucos metros quadrados


(Lucas Amancio)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Improviso de meus olhos


Meu sorriso voltou
Pois a vida não findou
Meu sorriso voltou
Porque a guerra terminou
Meu sorriso voltou
Pra um lugar aonde vou
Meu sorriso voltou
Pra descobri o rock n’roll
Meu sorriso voltou
Pra encantar o que acabou
Meu sorriso voltou
Pra enfeitar a velha dor
Meu sorriso voltou
Pois a semente germinou
Meu sorriso voltou
A planta que brotou
Meu sorriso voltou
Pro silêncio que calou
Meu sorriso voltou
Pra terra que me marcou
Meu sorriso voltou
Pra brisa que encantou
Meu sorriso voltou
Com a esperança que chegou
Meu sorriso voltou
Pra quem perdeu e ganhou
Meu sorriso voltou
Pro leito de quem sonhou
Meu sorriso voltou
Pro sonho que acalentou
Meu sorriso voltou
Pra flor que desbravou
Meu sorriso voltou
Pros versos de quem rimou
Meu sorriso voltou
Pra donde o peito apontou
Meu sorriso voltou
Viu os olhos do arco-íris...

Meu sorriso voltou
Pra encontrar me perdido
Meu sorriso iluminou
Ele não sobrevive sem,
Eu – dentro dele!


(Iberê Martí)