domingo, 3 de março de 2013



Poderia na vida tudo sim. Mas onde guardaria a necessidade do não? Poderia tudo na vida perfeito. É qual desafio teria menor graça? Poderia na vida tudo anedota em monotonia.  Mas quem seria o artista criador do improviso? Poderia tudo na vida sabor. Mas onde jogar a culinária mística do conhecimento. Poderia na vida tudo saber. Mas onde engajaria a mistura no tesão da descoberta? Poderia tudo na vida quadrado. Mas quantas mãos sangrariam nos ângulos dos círculos? Poderia na vida tudo pureza. Mas quantos percalços no magistral inconsciente? Poderia tudo na vida reluzente. Mas haveria notoriedade no brilho das estrelas? Poderia na vida tudo transparente. Mas qual fim temeroso teria a excitação imersa na escuridão das surpresas? Poderia tudo na vida em asas. Mas que função para os pés que insistem em permanecer fixos há gravidade do chão? Poderia na vida tudo simétrico. Mas que faria com o tempo vago a apontar imperfeições? Poderia tudo na vida (apenas e simplesmente) bela. Mas onde se esconderia a sutileza da alma mais linda? Poderia na vida tudo sol. Mas onde haveria a peripécia na doçura molhada da chuva? Poderia tudo na vida mel. Mas que valor atribuiria às abelhas? Poderia na vida tudo constante. Mas onde arremessaria o delicioso prazer contido nas encruzilhadas. Poderia tudo na vida honesto. Mas onde abraçaria a malícia (magrela) do astuto? Poderia na vida tudo paz. Mas quem enfrentaria o desconforto da guerra? Poderia tudo na vida franco. Mas onde caberia o néctar dos mistérios? Poderia na vida tudo reto. Mas onde encontraria abrigo à tristeza nas tortuosas árvores do cerrado? Poderia tudo na vida magnifico. Mas onde o invisível teria sentido? Poderia na vida tudo flores. Mas o que aconteceria com a proteção dos espinhos? Poderia tudo na vida céu. Mas para qual serventia na secura da terra? Poderia na vida tudo sorrisos. É não há por que esconder a alegria. Que em conta gotas (dia a dia), segue a refazenda de nossas metamorfoses, que perambulam como ambulantes (formigas e cigarras); gritando para o espaço, o poeta e o palhaço: a vida só é completa assim (nesse jogo entre o bem e o mal). Entre o sobreviver e o viver. Indo e vindo de algum lugar para lugar algum. Mais adiante (bem distante) de todos os sonhos e utopias que o Universo das Ideias já conseguiu formular.  Pois num é que poderia tudo na vida cíclico, periódico. Para que em cada final (em festejos o espírito), desperte para outro renascer, para o norte de novos desafios, possibilidades e caminhos. Há quem veja tudo na vida em um eterno caminhar: inconstante, imprevisível e imperfeito. E surpreendentemente Mágica as sublimes marés que levam carregam (em suas gigantescas ondas), o nosso destino!

(Iberê Martí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário