Das
dores milhares de mil, qual é menos dolorida?
Uma
capsula atravessando a cabeça doce
Uma
dose de cicuta agarrada na garganta
Uma
foice que lança o pescoço ao alto
A
indiferença fria de uma amor bucólico
A
cirrose lenta devastando o fígado cansado
A
guilhotina pelo pão roubado as crianças
Um
passo em falso em um campo minado
O
avião arredio que arrebata para o chão
A
vingança sem escolha de um crime comprado
Uma
picareta esfacelando o cérebro em pedaços
O
carro capotado na insônia da noite
A
faca traiçoeira de uma amante esquecida
O
dedo riste e seco da verdade na palavra amiga
A
fome na boca do peito de uma mãe sem leite
Um
projetil desvairado ao céu, sob o peso da gravidade
O
atropelamento em uma rodovia abandonada
Um
câncer absurdo espalhado até a alma
A
pneumonia de uma tosse silenciosa e eterna
A
inocência leiga de uma bala perdida, que lhe encontra
Uma
bomba atômica no formato de rosa
Uma
cobra peçonhenta degenerando células
Anti
depressivo corroendo os músculos
A
fumaça ácida empobrecendo os pulmões
A
ilusão radioativa debruçada no analógico virtual
Um
copo de leite com soda, talvez três quilos de couve
Ou
uma vida inteira dedicada a compreender um mundo,
[que nunca se
reformará]
(Iberê
Martí)
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