sábado, 14 de setembro de 2013

Cerrado Aflora


Sinta o conforto da savana tortuosa
Tem tanta vida que nem posso recordar
Viajo sempre no meu tempo de menino
Cato feto peregrino, feito verso e trova

Faz tanto tempo aquele pé de Embaúba
Chiclete de Macaúba, Murici, Caju Cajá
Se a Mirindiba é árvore da caçada
Minha canoa virada, é casca de Jatobá

Queimar a língua no espinho do Pequi
A Copaíba é rasteira que se dá
A sebereba da carne do Buriti,
Tem de tudo por aqui, tem palmeira Inajá

Se ainda lembro a Cagaita é azeda
Bicho da seda traça palha Piaçava
Não quero agora lamentar a embira
No gole de Sucupira, embeber o Ingá

Se hoje canto, pro meu espanto
Ouvir o canto do perdiz, do sabiá
Tem tatu peba, tatu canastra
Bicho-preguiça na unha tamanduá
Os dispersores, nossos senhores
Veja a lobeira fruto do lobo-guará
É a rebeldia, e a poesia
Por esses solos de tão baixo PH
É a forma torta, que não se importa
Com a retidão deste lúdico rudimentar

Veja se pode a fisiologia do cerrado
Piromania é tradição milenar
Adaptando as reservas de tanino
No bulbo do nordestino, tem doce Maracujá

O Marmelo carrega o sabor do mistério
Tapiocanga fez o Cacto aglomerar
Se fica roxo enche o encanto do rosto
Cega-machado é critério, pra vida selecionar

O PH deste solo contamina
Vendo a beleza na secura que sé há
Não tem tristeza e o Baru tem cumarina,
Brilha os olhos da menina, a flor do Jacarandá

Se faz as unhas com a folha de Lixeira
Relva molhada é Sangra-d’água a chorar
Que me atrai é o cheiro da Lobeira
Veja a moça vermelha, Urucum condimentar

.....

Carobinha depurativo do sertão
Chapéu-de-couro para cuca refrescar
Meu Coração-de-negro é um pé Barbatimão
Delicado Cansanção, faz a pele irritar

Escorre água pelos olhos de Macela
Tanta Bacaba para o espaço abraçar
Algodãozinho que a vista da Favela,
Meiga doce Mama-cadela, Dormideira e o Chichá

O Angelim ouvindo o som da Pindaíba
A Aroeira no solo do Gravatá
A Gameleira, o Pau-de-sebo, Urtiga
Carqueja causando intriga, e o Timbó para pescar

O Carvoeiro é imagem das estradas
O Jenipapo quis a índia enfeitar
Araticum é o fruto da amada, Tamboril a morada,
É um gole de Catuaba, para o sonho amargar

....

O Guatambu fez um arco no peito
Pó-de-mico bem feito para o Breu se coçar
Enquanto isso Paratudo fica, Sombreiro sobra
O Mureré ou Aguapé sob a água a flutuar

No alagado cresce o pé de Guanandi
Bacupari fez o Vinhático azedar
E a Peroba passou na cara Apui
Criou fruto Tapiriri, pra bicharada encantar

A Mandioqueira folha forma dedaleira
Essência de Cedro para moça perfumar
A Gabiroba colocou o pé na cova
Braúna e Olho-de-cabra, é o Guaco pra dilatar

O Assa-peixe convidou o Cafezinho
Tingui fez brinco pra orelha enfeitar
O Pombeiro fez da Ucuuba poleiro
Poejo, Saboneteira, e amigo Araça
...
O Marinheiro também fabrica extinção
Buscar Arnica no campo sem encontrar
Velame-branco, Alecrim, Sete-sangria
Vai perder sabedoria, Piuvá pra resgatar?

A Mangaba tem o leite da Moringa
Alfavaca, Cachimbeira pra pitar
O Chá-de-frade que a gripe alivia
No meio da cantoria, tem o pé de Manaca

A Candeia produz óleo que ilumina
Pimenta-de-macaco para vida esquentar
Tem a Canela, Massaranduba e o Joá
A Pindaíba, e o coco do Gerivá

Araruta confessou pro Fedegoso
Fica cheiroso ouvindo o som da Mutamba
O Ipê-roxo, o Pacari, e a Quina
O Marolo contamina, com seu sabor peculiar

Se hoje canto, pro meu espanto
Ouvir o canto do perdiz, do sabiá
Tem tatu peba, tatu canastra
Bicho-preguiça na unha tamanduá
Os dispersores, nossos senhores
Veja a lobeira fruto do lobo-guará
É a rebeldia, e a poesia
Por esses solos de tão baixo PH
É a forma torta, que não se importa
Com a retidão deste lúdico rudimentar

(Iberê Martí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário