quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Calos calados


Estes calos que minhas mãos comportam
Mal cabem nos calos de meu ventre,
São seus os olhos; enxergam meus calos?
São tantos os calos, calas
- calada à caminhar.
Por um trilho calejado
Cansado o peito, Só
Transborda em qualquer direção.

Nunca tive dom pra cético
Andei desprovida de certezas.
A vida sempre pediu algo mais
Implorei certas vezes aconchego
(Com medo de calada caminhar.)
Só, caminhar...
Por um horizonte de descobertas.
Os calados que constroem de tudo
- que se doam e se doem -
Mal (re)conhecem eles seus calos,
Poucos ouvem o silêncio dos calos
E caminham... calejados do caminhar.


Eu caminho desprovida de armaduras
Acredito nesta armadilha,
Quantas minas escondidas por estas terras?
(De água e de fogo; de vida e de morte; de pão e de fome!)
É sobre o perigo que caminhamos
Pisando nos calos do mundo.
Os calos das pedras, os calos das aves, os calos das árvores,
Calos da terra que machucam e que margeiam
(Ferida viva, vira casca grossa.)

Em silêncio escuto a pedra a cair no fundo do poço,
Nas batidas do meu coração que ponteia
(des)compassado
E sinto o cheiro das flores que plantei e
Me rodeiam. Cercadas de calas.
E ouço baixinho, o resmungar esperançoso
O soluço de todos os castros.


(Maria de Fadas)

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