quinta-feira, 15 de março de 2012




Por Mário Paulo A. Hennrichs

Sentado numa mesa de plástico cercado de pessoas que não me conhecem, meu olhar cruza com um rosto conhecido. Além dessas pessoas e da conversa, que na verdade é um monólogo, meu corpo se torna um boneco, enquanto vejo um morro verde começar a se esconder atrás de um prédio, que tijolo a tijolo se torna a nova paisagem. Dentro de uma cabeça confusa  borbulham, crescem, evoluem e morrem- simultaneamente sentimentos e pensamentos. É um prazer totalmente novo descobrir que eu posso ser a fonte de tamanha inquietação.
            Me sinto burro e com um principio de cegueira ao perceber que paisagens das quais não usufrui o bastante estão sumindo atrás de prédios, paredes e outdoors. Ao mesmo tempo, encontrar uma janela nessas paredes, olhar o que existe depois de uma curva, que a alguns dias era simplesmente mais uma curva, alimenta diariamente uma curiosidade que é totalmente recente. Uma musica embalou o inicio de nova sede:

O VIAJANTE (Forfun)

É, o tempo é uma coisa relativa
Se hoje fosse ontem, amanhã seria hoje

De qualquer forma eu to tranquilo
Do jeito que tá que tá bom
Como dizia o síndico
Vai saber o que o gorila pensa

Pedi minhas contas, viajei e caí no mundão
Vou ver o mundo tendo o mundo como anfitrião

Florestas, rios, cidades e litorais
Pessoas, sentimentos, tradições e rituais
Colocarei meus pés em trilhas, pedras, manguezais
Fazendo o elo entre meus filhos e meus ancestrais
Serei sincero com o meu verdadeiro ser

Quero servir, quero ensinar, eu vim pra aprender

Me sinto em casa em qualquer lugar
Mas sou turista em todos
Sou viajante em qualquer lugar
Sou uma parte do todo

Num sonho eu era como o vento e podia voar

Voei pra ver as maravilhas de cada lugar
Dancei com os índios, mergulhei entre os corais
Troquei idéia com um coroa que era demais
Vi dreadlocks e confetes bailando no ar
E três amigas se abraçavam de se transbordar

Agradecido, aplaudi o pôr-do-sol
Por onde for terei seu fogo como o meu farol

...

Ê mundão, seu filho venceu o breu
Unifiquei meu corpo ao teu
E já não existe mais "eu"

              
               A maior de todas as descobertas foi a maior das motivações também. Lendo “On the Road” (Jack Keruac), eu tive vontade de pegar minha mochila e deixar tudo pra trás, viver a vida intensamente, aproveitar cada milímetro cúbico de ar- que carrega consigo um aroma diferente. Aproveitar o sabor da água do mundo inteiro.
               Mas não posso simplesmente juntar meus trapos e cair no mundo. O que posso é juntar minhas ideias e viajar pelo mundo. Minha mente proporciona a maior de todas as viagens, em um só dia consigo estar junto com Sal Paradise a Terry e o pequeno Johny colhendo algodão. Consigo passar pela verde planície do Condado, tomar um bom vinho com Hemingway passeando pela França. A ação deixo pra Mario Puzzo e seu poderoso chefão.
               Tem tanto ainda que não conheço, tanto que preciso rever. Uma vida só talvez não seja suficiente pra ver tudo, por isso preciso me apressar. Vou lendo pra me preparar, estudando pra garantir a partida, e imaginando pra alimentar a necessidade de pensar que parece me corroer.
               Empolgante. Só a assim pra definir o que eu espero pra amanhã. Com certeza alguma coisa vai acontecer, sempre acontece. Entre levantar e deitar tem espaço bastante pra fazer o mundo girar um milhão de vezes sob os meus pés, eu quero aproveitar cada centímetro dessa caminhada. É só prestar um pouco de atenção pra não perder nenhum detalhe. Ter um pouco de medo pra não perder a coragem. Um pouco de força pra não perder o animo e muita paciência pra não perder a razão.
               Espero poder dividir essa caminhada de uma mente viajante com muita gente, espero também e meus passos passados sirvam de lição e exemplo  pros meus passos futuros. Aprenderei a caminhar, e quando aprender, eu vou ensinar, então a estrada nunca morrerá.

Um comentário:

  1. esse ai eu escrevi quando o predio do RU tava sendo construido la em Lavras. Depois dele nao dava mais pra ver o morro que tem a araucaria solitaria, era uma boa vista pra tomar um cafe na cantina. Agora a vista do cafe é propaganda de festa, cartaz de vende-se e predio( ru e pavilhao de aula), essa UFLA ta mudada, diria ate inchada.

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