Ontem fui ao melhor show da minha vida. Certo é que não presenciei tantos, mas mesmo se for o último estará satisfeito. Um desses raros momentos, em que o “fato concreto”, intimida a insignificância de qualquer expectativa. Ando meio destinado ultimamente. Foi o destino de um óculos, que me presenteou um livro, e gratificou com 104 minutos de arte.
Não
faz tanto tempo, mas a música letrada de Bob vem me ensinando a observar mais
atentamente as respostas do vento. E a oportunidade de assistir, "ao
vivo", um dos únicos que respeito, ainda vivo. Admito que meu gosto
musical andava meio cemitério, como se apenas o passado (que se quer vivi)
fizesse sentido. Como se o tempo “estivesse/acabasse” “involuindo”.
Eis
que surge a oportunidade de conhecer Robert, ali, de perto. Dava certo tudo,
nem o medo das capitais esteve presente nesse dia. A irracionalidade veio ao
pensar, ao observar os “acambistas”, e seus olhares a implorar, literalmente,
por um ingresso a faltar. Veio à loucura, sem ingerir uma única gota de álcool,
imaginei: "Quanto valerá meu ingresso? Quanto posso ganhar?". E
decidi, entre meio os segredos do cerebelo: "nem por um milhão!" Exageros
a parte, têm que existir “coisas” na vida que o dinheiro não compre. Onde há
vida!
E
no meio dessa romaria (cujo Bob sempre se escondeu?), foi invadindo aquele som,
a voz (meio, mais que rouca), se intimidava a presença do Cowboy Coroa. Que sequer razão teria para estar ali: tocando
gaita; teclado; guitarra, hora por música; hora por música e meia, nem sei
"direito" explicar, de tão “atônico” que o público esteve. -Então
esse é o Dylan? E a banda acompanhava aquela disritmia (às vezes por
telepatia), dominada por uma energia maior, que controlava cada movimento; cada
sorriso; cada vibração; cada olhar; cada palma.
Surgiu
logo, nesse maldito pensar (que me inferniza), a lembrança do mundo
musicalmente atual, e os críticos e as críticas: semi-deuses do saber? Meu
amigo, Bob, não está nem ai para elas. Se não faltasse um Raul nesse enredo,
diria: “Destino é a gente quem faz...” Mas vamos viver nosso tempo, se é que
ainda nos permitem.
Os
tempos andam mudando, dizia aquele que de herói sempre fugiu, e que “a história
é quem dá conta, quem inventa”. Ele apenas reproduz (cuspindo no próprio prato?).
A sociedade é fruto de uma construção coletiva. Criador e cicatriz são heranças
do conhecimento comum. Tive medo do meu tempo, a música anda globalizada;
aculturada, andam difundindo ilusão? Mas não me pretendo instrutor, cada
caminho segue o seu. Quem é livre não condena. Não reverência mitos (“criados”
por alguns “Idiot Wind”?). Admira sim o Ser, e a melodia que continua e
insiste, a “martelar” o telencéfalo: “Like a Rolling Stone...
” !!!
(escrito por Iberê Martí)
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