quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eu queria nascer cego




Eu queria nascer cego
Cego de cegueira nascida e vivida
Inventaria meu mundo em uma praça pequena e simples
Cego de qualquer preconceito de cor
Um inventor de arcos desprovidos de cordas e flechas desnecessárias de pontas
Cego de concessões e ilusões necessitárias
De corações sem paixões materiais e doentias
Cego de qualquer norma ou conduta burocrática
Relutaria a qualquer objeto quadrado ou ângulos fechados
Cego de julgamentos, razões e mandamentos
Respeitador do Ser e as desmedidas diferenças
Cego de consequências, probabilidades ou mentirinhas em doses diárias
Modelaria no pensamento cada faísca indesejada que imaginar
Cego de qualquer visão que me remeta medo
Desconhecer a formas, as explicações e seus fantasmas
Cego a escrevinhar minha história de desambições
Apenas um desavisado a importância em estar no meio
Cego a criar lírios nos cantos dos pássaros
A rabiscar com giz-de-cera no vento o destino de meu tempo
Cego de criação circular, meu universo é minha invenção,
Afogar as mãos na areia e castelos que a água leva, e leve evapora
Queria nascer cego; cego de ego e cego de querer
Se a cegueira faltar, desavisado vou construir meu Luar
Cego de vazios e calafrios, cego de angustias
Sem dogmatismos buscando um fim para instantes que emergem do nada
Cego a viver, e Amar Platonicamente entre conexões interestelares
Enfeitando a Lua e as Estrelas com sonhos e poesia
Cego eu consigo, cego eu concebo o “Déjà vu”,
Desencontro a luz e me perco na existência...
Os Cegos são nossos semelhantes evoluídos e agraciados por deus!

(Iberê Martí)

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