Uma vez eu fui menino,
E sonhei com liberdade
Hoje só resta saudade,
do menino que sonhou
Peixe de cidade grande,
A canoa que virou,
Na curva do rio e disse...
Adeus sonho? menino de interior
Uma vez eu fui menino
Corri descalço pelo agreste
Lutava com onça, barriga d’água
Fazia banzeiro com a peste
E seguia com muita alegria,
Os pés no chão, cabeça no vento
Hoje só tenho cimento,
Qual sonho que restou? menino do interior
Uma vez eu fui menino
E meus sonhos foram crescendo
Usar cueca, vestir os pés
Tomar vermífugo, usar terno
Que o destino pro inferno
O menino foi morrendo, e corria
Pra ser o primeiro um dia
Quem chegou? Menino do interior
Uma vez eu fui menino
Capitão, cabra sem rumo
Nem por mil amores aprumo
Teus olhares são navalhas,
As línguas que cortam o vento
Bruxas, e anjos da noite
Nossos caminhos de ciganos
Soberano que ficou? Menino do interior
(Iberê Martí)
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