quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Cumplicidade




Ela tinha pele macia
Feito verso e poesia
Vivia retocada,
borrada de batom...
E era muito perfumada
Igual flor na alvorada
Desabrochava encantos
ave e tinha asas...



Ele era um cascudo
Mal vestido e cabeludo
Falava grosso,
pouco dizia..
E tinha no suor o odor
Seu é negro de valor
As dificuldades da vida,
labuta e lida...



Ela era intrigante
Forte, alta e falante
Como quem sabe,
o quer....
E tinha tantos poderes
Dominava os outros seres
Tinha dinheiro e pão
fartura farta, na mão...



Ele não tinha dinheiro
Era filho de posseiro
Tinha suor e calos,
nas mãos...
E não sabia de maldade
Era maior que há idade
Aparentava rude,
dócil leão...



Ela moça da cidade
Disposta a caridade
Tinha nos olhos,
Compaixão...
E falava em carestia
Mas depois que a luz do dia
ia ter com seus burgueses,
“papel” e alucinação...



Ele não compreendia
Como pode heresia
O homem com tanta terra
viver sem chão...
E odiava os governantes
A caridade dos mandantes
E também os seus filhos,
e o sorriso Dela...



Ela era importante
Subia em alto-falante
Mandava mensagens,
gritos de guerra...
E tinha planos seguros
Só falava no futuro
Acreditava cega,
em panaceias...



Ele era surrealista
Parecia um autista
Derrubava muros
e ilusões...
E também era mateiro
(Amor não compra dinheiro)
Sabia cozinhar,
plantar feijão...



Ela era ambiciosa
Linda, bela e formosa
Conquistava os heróis,
tinha a sua adoração...
E por algum destempero
Viu o filho do posseiro
desdenhar seu nobre,
Coração...



Ele pobre e tinha orgulho
Não gostava de barulho
Preferia andar só,
era só reflexão...
E no entanto era rico
Pois quando abria o bico
Silencia a soberba
presunçosos, arrogantes...



Ela era tão miúda
Sorrateira, tão aguda
Não enxergava,
um palmo à mão...
E prometia pro filho do posseiro
- venha ser meu fazendeiro
Que eu lhe doou,
meu coração...


Ele ficará em chamas
Já passou por tantas camas
Uma mais ou outra dama,
há motivo? Qual a razão...?
E não gostava das atrizes
Dê preferência as meretrizes
Que trabalho árduo,
honesto pão....



Ela viu seu relutante
Convidou para amante
Pensando que assim teria,
dele escravidão...
E ela era tão formosa
Articulada e meticulosa
Que Ele aceitou,
submeteu a ilusão...



Ele que não gostava de dinheiro
Agora era fazendeiro
Tinha herança,
vocação...
E mal sabia o que queria
Bom ator Ele fingia
Falsa alegria,
e devoção...



Ela era traiçoeira
Tinha ar de feiticeira
Mas pouco sabia,
de dedução...
E também era carente
Apesar de sorridente
Caiu no encanto,
na exceção...



Ele era um poeta
Sem planos, destino ou metas
Ensinou cumplicidade,
- aquele pobre coração...
E Ele vasculhou o mundo
Doou a Ela cada segundo
Viveu de amor,
e de paixão....


Ela alimentou a fantasia
De apresenta-lo um dia
construir um família,
e também sua mansão...
O pai dela era tinhoso
Ficou muito furioso
Falou grosso [com Ela]
Abolindo a relação...



Ele era um eremita
Assistindo a moça aflita
Convidou ela pra fugir,
um amor de retireiro...
E avisou que não possui dinheiro
Mas que era filho de posseiro
Poderiam passar necessidades,
mas fome, não...



Ela estava apaixonada
Topou cair na estrada
e abandonar conforto,
o seu Milhão....
E chorou de alegria
As lagrimas que escorriam
Eram puras,
Admiração...



Eles seguiram o Caminho
Foram construir seu ninho
Bem distantes
da prisão...
E partiram da cidade
Compartilharam lealdade
Para viver e cultivar,
Imensidão....

Ele filho, sem posse, de posseiro
Ela de nobre fazendeiro
E os dois, uma só
Visão...
Ela doce rebeldia
Ele sonho e fantasia
E os dois respiram,
Está Canção...!!!


(Iberê Martí)

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