segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Casamento da Viúva


Já faz algum tempo que eu fugi de casa
Larguei tudo, tudo o que eu não tinha
Só pra ver de onde o vento vinha
Me aquecer do frio do vento, na brasa
Ou numa fogueira feita com palha
Agora não tenho nada, não tenho família
Deixei meu dinheiro, o conforto, a mobília
Trouxe comigo a minha velha navalha
Talvez para preparar um cigarro de palha
Ou se precisar, na fome, para ir a caça
Dizem que eu estava fugindo de mim
Não importa pra onde, não importa o fim
A gente está sempre indo pra casa

Mas eu ainda estava preso dentro de mim
Libertado, estava preso em minha liberdade
Larguei a mentira, mas não vi a verdade
Cheguei aqui, por que foi tudo assim
Pra saciar minha fome, até roubei pão
Pra saciar minha alma, até fui pra capela
Pra saciar o mundo, me prenderam num porão
Agora estou aqui, bem perto do fim
Falando contigo, que aliás nem existe
Vendo o quanto o meu corpo resiste
Pois preso ainda estou, dentro de mim

Invariavelmente, todo mundo vai morrer
Talvez eu merecesse melhor sorte
O imperador já decretou minha morte
Amanhã, logo após o amanhecer
Ainda sou muito jovem para morrer
Minha cabeça pendendo de lado
Não estou pronto, nem preparado
O povo vai a praça só pra me ver
Do crime ainda eu posso recorrer
Mas não vou apenas adiar meu destino
Pois todos, do mais velho ao mais menino
Invariavelmente, todo mundo vai morrer


(Stéphano Diniz) 

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