terça-feira, 26 de março de 2013


        Passatempo



Críticas relapsas a embalsamar minhas palavras
Ah, a Palavra. Esse pergaminho sem mar (feita de couro marcado).
Palavras, a Palavra um ser inútil: incompleta e abstrata.
Nem em frases eu me digo, me conto. Nem os livros me completam.
As escrituras me desentendem, completamente.
Sou uma falta completa de complementos: e Palavra.
Frias palavras. Arremessando frias palavras, as Bocas.
Às vezes me engulo (em sílabas e consonantes), quase sempre.
Sozinho. Ponto. Sem virgula... sem infinitos.
Inutilmente me perco na Poesia. Os poetas estão mortos
[revirando no lixo das palavras: suas mordaças, nossas mortalhas]
Será que nasci em tempo errado? Passatempo. Passe o tempo da navalha.
Renascença de minha aflição: Guilhotina e Palavra.
Quero/tenho a dizer muito pouco, quase sempre Nada.
Nada me engrandece. Sou apenas uma Palavra, sem palavras.
É inóspito o (re)descobrir. Sou inútil e inóspito - fruto do mundo!
Vaqueiro sem boiada, Guerreiro sem causa, Estudante descrente
[Amante sem amor, Pétala sem flor, Manco sem muletas...]
Invento teorias e ideias...  Ideologias sem princípios, Ideia.
Ah, as Ideias... Universo das ideias. Não as vejo por hora, ou nunca.
Desisto facilmente do que não vale a pena...
Que vale mesmo a pena? Ainda não me (re)encontrei,
Neste corpo, neste orgânico, nesta moleira, nesta vida:
Fossa transtornos e Coisas, e/ou um Torneio.
Torneiro. Mas, nesta trincheira: Valo, Nada!

(Iberê Martí)

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