quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Menino do Interior


 

Uma vez eu fui menino,

E sonhei com liberdade

Hoje só resta saudade,

do menino que sonhou

Peixe de cidade grande,

A canoa que virou,

Na curva do rio e disse...

Adeus sonho? menino de interior

 

Uma vez eu fui menino

Corri descalço pelo agreste

Lutava com onça, barriga d’água

Fazia banzeiro com a peste

E seguia com muita alegria,

Os pés no chão, cabeça no vento

Hoje só tenho cimento,

Qual sonho que restou? menino do interior

 

Uma vez eu fui menino

E meus sonhos foram crescendo

Usar cueca, vestir os pés

Tomar vermífugo, usar terno

Que o destino pro inferno

O menino foi morrendo, e corria

Pra ser o primeiro um dia

Quem chegou? Menino do interior

 

Uma vez eu fui menino

Capitão, cabra sem rumo

Nem por mil amores aprumo

Teus olhares são navalhas,

As línguas que cortam o vento

Bruxas, e anjos da noite

Nossos caminhos de ciganos

Soberano que ficou? Menino do interior
 
(Iberê Martí)

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